O amor é...

O amor é como milho
A gente planta
Ele nasce
A gente cuida
Ele cresce
Aí, vem uma galinha e come tudo.

Conselho da Vovó Briguilina


Ceará - população aprova o Programa Federal "Mais Médicos"

O Estado do Ceará atingiu 100% da meta, segundo o Ministério da Saúde, porém ainda a muito a fazer no setor

Envolto a polêmicas desde que foi lançado em julho do ano passado, o Programa Mais Médicos surgiu como uma proposta do governo federal para levar atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em lugares onde há carência de profissionais. Dois meses depois, os primeiros médicos começaram a trabalhar no Ceará e, em pouco mais de seis meses de atuação, já é possível analisar os primeiros resultados.
Com a chegada dos selecionados para o quarto ciclo do programa na semana passada, o Estado passou a contar com 843 médicos alocados em 157 municípios. Segundo o Ministério da Saúde, 100% da demanda do Ceará foi atendida. "A atuação desses profissionais impacta na assistência de mais de 2,9 milhões de pessoas", informou o órgão em nota.
O titular da Pasta, Arthur Chioro, confirmou os dados quando esteve em Fortaleza há dez dias e acrescentou que cada médico corresponde a uma equipe completa. "No Ceará, são 842 equipes, correspondendo a 85% dos municípios", disse, antes dos dados serem atualizados na última quinta-feira (17).
Contudo, o ministro citou outros aspectos do programa, que são os investimentos em hospitais e unidades de saúde. "Há também o desafio de melhorar a infraestrutura dessas unidades, para que elas possam dar mais capacidade para as equipes, até porque a equipe não é formada só por médicos", lembrou.
Atenção primária
Segundo o representante do Ministério da Saúde na coordenação estadual do programa, Odorico Monteiro, "não há um município no Ceará que hoje não tenha reforma, construção e ampliação de unidades básicas de saúde". "São mais de 650 sendo construídas e mais de mil unidades em reforma e ampliação", completou.
Monteiro comemora os resultados do programa, mas ressalta que ainda há muito o que fazer. "O Mais Médicos, neste momento, foi só uma ponta do iceberg do problema. Nós estamos resolvendo uma parte da atenção primária. Sem dúvida nenhuma, nesta perspectiva, está sendo extremamente positivo", afirmou. "Não tenha dúvida de que já temos indicadores de resultados", garantiu o coordenador.
Com relação aos médicos cubanos que participam do programa, Odorico Monteiro ressalta que eles deixarão uma nova prática para o atendimento no País. "O Mais Médicos vai ter um legado importante que é um espelho a ser criado para a atenção básica. Deveremos chegar a uns 12 mil médicos cubanos espalhados pelo Brasil, que têm a alma centrada na atenção básica. Não é um médico que está um dia num município, e depois no outro", comparou.
Visão humanizada
O clínico geral mineiro Izaías Arcanjo, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem a mesma opinião. Ele faz parte do menor grupo que compõe o programa, o de médicos brasileiros formados no País, e possui uma visão humanizada da função.
"Trazer mais médicos não muda nada. Mas médicos se importando com o outro, para construir uma outra cultura de saúde, mudam. Muitas vezes a doença é social, aí a pessoa adoece por várias razões, pelas condições em que mora, a maneira como o ambiente em que vive está condicionando sua situação", explicou.
Trabalhando há seis meses no Centro de Saúde da Família Viviane Benevides, na Vila Manoel Sátiro, Izaías Arruda caiu nas graças dos pacientes, como a doméstica Irislene da Silva. "Ele é o melhor médico, porque escuta, presta atenção, olha nos olhos da gente. Já trouxe os meus filhos aqui para ele consultar".
O mexicano Asgard Giovanni Toriz também é querido pelos pacientes de um posto em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza e resume bem a tarefa do médico. "Se você estuda medicina é porque gosta e quer ajudar a comunidade. Se não tem recursos, deve-se fazer de tudo, aconselhar, buscar melhoras para a vida do paciente", afirmou. Toriz também defende o programa. "O Brasil realmente precisa de muitos médicos, porque há regiões onde muitos não gostam de trabalhar e a população é mais afetada", ponderou.
Instituições criticam supostos desrespeitos
Mesmo admitindo os benefícios que o programa trouxe à população, representantes de entidades médicas do Estado criticam a forma como o Mais Médicos foi implantado, desrespeitando, segundo eles, a legislação e os direitos trabalhistas.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), Ivan Moura Fé, disse serem evidentes os benefícios do programa, mas ressalta que os estrangeiros deveriam se submeter ao exame que reconhece o diploma deles no País. "Há, de fato, carência de médicos em vários setores, mas isso deveria ser resolvido com concurso, carreira de estado e, no caso dos estrangeiros, tramitando de acordo com a legislação, validando o diploma. Mas foi tudo feito de forma excepcional", afirmou.
Ivan Moura Fé informou ainda ser difícil avaliar os resultados do programa por falta de informações. "Os dados que solicitamos aos tutores e supervisores do programa não chegam", disse. Com relação a denúncias de possíveis erros médicos, ele admitiu que são poucas, "menos de dez, mas estão sendo apuradas", finalizou.
Condições
Já para o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec) José Maria Pontes, o maior problema, além da validação do diploma, é a diferenciação das condições de trabalho dos médicos de Cuba. "Aquelas condições de exploração dos profissionais, sem direitos trabalhistas, sem direito de ir e vir porque são vigiados, são uma forma de trabalho escravo", ressaltou.
"Quando nós colocamos isso, disseram que estávamos chamando os médicos de escravo, mas não era isso, não é no sentido pejorativo. Era tão somente no sentido de defendê-los", completou, ao lembrar o episódio em que médicos cearenses vaiaram a equipe do programa e chamaram os colegas cubanos de escravos (veja o vídeo no link http://svmar.Es/6QCgFM).
Para Pontes, o programa não vai acabar com as deficiências da saúde. "Se eles querem resolver o problema da saúde daquele jeito, a situação vai ficar cada vez mais precária. Tem que ter estrutura de trabalho, profissionais competentes que realmente querem resolver", afirmou.
ENTREVISTA

