Corre por aqui uma piada sobre a abolição dos escravos no Ceará, antecipada à da princesa Isabel, que nos legou o apelido de "Terra da Luz". Dizem, maldosamente, que nós cearenses acabamos com a escravidão porque no Ceará não havia escravos. Tivemos que importar dois de Pernambuco para libertar. Pois a coisa parece se aplicar à recente eclosão de reservas indígenas em nosso estado.
O governo acaba de dar nada menos de 1.731 hectares de terras valiosas no município de Aquiraz a um grupo indígena Jenipapo-Kanindé. Essa é apenas a primeira de uma série de reservas indígenas no Ceará, cujos processos de reconhecimento tramitam pelo INCRA.
Engraçado que nunca se ouviu falar em índio no Ceará antes da invenção dessa política de arrependimento generoso que está fatiando parte do Brasil entre índios e negros. Por todos os estados surgem quilombolas e indígenas reivindicando terras, nas quais nem eles nem seus ancestrais jamais pisaram.
Antes dessas leis de penitência, só se via índio no Ceará durante o Carnaval, andando pela rua Senador Pompeu, em Fortaleza. Depois, a única tribo era de metal, formada pelos Xavantes da FAB, na escola de pilotos da Base Aérea, que já foram embora. Tinha um punhado de remanescentes dos Tapebas, ali em Caucaia, revelados por nós e pelo Rodolfo Espínola, como registra o Instituto do Ceará, e que cabiam num jipe.
No mais, só nas séries do Cine Rex, na General Sampaio. Era só. Hoje o governo prepara decretos destinando outras grandes áreas, todas valiosas e próximas do mar, que índio lá no interior só mesmo os do José de Alencar, que assim mesmo vinham lá do Piauí (além, muito além daquela serra) para tomar banho de mar no litoral cearense.
Nos nossos tempos de colégio jamais se estudou a presença cativa de tribos indígenas no Ceará. Os de que se tinham notícias eram apenas pequenos grupos, nômades, que nunca se fixaram em grandes comunidades e não deixaram rastros.
Vejam a nossa própria literatura, como é pobre, paupérrima mesmo, em matéria de índio, ao contrário do Maranhão, por exemplo, onde eles eram cantados em prosa e verso e ainda hoje existem em tribos organizadas, ocupando as mesas das terras onde estavam quando Cabral aportou por aqui. Não tenham dúvida de que essa política de "reconhecimento" tem mais alguma coisa por trás.
O fato é que não temos índios de verdade para ocupar e cuidar dessas terras, explorá-las racionalmente e mantê-las longe da especulação imobiliária. Logo aparecerão "empreendedores" dispostos a ajudar e todas essas imensas áreas logo estarão ocupadas pelos caras-pálidas, a troco de alguns espelhinhos . Seria bom que o INCRA apresentasse um mapa , mostrando quantos são, onde estão e como vivem os índios cearenses. É claro que não vale botar os do Carnaval, que nem mesmo são mais encontrados na Senador Pompeu.
talvez vc precisasse se informar melhor. Pode começar com este livro aqui: Vila de Índios no Ceará Grande - Dinâmicas locais sob o Diretório Pombalino. de Isabelle Braz Peixoto da Silva
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