E agora José?


Montado dentro da Casa Civil da presidência da República, o dossiê sobre gastos sigilosos feitos durante o período Fernando Henrique Cardoso abrange os anos de 1998 a 2002.

O que vazou para a VEJA e a Folha de S. Paulo foi parte do dossiê. Com 13 páginas, lista despesas de 1998 a 2000.
A outra parte do dossiê permanece inédita. Ela se refere aos anos 2001 e 2002.

Quem divulgou a parte conhecida do dossiê foi o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Ele se recusa a dizer de quem a recebeu.

Por meio de seus porta-vozes informais, o governo espalha que há um espião do PSDB infiltrado na Casa Civil. E que foi ele que repassou para Dias o que a oposição e a mídia chamam de dossiê.
Em conversa informal com jornalistas, Dias sugere que recebeu o dossiê de um parlamentar que apóia o governo, mas que discorda do uso de informações para chantagear a oposição.

A parte conhecida do dossiê reúne gastos que em nada comprometem o ex-presidente Fernando Henrique e sua mulher dona Ruth Cardoso. São gastos com aluguel de carros, compra de bebidas, lixas de unha, óleo para passar no corpo - enfim, miúdezas justificáveis.

Gastos que poderiam constranger o casal, principalmente se revelados fora de contexto, constam da parte ainda desconhecida do dossiê e se referem aos anos 2001 e 2002.

O cartão corporativo para uso em serviço de autoridades da administração federal foi criado em 1998, mas só implementado em agosto de 2001. Antes dele existia um fundo que bancava despesas sigilosas do governo.

Quando o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, disse a um senador da oposição que até a compra de um pênis de borracha fazia parte da relação de gastos sigilosos do segundo mandato de FHC, referiu-se a um ítem que consta da parte ainda inédita do dossiê.

É razoável deduzir, pois, que a parte do dossiê conhecida com despesas, chamemos assim, "inocentes", circulou para prevenir a oposição sobre o que poderia estar por vir caso ela teimasse em investigar a fundo as despesas sigilosas do governo Lula.

Ao vazar o que recebeu, o objetivo de Dias era, primeiro, desgastar o governo e, segundo, abortar uma eventual divulgação do resto do dossiê. Dias teve êxito.

O governo foi obrigado a reconhecer que os dados do dossiê fazem parte, sim, de um banco de dados da Casa Civil. E se apressou em anunciar que nada existe ali capaz de deixar mal o casal FHC.

Esse será mais um nebuloso episódio do governo Lula destinado a dar em nada.

Ao governo não interessa apurá-lo - afinal, ele sabe quem mandou montar o dossiê e quem o montou. Funcionário algum da Casa Civil ousa dar qualquer passo sem antes consultar a ministra Dilma Rousseff. Ela é o ministro mais centralizador do governo Lula.

A oposição não tem como apurar o episódio. Pediu que a Polícia Federal apurasse, mas o ministro Tarso Genro, da Justiça, se apressou em garantir que ela não o fará.

Quanto à CPI do Cartão Corporativo, ela nasceu morta. E não ressuscitará. O governo dispõe na CPI de folgada maioria de votos para barrar qualquer proposta da oposição que lhe pareça incômoda. E não tem a menor vergonha de acioná-la.

Nenhum comentário:

Postar um comentário