Dilma deu um show

Devo me desculpar pelo que disse anteriormente sobre a inabilidade da Presidenta Dilma Roussef em matéria de comunicação de massa: ela deu um show de competência televisiva no Bom Dia Brasil da Globo, nesta segunda-feira, revertendo sobre a cabeça dos entrevistadores o verdadeiro massacre que estava preparado pela emissora para desqualificá-la politicamente. O circo armado com Ana Paula Araújo e Chico Pinheiro, reforçado pelas baterias de Miriam Leitão, caiu sob a própria lona numa capitulação forçada e sem graça.

É evidente que a presença de Miriam, supostamente competente em números, era para estraçalhar a Presidenta no meio de um cipoal de estatísticas enviesadas. Acostumada a manipular informações em artigos de jornal, sem o incômodo do contraditório, ela esbarrou numa serena exposição de fatos que a deixou simplesmente desarticulada. Quis passar ao telespectador a opinião absurda de que o Brasil se encontra em pior posição em matéria de crescimento econômico do que os países da Europa. Dilma fulminou seus argumentos.

É interessante notar que a Presidenta, em seu horário eleitoral, se torna às vezes cansativa quando desfila um grande número de estatísticas e dados numéricos. É da natureza dela, trazida de seu tempo quando devia comportar-se sobretudo como gerente. Na entrevista da Globo, contudo, quem colocou números na mesa foi a entrevistadora. Isso gerou uma controvérsia. E, como se sabe desde Platão, a dialética é esclarecedora. Confrontada com números falsos ou capciosos Dilma respondeu na ponta da língua com seus próprios dados, e a coisa toda funcionou a seu favor.




A Presidenta está muito bem informada sobre o que acontece na economia mundial. Rechaçou com números as alegações de que o crescimento do Brasil está num nível inferior ao da Alemanha. Ela tem razão. O crescimento da Alemanha no segundo trimestre foi de 0,8%, na mesma faixa do Brasil. Isso, contudo, não é o mais importante. O significativo é que o crescimento econômico em toda a Zona do Euro foi de 0% no segundo trimestre, bem abaixo do Brasil. E, nos países individualmente, o ritmo nos últimos 12 trimestres tem sido o de contração em oito deles, e crescimento perto de zero em apenas quatro. No Brasil, até o momento, não houve contração trimestral.

A acusação de Miriam relativa ao emprego de jovens é outra tentativa de afirmação capciosa: ela não comparou as taxas de desemprego de jovens no Brasil ao desemprego nessa faixa etária de outros países, sobretudo na Europa. Jogou um número, 13,7%. Se tivesse acrescentado que o desemprego de jovens em países como a Espanha e Grécia chega a mais de 60% seria fácil concluir que a situação no Brasil é ainda tolerável. De fato, a situação mais grave de desemprego é quando atinge os adultos, os chefes de família. E, nessa faixa, a ocupação no Brasil tem batido recordes, com uma taxa de desemprego das mais baixas do mundo.




A boa performance de Dilma coloca em xeque um tipo de jornalismo tendencioso e agressivo que, sendo ele próprio um fenômeno de manipulação, tenta conduzir a campanha presidencial segundo suas próprias preferências. Isso está disseminado na mídia eletrônica, que opera sob concessão pública e portanto deveria ser mais discreta em manifestar preferências. É o jornalista que quer aparecer, quer brilhar e, no caso, servir aos gostos políticos do patrão sob o pretexto de informar ao eleitor.

Ninguém quer um jornalismo subalterno nem absolutamente imparcial. Mas é essencial, para a democracia, um jornalismo honesto. Tenho suficientes décadas de jornalismo para aconselhar os mais jovens a seguir o exemplo dos entrevistadores da revista alemã “Der Spiegel”, para mim os mais competentes do mundo, que conseguem extrair tudo do entrevistado, com absoluto rigor profissional, sem, entretanto, pretender desqualificá-lo e agredi-lo. Infelizmente, nossos entrevistadores de televisão estão seguindo por escrito o caminho dos paparazzi italianos!

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

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