Pedro Malasartes é podre de rico


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Fez fortuna, como a maioria dos brasileiros multimilionários, utilizando com liberalidade os costumeiros instrumentos de enriquecimento rápido de nossa elite: chantagem, fraude, corrupção, grilagem, intimidação, estelionato, sonegação, notas frias, troca e venda de favores, extorsão, agiotagem, formação de quadrilha e, quando não havia recurso mais barato, encomendando assassinatos e queimas de arquivo.
Em pesquisas recentes (2016), realizadas por órgãos internacionais, Malasartes foi eleito um dos 100 maiores canalhas brasileiros de todos os tempos.
Desde criancinha revelou inúmeros talentos para o exercício do poder, talentos que o transformaram em um de nossos mais brilhantes homens públicos.
Dentre eles destacam-se os seguintes:
01) Furar os olhos de passarinhos que pegava em arapucas, para que cantassem melhor;
02) Arrancar as asas de abelhas e moscas, que jogava vivas em teias de aranha, deliciando-se com os esforços inúteis dos prisioneiros para fugir;
03) Pregar tachinhas nas cadeiras das professoras, divertindo-se quando elas saltavam gritando de dor e espumando de ódio;
04) Transformar notas de 10 reais em notas de 100, usando tesoura, cola e canetas de cor, de modo a engabelar os simples e os humildes, que nunca percebiam o golpe e sempre levavam tinta;
05) Amarrar latas vazias no rabo de vira-latas, batendo neles em seguida para vê-los disparar ganindo aterrorizados;
06) Cortar o rabo de lagartixas, rabos que adorava ver se contorcendo como se vivos, e rir das lagartixas fugindo assustadas e cotós;
07) Derramar gasolina em gatos de rua e jogar fósforos acesos nos bichos: os miados de dor e medo eram como música para seus ouvidos ultrassensíveis;
08) Imitar cobras corais com pedaços de corda colorida e, nos lusco-fuscos das tardes domingueiras, arrastá-los na calçada, assustando velhinhas a caminho da igreja;
E muitas outras invenções alegres, engraçadas e torturantes, pois sua imaginação desconhecia limites.
Mas como tudo teve início logo após sair do útero materno, será pela mais tenra infância que começaremos esta longa biografia de nosso herói, pedindo paciência (e estômago forte) ao eventual leitor para este primeiro capítulo e os que virão a seguir.
POSSÍVEL ENQUETE POPULAR

O melhor Amigo

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A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.
– Filho? – gritou ela.
– O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi possível.
– Que é que você está carregando aí?
Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido,tentou ainda ganhar tempo.
– Eu? Nada…
– Está sim. Você entrou carregando uma coisa. Pronto, estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la. Foi caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:
– Olha aí, mamãe: é um filhote…Seus olhos súplices aguardavam a decisão.
– Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
– Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe? Sabia que não adiantava, ela já chamava o filhote, de isso. Insistiu ainda:
– Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
– Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
– Ah, mamãe… – já compondo uma cara de choro.
– Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.
O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado. A gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!
– Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou
esperando a reação da mãe.
– Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
– Você não é todo mundo.
– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não
faço mais nada.
– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.
– A senhora é ruim mesmo, não tem coração!
– Sua alma, sua palma.
Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo. Tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois… ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
– Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
– Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda – Meu melhor amigo, não tenho mais ninguém nesta vida.
– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.
– Deixa de conversa: obedece sua mãe.
Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa.
– Pronto, mamãe! E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez, havia vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.
– Eu devia ter pedido cinqüenta, tenho certeza que ele dava murmurou, pensativo.
Crônica de Fernando Sabino
*

Boa tarde

Foto
Gosto de gente que:
- Vamos que vamos!
*

Roteiro óbvio da novelinha, por Rei



1- Delação começa com esse papo furado de "desde os governos FHC..."
2- Acusações aparecem discretamente nos jornais com nomes do PSDB e do governo FHC. A esquerda se atiça com a possibilidade...
3- A parte da delação que atinge FHC e o PSDB é totalmente ignorada pelo MP e pelo juiz.
4- A parte que atinge PT e Lula é investigada com ou sem provas.
5- Manchetes de jornais massacrando o PT.
6- Mais um inquérito contra Lula, mesmo que sem provas...
A esquerda tem que parar de morder essa isca de "desde os governos de FHC" e desmascarar desde já essa tática.



