Crônica de A. Capibaribe Neto

Disputa pela maldade

Na noite da Lua sangrenta, mencionei a intenção de procurar um lugar mais afastado para fotografar a Lua diferente... "Tá louco, rapaz! Vai armado?" Caí em mim. Sair por aí, carregando uma câmara profissional para colher imagens que seriam feitas por milhões, além de dificuldade em conseguir um primeiro plano diferente, correria o risco de facilitar uma matéria sobre a violência tão pontual como as preces diárias dos muçulmanos.

Recentemente, visitei um dos países mais perigosos do mundo, onde todo mundo anda armado ostensivamente, e não é uma pistola besta, não. É MK-47, mesmo! Caminhar pelas ruas de Cabul, Mazar El Sharif, Kandahar não se poderia chamar de aventura emocionante ou um prato cheio para quem gosta passeios radicais, perigosos.

Mesmo para quem acredita que perdeu o medo de morrer, a adrenalina é companheira a caminhar de mãos dadas, quase um abraço fatal. Quando um homem-idiota, conhecido como homem-bomba resolve se explodir, mata vinte, trinta, deixa muitos feridos, mas a partir daí, eles dão uma trégua para receber suas virgens prometidas, etc. Aqui, não... Aqui, as mortes não acontecem em nome de uma causa radical, de uma crença religiosa ou o radicalismo que defende uma interpretação de escrituras que até parece não conhecer o significado de amor ao próximo, seja quem for.

Aqui, as mortes acontecem de forma estúpida, em nome de um simples telefone celular, 10, 20, 30 reais e não se grita "Deus é grande" na hora de apertar um gatilho covarde, seja contra um atleta ou uma mãe de família carregando uma criança nos braços.

Aqui, o grito é "perdeu! Perdeu!" e dane-se. Com esse "perdeu", um vagabundo desqualificado ganha a grana para comprar seu "crack" ou par de tênis e não "ralar" durante um mês para ganhar dinheiro e comprá-lo pelas vias normais e civilizadas através de um trabalho, como a maioria.

Lá, um desses homens-imbecis que se explodem já morre na hora. Aqui, não. Matam, riem para as câmeras, insultam os policiais, enlutam famílias que gritam a mesma ladainha cansativa: "eu só quero justiça!" E no dia seguinte só recebem um número que aumenta as estatísticas das mortes violentas por nada ou coisa alguma.

E isso para não falar dos que matam nos rachas, na imprudência do trânsito, na embriaguez do trânsito. Enquanto centenas de famílias, Brasil afora pranteiam seus mortos e reclamam, entre lágrimas, da impunidade, dos assassinos de plantão, os "criminosos unidos, que jamais serão vencidos" e de uma parte podre da Justiça que agora está sendo investigada pela negociação de "habeas corpus" oportunos que se esgueiram pelos becos, nas confortáveis firulas que custam até 150 mil reais. Habeas corpus...! O que significa isso? Na tradução pobre do homem comum pode ser o grito de liberdade para um "cliente" ter seu corpo de volta às ruas para voltar a delinquir com as mesmas práticas, nos mesmos lugares e bem diante dos olhos cada vez mais apavorados dos que são deixados de lado pelos direitos que como humanos deveriam ter. Se me faço entender, para evitar ser mais explícito.

Que direitos? Um marginal preso ganha uma "bolsa" dessas distribuídas pelo governo e que facilita a vida do bandido enquanto as famílias, as crianças atingidas pela brutalidade ganham... O ostracismo! No máximo, uma fotografia na página policial, chorando sobre o corpo de um parente morto ou no seu enterro.

E o pior de tudo isso não é o roubo para financiar a vida boa de bandido, é que eles disputam o que para eles é fácil de ganhar: mostrar, através dos noticiários quem é o pior, o mais violento, o mais capaz de mostrar quão animal pode ser, mais brutal, mais feroz, mais predador...

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