Nem machismo, nem feminismo

Apenas: Cada um puxa brasa para sua sardinha ou tenha muita ou pouca farinha...meu pirão primeiro

na Carta Caputal
Aposentadoria, alistamento militar obrigatório, ingresso mais barato na balada - isso não é privilégio, é machismo
Por Nádia Lapa
O feminismo é pauta constante em conversas, na mídia, na mesa do boteco. E, como muita gente não reconhece o movimento como legítimo, de bases históricas, de militância incansável e estudado  na academia, repetem absurdos a respeito do tema. Acham que o senso comum resolve. Ignorância ou má fé? Não sei, mas o primeiro dá para resolver - tem um monte de livros bacanas, blogs interessantes (inclusive esse aqui!) e perfis no Twitter que falam de feminismo o tempo todo.

Mas sempre que chega alguém "novo" no rolê, a pessoa faz questionamentos pueris, quase nunca com o desejo de saber mais. A intenção - nota-se pelo tom da voz - é "desmascarar esse tal feminismo".
Eu prefiro desmascarar as falácias.
1) Feminismo é contrário de machismo.
Bom, quem diz isso ainda está na fase "feminismo para dummies". Machismo é um sistema patriarcal, institucionalizado, de opressão de um gênero sobre o outro. Feminismo é um movimento que visa a igualdade e, mais do que isso, desafia esse sistema. Há muitos feminismos, e cada um deles propõe uma forma de acabar com o machismo. Há anarcafeministas, feministas radicais, feministas liberais, e por aí vai. Tem quem queira repensar o capitalismo, tem quem lute pelo empoderamento da mulher sem mexer nas estruturas do capital. Mas basicamente feminismo e machismo não são nada similares.
2) Por que mulher se aposenta antes? Nessa hora ninguém reclama!
Sim, reclamamos, mas não lá, aos 60 anos.
Reclamamos antes, pela "obrigação" de lavarmos a louça, tirarmos a toalha molhada da cama, varrermos o chão e esfregarmos a privada que você usou. Na divisão sexual do trabalho, as mulheres exercem a atividade mais mal remunerada do mundo: cuidar da casa. Mal remunerada porque simplesmente não é remunerada.
Segundo a Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad), do IBGE, mulheres gastam 23,9 horas da semana cuidando de afazeres domésticos, enquanto os homens ficam com apenas 9,7 horas. Em alguns estados, a diferença é ainda mais gritante: na Paraíba, mulheres gastam 27,8 horas semanais cuidando da casa; os homens, 10,6 horas. É quase o triplo.
A pesquisa abrange moradores acima de 10 anos de idade. O resto é só matemática. Se a jornada de trabalho normal no Brasil é de 40 horas semanais e a mulher trabalha em casa, sem remuneração, por 24 horas por semana, no fim do ano ela trabalhou 1.147 horas, enquanto o homem, apenas 465. Multiplique pelos anos até a aposentadoria, e aí você saberá a razão da diferença.
Você conhece algum casal que compartilha as tarefas domésticas? Ótimo. Por enquanto, eles são a minoria da minoria. Quando isso for a regra, e não a exceção, não tenha dúvida: a idade para aposentadoria da mulher vai aumentar (ou você acha mesmo que o governo quer deixar de receber as contribuições e já começar a pagar?).
3) Por que vocês não lutam pelo alistamento militar obrigatório?
Essa parte, confesso, me faz rir.
Por que alguém lutaria por uma obrigação?