Editorial


A urgência da Esperança não admite mais ilusões
Assim como não calaram Nelson Mandela, não calarão Lula, armado de um projeto social arrebatador de Futuro
golpe jogou a cartada com a qual pretende virar uma página dupla da história brasileira.
 
Encerrar a era Vargas e o ciclo Lula.
 
Estripou os direitos trabalhistas conquistados e defendidos ao longo de 74 anos, desde a criação da CLT, por Getúlio, em 1943; ato contínuo, condenou ao cárcere, por uma década, o maior líder popular brasileiro, Lula, de 71 anos, presidente duas vezes, favorito inconteste nas sondagens eleitorais para 2018.
 
Quis o destino que o conjunto acontecesse na mesma data em que, há 55 anos, Jango criava o 13º salário para os trabalhadores brasileiros, recebido com manchetes aterrorizantes pela mídia que dois anos depois festejaria o golpe de 1964.
 
A apoteose das últimas horas de certa forma esgota o repertório da ‘progressão’ golpista em 2017.
 
O da resistência democrática, ao contrário, pode enrijecer.
 
Longe de ser o fim, a tentativa conservadora de inocular prostração na sociedade, poderá inaugurar uma escalada de mobilizações e impor maior clareza programática no projeto de futuro capaz de unir a frente popular e arrebatar o país.
 
A prefiguração do futuro preconizado pelo golpismo é medonha.
 
Com certa soberba histórica nem se disfarça a pindaíba social reservada à nação brasileira.
 
A sofreguidão reflete de certa forma o escaldado retrospecto das oito vezes em que essa ofensiva foi interrompida, em meio século de luta de classes.
 
Em 1954, pelo levante popular após o suicídio de Vargas; em 1961, na campanha da legalidade pela posse de Jango; em 1984, na luta pelas Diretas Já! -- derrotada, mas que levou à conquista superior da Carta Cidadã, de 1988 e, finalmente, nas quatro vitórias presidenciais sucessivas de Lula e Dilma em 2002, 2006, 2010 e 2014. Era demais o risco de um novo revés em 2018.
 
Derrubar Dilma para inviabilizar Lula fazia parte do ciclo político da tolerância conservadora em nossa história. Erros na condução da crise econômica serviram apenas de lubrificante: a engrenagem já fora acionada quando as urnas de 26 de outubro de 2014 refugaram, pela quarta vez sucessiva, o projeto antissocial e antinacional ora imposto à nação.
 
A ofensiva revanchista culminada nas últimas horas calcifica as representações dos trabalhadores (sindicais e partidárias), sangra sua estrutura financeira, ataca sua credibilidade e busca encarcerar sua principal voz.
 
Se o nome disso não é golpe será preciso inventar um outro para defini-lo.
 
A existência altiva de uma organização de trabalhadores constitui um freio inestimável às arremetidas da barbárie capitalista em qualquer época, em qualquer sociedade.
 
Dispensar à destruição do PT e de Lula uma centralidade equivalente a atribuída pelos mercados à revogação do direitos sociais e trabalhistas explicita a funcionalidade de Moro.
 
O seletivo afinco do juiz da praça de Curitiba em atender à demanda política número um do conservadorismo -- calar a única voz ouvida por aqueles aos quais a Globo gostaria de falar sozinha-- é um requisito para viabilizar a restauração do trabalho avulso diante da coesão patronal.
 
Descortina-se –mesmo aos olhos antes distraídos—a natureza do futuro que se reserva à sociedade brasileira: uma nação feita de gente barata, um país entregue ao abismo da desigualdade abissal, sem laços compartilhados no trabalho, na velhice e no ganha pão.
 
