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Crônica

Num sei, só sei que foi assim

Por Franciólli Luciano
O João, certa feita conversando com o Rubem, dizia; outro dia o chicó me contou que se encontrou com seu pai criador lá pras bandas num sei da onde pertin de num sei o que, num tal de reino da pedra encantada, num armorial divino, num misto do sagrado e o profano, como se fosse um bacanal...
Estava como ouvinte, mas não poderia ficar de fora de tão exotérica palestra e encarando o João naquela sua espectricidade indaguei de como tudo poderia ter acontecido tão rapidamente, se tudo parecia ter nascido ontem?...
Nisso o João calmamente, elevando o olhar para os céus responde com outra pergunta; você acha que eu deixaria de comparecer ao encontro que marcamos os três juntos, de estarmos com são José do belo monte? Talvez nos encontremos com o príncipe do sangue do vai-e-volta ou talvez não possamos ter as bênçãos da compadecida feita uma mulher vestida de sol...
De novo intervenho e como se estivesse falando para outros mais personagens falo em tom de discurso numa voz um pouco decibelimetrada além do peso ideal, contestando o santo ato da vida e a porca desfalecedora de gente, essa caetana que ora se apresenta máscula e noutro momento feminino e fatal, e com veemência contesto: Vida é passageira das agonias das línguas secas dos sertões de Arianos, joãos de Rubens e vidas severinas que com bandeiras arroxeadas e em filas levam na rede o pó que veio do chão e que parta ele voltará...
Nisso o João num pulo de Nóbrega inicia o canto da vida e da morte num falsete que lhe força a voz numa trilha ladainhesca: Oh vida que veio dar vida, as vidas que moram aqui, trocando uma vida por vidas de recomeço sem fim...
Novamente meio curioso quis saber do Ubaldo o que estas palavras queriam dizer e qual fonte inesgotável era esta cujas vidas brotam da imaginação?...
Ao que ele se vira pra mim e responde; Num sei, só sei que foi assim...

Ariano Suassuna - Política

A esquerda e a direita

Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita. 

Ariano Suassuna: Amo a vida. Odeio a morte!

A cachorra morreu. Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o último mal irremediável. Aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a Terra. Aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo, que só rebanho de condenados. Porque tudo que é vivo, morre...
Chicó em O Auto da Compadecida

Lápide - poema de Ariano Suassuna

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

Que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!

Anedota com Suassuna

Quando Ariano foi convidado para ser Secretário de Cultura do Recife, o assessor de imprensa da prefeitura pediu-lhe um currículo para distribuir com os jornalistas e ser publicado no Diário Oficial do município.

- Não tenho currículo - respondeu Suassuna.

Impaciente, o assessor insistiu:

- Todo secretário tem que apresentar um currículo.

Aí Suassuna ficou irritado. E afirmou:

- Então anota aí: Ariano Suassuna, escritor brasileiro, razoavelmente conhecido no Exterior.


Anedota com Suassuna

- As coisas estão mudando muito. Já não reconheço algumas – comentou Suassuna com Leda Alves, sua amiga, quando exercia o cargo de pró-reitor comunitário da Universidade Federal de Pernambuco.

- O que foi que houve? Conte – pediu Leda.

- Me chamaram no Departamento de Pessoal. E a moça de lá foi logo me perguntando:

- “O senhor é do Qufupe, não é?
- “O que é isso, moça... Não sou homem disso não.” Mas aí ela veio com uma conversa ainda pior.
- “É porque o senhor tem duas dentro e não gozou”.
- “Moça, essa conversa está muito atrapalhada. Não é pra mim. Adeus”. E fui embora.

Ariano fingiu não saber que Qufupe era a abreviação de Quadro Único da Universidade Federal de Pernambuco. E que “duas dentro” significava duas licenças a que tinha direito, mas que não tirara ainda.



Ariano Suassuna Critica Forró atual

'Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!'.

Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não,
e todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da Banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto.
Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de 'forró', e Ariano exclamou: 'Eita que é pior do que eu pensava'. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.

Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas
bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua
(Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal),
Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões
do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um
subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The
Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa.
Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e
merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.


Ariano Suassuna
 

Realmente, alguma coisa está muito errada com esse nosso país, quando se levanta a mão pra se vangloriar que é rapariga, cachaceiro, que gosta de puteiro, ou quando uma mulher canta 'sou sua cachorrinha', aonda vamos parar? como podemos querer pessoas sérias, competentes? e não pensem que uma coisa não tem a ver com a outra não, porque tem e muito! E como as mulheres querem respeito como havia antigamente? Se hoje elas pedem 'ferro', 'quero logo 3', 'lapada na rachada'? Os homens vão e atendem. 



Vamos passar essa mensagem adiante, as pessoas não podem continuar gritando e vibrando por serem putas e raparigueiros não. Reflitam bem sobre isso, eu sei que gosto é gosto... Mas, pensem direitinho se querem continuar gostando desse tipo de 'forró' ou qualquer outro tipo de ruído, ou se querem ser alguém de respeito na vida!