Nem precisaria explicar depois disso, mas sou insistente: as mulheres (não necessariamente feministas) lutam para fazer parte dos quadros das forças armadas. Os Colégios Militares, por exemplo, só aceitaram alunas mulheres depois da Constituição Federal de 1988. Até hoje concursos simplesmente não aceitam mulheres. Leis e ações judiciais, como esta do Ministério Público do Distrito Federal, tentam reverter isso.
Além disso, existem feministas - como eu - que são contra o militarismo. Outras são a favor de que seja voluntário para homens e mulheres.
4) Feminista até paga menos na balada/pagar o motel/chegar a conta.
Mulheres pagam menos na balada porque são usadas como iscas. Homens heterossexuais não costumam gostar de ir para festas onde "só tem marmanjo". Isso é machismo, não feminismo.
Sobre o motel, realmente muitas mulheres acham que o homem tem que pagar. Sabem o motivo? Fomos ensinadas de que o cara "aproveitou", que nós fizemos algum tipo de concessão, sei lá, e que o cara precisa pagar por isso. Isso é machismo, não feminismo. O mesmo vale para a conta.
5) Quem vai abrir potes se vocês acabarem com os homens?
Ninguém quer acabar com os homens, por favor.
E sabemos abrir potes. Tivemos aulas de física e aprendemos que o calor dilata metais. Logo, é só esquentar um pouquinho a tampa que ela vai ficar mais frouxa. Também dá para fazer uma alavanca com a colher. E, vejam só, existem até utensílios que fazem tudo isso por nós.
Como diria Simone de Beauvoir, em tempos tecnológicos, não há que se falar em força física para tarefas normais do cotidiano. A roda já foi inventada. E, putz, que existência desgraçada a de quem acha que sua função no mundo é abrir potes para mulheres indefesas, hein?

Dilma: A indústria naval tem uma imensa capacidade de gerar riquezas


Café com a presidentaA presidenta Dilma Rousseff lembrou, no programa Café com a Presidenta de hoje segunda-feira (21), a inauguração do navio Dragão do Mar e o batismo do petroleiro Henrique Dias, na última semana. Dilma lembrou os esforços do governo federal pela retomada da indústria naval, que, hoje, é forte, pujante e emprega quase 80 mil empregados em estaleiros no Nordeste, Sudeste e Sul do país. E o número deve aumentar chegando a 100 mil em 2017.

"Nós decidimos que as compras da Petrobras deveriam ser feitas preferencialmente em indústrias que produzissem no Brasil, para gerar, aqui, crescimento industrial e emprego. O nosso lema é: fazer no Brasil porque temos capacidade para fazer. Assim, o que a Petrobras comprava lá fora passou a ser feito aqui no Brasil por trabalhadores brasileiros, isso se chama política de conteúdo nacional. Com essa decisão, além da riqueza do petróleo, o Brasil passou a ter uma indústria naval poderosa, desenvolveu uma cadeia de fornecedores", disse.

Dilma lembrou que, em 2003, eram apenas 7.465 funcionários no setor, que estava desaparecendo. Mas para atender a demanda nos últimos dez anos entraram em funcionamento dez estaleiros no país. Segundo a presidenta, as perspectivas para a indústria naval com a exploração do pré-sal são fantásticas e estão fazendo com que muitas empresas estrangeiras se instalem no Brasil para produzir peças e equipamentos. Serão necessários, até 2020, 88 navios, 198 barcos de apoio, 28 sondas de perfuração e 31 plataformas.