Esse Brasil mexicanizado, de vidas ordinárias, entregues ao arbítrio do mercado e das gangues, mimetiza, num país de carências bíblicas, as incertezas e vicissitudes do voo turbulento do capitalismo global, em um estágio de mutação desordenada.
 
O discernimento do futuro inscrito na apoteose golpista pode gerar no eleitor de 2018 o efeito que se quer prevenir com a eliminação de Lula da urna. É ostensivo o anseio conservador pela condenação ‘célere’ do candidato que lidera as sondagens, como pede o editorial da Folha no dia seguinte à sentença de Moro. 
 
A tentativa da destruição gêmea de Lula e dos direitos sociais e trabalhistas desnuda perigosamente a virulência dos marcos do projeto conservador para o país.
 
A literalidade dos impactos na vida cotidiana, sobretudo dos mais humildes que perdem a proteção da lei e a voz que poderia representa-los pode ser a tocha de uma espiral de conflitos de consequências imprevisíveis.
 
O golpe de 1964 levou quase cincos anos para encontrar um chão ‘institucional’ baseado no terror, na tortura e na censura.
 
A manipulação midiática e a farsa de um parlamento contra o povo não serão suficientes para sustentar a reordenação conservadora atual, se for escancarada a sua âncora de des-emancipação social. 
 
A verdade é que o esgotamento da ordem neoliberal no mundo requisita um poder de coordenação econômica e de planejamento democrático inverso ao que se desenha aqui.
 
Reduzir o país a uma dívida pública paga em dia, a juros suculentos, às custas da agonia falimentar dos serviços públicos, dos direitos, da renda e do emprego só é viável no imaginário de quem já se dissociou até fisicamente do destino da sociedade e da sorte do seu desenvolvimento.
 
Quem? 
 
A minoria rentista que da escada do avião acena recomendações de uma dantesca ‘purga’ na Constituição de 1988 para equilibrar ‘o fiscal’, às favas o povo, esse estorvo da boa finança (leia nesta pág. http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditorial%2FBye-bye-Brasil%2F38336).
 
O jogo, portanto, atingiu o ápice da violência de classe.
 
Não é temerário prever um aguçamento do conflito social no período que se abre.
 
Com um agravante.
 
Inabilitadas pela ruptura da legalidade, as instituições mediadoras, a exemplo de uma parte ostensiva do judiciário --sem falar da mídia e da escória parlamentar de despachantes do mercado-- perderam sua credibilidade ao se acumpliciarem na demolição do pacto da sociedade sem consulta-la.
 
Após quatro derrotas presidenciais sucessivas, sendo a última, de outubro de 2014, com seu quadro mais palatável, as elites decidiram queimar as caravelas e os escrúpulos que supostamente ainda carregariam. 
 
Fizeram-no, como se constata na escalada do cerco ao PT e à Carta de 88 convictas de que só escavando um fosso profundo na ordem constitucional teriam o poder necessário para a demolição requerida.
 
Aquela capaz de transformar a construção inconclusa de um Brasil para todos, na recondução da ordem e do progresso para os de sempre. 
 
Não deixam dúvida as encomendas e as entregas: o golpe veio apunhalar a democracia para atingir o interesse popular. 
 
Vem aí um vergalhão de privatizações e abastardamento de serviços essenciais.
 
Reafirma-se a rigidez recorrente da velha fronteira histórica onde acaba a tolerância do dinheiro e do mercado e começam as bases da construção de uma sociedade mais justa na oitava maior economia do planeta.
 
‘A democracia prometeu mais do que o capitalismo pode conceder sem mergulhar a economia em uma crise fiscal desestabilizadora’, martelam diuturnamente os colunistas do jogral midiático que não cogitam jamais de uma reforma que estenda, por exemplo, a coleta de tributos aos R$ 334 bilhões em lucros e dividendos –isentos de IR—apropriados em 2016 por pessoas físicas das faixas de renda mais altas da sociedade.
 
Ao contrário.
 
O que se enxergou do esgotamento de um ciclo de expansão, agravado pela crise econômica global, foi a oportunidade para um acerto de contas capaz de fazer o serviço completo.
 
Cortar o ‘mal’ pela raiz.
 
Explica-se assim a sanha do assalto às fontes originárias da universalização de direitos na sociedade, desde a CLT de 1943, à Constituição Cidadã de 1988 e o partido que deles se tornou o principal promotor.
 
Pode dar errado.
 
Ter um Estado que trata encargos sociais como estorvo do mercado, por mais que gere uma euforia inicial nos donos do dinheiro, não resolverá as grandes pendências nacionais emolduradas por um pano de fundo desafiador.
 
O capitalismo revira os nós de suas tripas em uma transição épica de padrão tecnológico. 
 
O salto da industrialização 4.0 baseada na robótica, na integração e digitalização dos processos vai ralear e atomizar o mundo do trabalho e desse modo toda a sociedade. 
 
A indústria continuará vital como núcleo irradiador de produtividade e tecnologia na sociedade. Mas será cada vez menos o núcleo ordenador do emprego e dos direitos. 
 
A dispersão laboral que a esperteza conservadora quer acelerar aqui com a implosão da CLT e o barateamento da previdência aponta para uma fragmentação social de consequências imponderáveis.
 
Só a ação planejadora da democracia e do Estado pode impedir que isso transborde em anomia conflitiva, violenta e desesperada.
 
Eis o paradoxo da política de estabilização golpista.
 
A coesão social hoje passa a depender cada vez mais –e não menos-- de políticas públicas amplas, massivas, inclusivas que a sabedoria fiscal dos ‘reformistas’ aqui trata de desossar.
 
O modelo atual de previdência social de fato se esfumou num horizonte de emprego instável e escassos vínculos trabalhistas.
 
Mas a miopia ideológica do conservadorismo extrai daí a oportunidade de apagar o incêndio social com o maçarico da exclusão . 
 
A alternativa ao caos existe.
 
A seguridade social do futuro terá que ser financiada com um imposto geral, progressivo, cobrado de toda a sociedade. O contrário é o apartheid da velhice –e não apenas dos pobres, mas também da classe média-- em privação, abandono, desespero familiar e depósitos de barbárie.
 
O mesmo vale para os demais bens e serviços.
 
No dizer do professor Luiz Gonzaga Belluzzo (que recomenda o filme de Roberto Andó, ‘As confissões’, de onde deriva a enunciação de um personagem para adaptá-la à hora do Brasil) --‘Se queremos reaver a esperança, não podemos mais oferecer ilusões’.
 
A esperança capaz de levantar a rua e redimir os laços sociais em nosso tempo não nascerá da nostalgia de um padrão de desenvolvimento irrecuperável.
 
Nem do seu ‘ajuste’ pelas mãos dos alfaiates das crises humanitárias. 
 
A reforma estabilizadora e crível virá de políticas públicas que inovem diante das incertezas sociais e laborais, e respondam com justiça tributária ao desamparo que estilhaça e subordina a sociedade à ganância financeira.
 
Não por acaso, o que mais se evidencia nessa ciclópica transição emendada à crise de 2008, é a falta que faz agora tudo o que foi subtraído do Estado e da democracia no ciclo neoliberal anterior à explosão das subprimes – regulações, direitos, soberania, garantias trabalhistas, tributação da riqueza --que cedeu lugar ao endividamento paralisante do Estado, salários dignos, indução pública do investimento, amparo social enfim, laços de pertencimento e solidariedade fiscal e humana.
 
A virulência anacrônica do golpe brasileiro quer nivelar o país nesses quesitos, implodindo estruturas que o ciclo de governos progressistas preservou e ampliou.
 
Sua vitória pode estar fadada a ornamentar o cemitério da estagnação e o inferno da desigualdade. 
 