"No ano passado, a construção naval brasileira entregou volume recorde de navios e plataformas de petróleo. Foram sete plataformas de produção, dois navios petroleiros de grande porte, 21 navios de apoio marítimo, dez rebocadores portuários e 44 barcaças de transporte. Só em 2014, estão em construção ou contratados para serem construídos aqui no Brasil 18 plataformas, 28 sondas de perfuração e 43 navios-tanque", afirmou.

Crônica semanal de Luis Fernando Veríssimo

Como aquele personagem do poema do Eliot que podia medir a sua vida em colherinhas de café, posso medir a minha em copas do mundo. A partir da copa de 1986, no México, fui a todas, Mas as anteriores, que acompanhei pelo rádio, pela TV em preto e branco e pela TV (maravilha!) a cores também deixaram dores e saudades. Como a de 62, por exemplo, aquela em que o Pelé se machucou e o Garrincha viu que teria que ser tudo com ele, e foi.

1962. Eu tinha saído de Porto Alegre com a ideia de ganhar algum dinheiro no Rio e seguir para Londres, onde faria alguma coisa ligada a cinema, como diretor ou vendedor de pipoca, ainda era incerto. Me hospedei com uma tia, no Leme.

Não tinha diploma de nada e nenhuma vocação aparente, fora um discutível "jeito para desenho". A Clarice Lispector, amiga da família e vizinha da minha tia, chegou a telefonar para o Ivan Lessa, que trabalhava em publicidade, para ver se me conseguia um emprego.

O Ivan e eu marcamos um almoço que, não me lembro mais por que, nunca aconteceu. Na verdade, nunca nos encontramos.

 

 

Chegou um amigo de Porto Alegre, companheiro de inconsequências, que ganhara uma bolada na venda de umas terras do pai e, entre aplicar bem o dinheiro ou queimá-lo todo num fim de semana carioca, optara pelo mais sensato: arrebanhara outros amigos e os trouxera para o Rio, e me convocou para ajudar a gastar o dinheiro.

Sim, tive meus três dias de condor, mandando baixar no "Fred's" (o hotel Windsor, ex-Méridien, hoje se ergue sobre as suas cinzas) e requisitando coristas para acompanhar nossos delírios de paulistas. Coube a mim uma chamada Leticia, que, meu Deus, hoje deve ser avó.

Foi uma despedida tardia da adolescência. Depois começou a vida real. Fui trabalhar com um americano com a promessa de ficar rico e quase acabei preso, me casei, tentei um negócio que não deu certo e quatro anos depois de me mudar para o Rio, em vez de ir para Londres voltei para casa.

Em 1962, no Rio, você lia as colunas do Armando Nogueira, do Nelson Rodrigues, do Stanislaw Ponte Preta, do Antônio Maria, do João Saldanha, do Paulo Francis escrevendo sobre teatro e mandando pau na direita, nos jornais; e na "Manchete", todas as semanas, as crônicas do Rubem Braga, do Paulo Mendes Campos e do Fernando Sabino e, na "Cruzeiro" as gloriosas duas páginas do Millôr.

Jango estava no poder, as reformas eram uma possibilidade (se o Lacerda deixasse, porque os militares estavam sob controle), mas, acima de tudo, havia o Garrincha. No auge, como todo mundo.

Poema da manhã

Amor bastante

Quando eu vi você 
tive uma ideia brilhante 
foi como se eu olhasse 
de dentro de um diamante 
e meu olho ganhasse 
mil faces num só instante

basta um instante 
e você tem amor bastante

um bom poema 
leva anos 
cinco jogando bola, 
mais cinco estudando sânscrito, 
seis carregando pedra, 
nove namorando a vizinha, 
sete levando porrada, 
quatro andando sozinho, 
três mudando de cidade, 
dez trocando de assunto, 
uma eternidade, eu e você, 
caminhando junto

 

Paulo Leminski Filho (Curitiba, 24 de agosto de 1944 - Curitiba, 7 de junho de 1989) - Além de poeta, foi escritor, tradutor e professor. Também escreveu as biografias de nomes como Cruz e Sousa, Edgar Allan Poe e Trotski. Leminski também escreveu letras de música em parcerias com Caetano Veloso e o grupo A Cor do Som. O poeta era faixa preta de Judô.