A volta da fome ao país, denunciada agora à ONU, é um sinal da combustão social que arde com rapidez assombrosa. O quadro falimentar do estado no Rio de Janeiro velado por uma procissão de corpos que cresce à razão de um assassinato a cada duas horas é outro grito de alarme.
 
A conclusão explode aos olhos de quem não foi contaminado pela cegueira tóxica do jornalismo isento.
 
Falta investimento público, falta demanda, faltam oportunidades, inclusão e sentido de esperança no capitalismo do século XXI. 
 
Esse corner humano e macroeconômico que o golpe mimetiza para barrar reformas e retificações de privilégios --requeridas pelo esgotamento do ciclo anterior de expansão-- é justamente o desafio ao qual o projeto progressista terá que responder com o desassombro histórico. 
 
A resposta conservadora é a ‘noite de São Bartolomeu’ em marcha que instaura a paz salazarista dos cemitérios.
 
Graças ao monopólio midiático, interditou-se o debate das alternativas à delicada transição de ciclo econômico (local e global) para a qual não existe saída fora da repactuação da sociedade em torno de políticas que fortaleçam, não esmaeçam, as dimensões compartilhadas do presente, do futuro e do passado da cidadania.
 
A manipulação midiática logrou assim avalizar ‘soluções’ que na verdade radicalizam a contraposição de interesses unilaterais, privilegiam os mercados e não os cidadãos, impõem uma regressão civilizacional inconciliável com a manutenção do Estado democrático e, por fim, corroem aquilo que tão arduamente se reconquistou, a autoestima brasileira.
 
Sobra o quê? 
 
Uma ruptura mais profunda do que a mera destituição de um Presidente da República.
 
De diferentes ângulos da economia e da sociedade já emergem avisos de saturação estrutural.
 
Em 1964, a transição rural/urbana impulsionada pela ditadura militar abriu uma válvula de mobilidade momentânea –às custas de uma urbanização de periferias conflagradas-- para as contradições violentas de uma sociedade que já não cabia no seu modelo anterior. 
 
Mesmo com essa válvula de escape, a repressão do regime foi brutal. Hoje não há fronteira geográfica ‘virgem’ para amortecer a panela de pressão da nova encruzilhada do desenvolvimento turbinada pela finança e a tecnologia poupadora de empregos e direitos.
 
As legiões que não couberem aí serão escorraçadas, como estão sendo, pela explosiva segregação que se anuncia, atiradas a uma periferia constitucional e, assim, coagidas a reagir de forma explosiva ou perecer.
 
Erra esfericamente quem imagina que esse estirão pode ser mitigado com a maciça entrega do que sobrou do patrimônio público depois do governo do PSDB.
 
Privatizações não agregam força produtiva nem vagas; apenas concentram ainda mais a renda; definham adicionalmente o já enfraquecido poder indutor do investimento público, reduzem o fôlego do Estado com remessas descasadas de receitas exportadoras. 
 
Radicalizam , enfim, o que o país mais precisa superar.
 
A reedição de um novo ‘1964’ exigiria, desse modo, uma octanagem fascista drasticamente superior à original, para prover o aparelho de Estado do poder de coerção necessário à devolução da pasta de dente social a um tubo que na verdade nem existe mais. 
 
Não há uma terceira escolha. 
 
É voltar às urnas na esteira de forte mobilização da sociedade; ou entregar a nação a uma ‘longa noite de exceção’ de desdobramentos incontroláveis.
 
Essa é a disjuntiva. 
 
Moro se empanturrou da ração midiática na qual foi cevado nos últimos anos. 
 
A sentença com a qual pretende ‘limpar esse terreno’, interditando o nome de quem pode barrar a imissão de posse violenta, não vai mudar, nem resolver a encruzilhada estrutural da qual Curitiba é um simples adereço de mão do conservadorismo.
 
A opção à deriva imponderável cabe à resistência democrática progressista --se cumprir certos requisitos. 
 
Ela terá que ser construída nas ruas, a partir de um desassombrado aggiornamento de sua visão de futuro.
 
A esperança capaz de levantar as ruas –repita-se—não admite mais ilusões. 
 
A repactuação do desenvolvimento brasileiro só deixará de ser uma miragem flácida se calcada em amplas políticas de infraestrutura e inclusão social –inclusive dos filhos de uma parte expressiva da classe média que terão que se inserir em sistemas públicos de educação, saúde e lazer. 
 
O novo é o que é público e comum. Assim como as escalas se ampliam na economia das grandes corporações, elas terão que ser magnificadas também na esfera dos acessos e direitos consagrando o bem comum. 
 
Moro não calará Lula, assim como não silenciaram Mandela, se ele se tornar desde já o porta-voz desse arrebatador projeto de futuro compartilhado.
 
Aquele que repactua a nação consigo mesmo e com o século XXI através de políticas públicas e tributárias que viabilizem o que a elite brasileira – e sua escória parlamentar—se empenha em sonegar: o direito de a maioria sair da soleira do lado de fora do país e da civilização para desfrutar da principal riqueza do nosso tempo: direitos, oportunidades, serviços e espaços públicos dignos para todos.

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Delação de Marcos Valério é um tapa na cara e outro na bunda da quadrilha de Curitiba


Janio de Freitas: 
O colunista tem certeza que o acordo de delação premiada firmado entre publicitário e empresário Marcos Valério e a PF - Polícia Federal - "torna-se mais ácido para a contrariada lava jato com um tempero incluído nas denúncias prometidas".

"O período que Valério se dispôs a abranger não começa, como na Lava Jato, com o governo Lula. Ele oferece a revelação do sistema que financiou, por meio de suas empresas de publicidade, desvios financeiros desde o governo de Fernando Henrique. O contrário do que a Lava Jato admitiu aos seus delatores", escreve Janio, que lembra que a delação do publicitário chegou a ser rejeitada pela PGR e pelo MP mineiro.
O jornalista lembra que "mais de um delator da Lava Jato referiu-se ao período anterior a 2003", como Pedro Barusco, mas as acusações "não entraram na zona de denúncia e acusação da Lava Jato. Quando lá apareceu, inesperada, uma menção a algo 'no governo Fernando Henrique', ficou também registrado o brusco e definitivo 'isso não interessa!".
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Fernando Horta - colunista do dia


A humanidade, de tempos em tempos, é acometida por um medo irracional de seu semelhante. Desde as muralhas construídas nas primeiras Cidades-Estado da Mesopotâmia, passando pela Muralha da China, pela Muralha de Adriano, o Muro de Berlim e chegando aos atuais muros da Cisjordânia, de Belfast, e a tentativa feita por Trump, na fronteira dos EUA e México. Existem inúmeros outros, com certeza. Em todos os continentes, em todas as culturas, em todos os tempos. Na prática, os muros sempre serviram para proteger algo que algumas pessoas julgavam valioso, de quem era julgado desprezível ou dispensável. Desde razões religiosas, econômicas e até, mais recentemente, culturais são invocadas para consecução material do nosso ódio ao outro: o muro.
Temos inúmeros muros no Brasil. Qualquer condomínio fechado, ou casa com cerca elétrica, é uma reprodução em miniatura deste ódio atemporal que cultivamos. Mas, como a História mostra que os meios mais baratos de contenção não são os físicos, existem muros, de palavras, de valores e até de vazios. Brasília é um bom exemplo. Quem conhece sua urbanística atual percebe que imensos espaços vazios afastam as populações mais pobres dos núcleos ricos ou de onde se exerce poder. Portanto, o muro pode ser de concreto, de pedra ou de vazios. Continuam sendo muros, cujo objetivo é separar e evitar que aqueles que estão fora, entrem.
É bem provável, também, que muitos dos governantes atuais adorassem a ideia de construir muros, Brasil afora. A História recente mostra que não há tijolo colocado sobre cimento e tapado com argamassa neste país que não tenha uma contraparte em dólar alguma conta no exterior. O problema é que nossos governantes não tem o poder do Imperador Romano Adriano, nem o tempo das dinastias chinesas ou o dinheiro da América do Norte de Donald Trump para construir muros. E, no Brasil, seriam necessários muitos muros, pois os indesejáveis estão nos sinais, nas periferias, nas favelas e nas ruas. Deixaram de respeitar o acordo tácito dos lugares em que podiam ou não ir. E por fazerem isto, são expulsos a cassetete, água gelada ou incêndios “acidentais”. Expulsões tópicas, porque caras e ineficientes.
Na impossibilidade material de se livrarem definitivamente dos indesejáveis, o vice-governo brasileiro atende às elites que o ajudaram no golpe e cria uma série de medidas-muro, cujo objetivo não é outro, senão afastar o jeguedé. O ministro da saúde já deixou bem claro que se deve arredar os indesejáveis do atendimento médico. “Não há orçamento”. Começaram atacando e destruindo o Programa Mais Médicos, as Farmácias Populares e, dentre tantas outras coisas, agora estão acabando com a distribuição de remédios para contenção do vírus HIV. Os diversos muros de Barros visam impedir que os malnascidos possam sobreviver. No entanto, ele Barros se esconde atrás de muros de escudos. Muros que só os ovos conseguem ultrapassar.
Na educação, muros de livros são erguidos. São muros “sem partido”. O muro de Mendonça, filho da ignorância de que a política desune, “reformou” o ensino para dividir. O público terá menos livros, menos professores, menos conhecimento, mas os indesejáveis filhos dos miseráveis brasileiros ficarão presos nas escolas por mais tempo. Presos nos muros da benevolência que esconde a vontade de separar. Os educadores, estes pobres diabos, que se virem com os pequenos trastes lá dentro. Crianças contra quem o governo claramente reergue o muro no ensino superior. Desmontam-se os financiamentos, destroem-se as bases curriculares e os filhos do Brasil pobre jamais saberão o que é uma “clava forte”, já que nunca deitaram em berço esplêndido. Se ousaram, um dia, diminuir os muros da desigualdade econômica, que criemos o meritocrático muro do conhecimento.
Por outro lado, construída com frágeis tijolos jurisprudenciais e muito cimento de convicção, ergue-se a muralha da justiça. Certamente com letra minúscula, como quem a tem aplicado. O Mouro e o Evangélico se unindo contra o Brasil que comia. Contra o Brasil que tinha emprego. Se a justiça já tinha em si muros imensos no Brasil, agora os têm convictos de que nada mais é necessário para encarcerar do que a vontade do encarcerador. Se nunca foi igual para todos, a verdade é que ousaram dizer – um dia – que pobre tinha direitos. Tem sim, eles nos lembram. Aquele direito que surge de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte e de fome um pouco por dia. Aos amigos tudo, aos inimigos a covardia. Escondida nas togas que, atualmente, nada mais têm do que a legitimidade do tecido negro.
Mas, a maior das muralhas está sendo construída. Em silêncio. Tijolo por tijolo para se certificar que o poder seja, novamente, intocável neste país. Os desafortunados, os indigentes, os desprovidos tiveram a audácia de por quatro pleitos pensarem que eram brasileiros. Esqueceram-se de quinhentos anos da mesma história sendo repetida. A golpes de chicote, no pau-de-arara ou com spray de pimenta. Fingiram-se de desentendidos e chegaram a gritar “diretas já”. Temer, Mendes e Maia constroem o parlamentarismo no Brasil. Nosso “cordón sanitaire”. A certeza de que as urnas, quando abertas, represar-se-ão (e eis a beleza da mesóclise) na Brasília do vazio. Aquela. Um parlamentarismo distrital, com as listas fechadas e esta mendicância pedinte e maldotada, que tem o desplante de se achar digna do artigo 5º, voltará a entender o seu lugar no país. Separada por muros. Sem tocá-los. E sem grafite.
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