Líbia

Matança que revela a verdadeira natureza de uma agressão chancelada pela ONU a um país soberano



Ataque à casa de Kadhafi expõe o desespero diante da resistência firme dos líbios

"Devemos tirar de suas mãos o comando e o controle do país, e se ele for morto ou ferido devido a isso, tudo bem. Precisamos de uma estratégia para ajudar os rebeldes a serem bem sucedidos e derrubarem Kadhafi e quaisquer outros associados a ele".
Senador John McCain, candidato presidencial republicano nas últimas eleições nos EUA, que foi pessoalmente levar apoio aos insurretos de Benghazi.


 Só não digo que o bombardeio à casa do presidente Muammar Kadhafi, no bairro residencial de Garghour, passou de todos os limites porque não há limites de espécie alguma na agressão à Líbia, "lavada" por um pusilânime Conselho de Segurança da ONU, com aquela máscara hipócrita de criação "de uma zona de exclusão aérea".

Vocês me desculpem, mas o assassinato de um filho e três netos do líder líbio alvejou-me no mais profundo dos meus sentimentos de indignação. Queria ser mais jovem, como naqueles idos, e não me bastaria com o ato de escrever.

Essa monstruosidade que está sendo perpetrada com a chancela e a omissão de governos que jamais poderiam calar cristaliza, em alto relevo, a insegurança internacional, abrindo um perigoso precedente: qualquer país pode ser alvo da mesma trama, desde que os donos do mundo decidam apoderar-se de suas riquezas para superar suas insanáveis crises internas.

O mais revoltante é a ca ra de pau dos governos assassinos: mandam atirar sobre a residência do governante, matam crianças inocentes e ainda juram de pés juntos que não estão cometendo tais crimes. Que só querem atingir alvos militares, sem fazer vítimas.

Isso que aconteceu no sábado em Trípoli é de uma gravidade inimaginável. Para ajudar um grupelho que armou e abastece, grupelho que já teria sido derrotado se o conflito ficasse no âmbito do povo líbio, alguns governos ocidentais arrancaram da ONU uma imprudente decisão destinada oficialmente "a proteger" o que seria a população civil do país.

Com tal mandato, norte-americanos e seus aliados europeus, puxados pela França, despejaram milhares de mísseis e bombas sobre as cidades líbias, destruindo suas infra-estruturas e reduzindo ao mínimo as condições de habitabilidade em quase todas as regiões bombardeadas.

Os corpos do filho e dos netos de Kadhafi foram reconhecidos pelo bispo católico de Trípoli

Bombas  despejadas pela OTAN destruiram várias partes  da casa de Kadhafi e mataram um filho e três netos menores de 12 anos.

 
Conselho da ONU ou reage ou se desmoraliza

Não precisa ser especialista para constatar que a própria resolução foi escancaradamente violada. O que seria uma missão de proteção de civis, manobra solerte que eu já havia denunciado antes mesmo do início das agressões, tornou-se uma sequência de matança de cidadãos indefesos e de destruição de um país.
.
Mas é preciso ter dotes sobrenaturais para entender porque toda essa violência prossegue sem que o próprio Conselho de Segurança se reúna para avaliar a burla e para determinar a suspensão das agressões, consumadas em seu nome.

Maior dote é ainda necessário para entender porque certos governos, pri ncipalmente os que assinaram a resolução, optaram pela mais covarde omissão. Uma nação inteira está sendo destruída  em nome da ONU, e não se tem notícia de nenhuma movimentação diplomática para frear essa intervenção estrangeira, que desrespeita normas elementares da convivência e do direito internacionais.
 
Só alguém sem o menor escrúpulo, sem o mínimo de apreço pela verdade, seria capaz de reproduzir a versão de que os mísseis lançados sobre a própria casa de Kadhafi não tinham por objetivo EXECUTÁ-LO junto com sua família, num ato criminoso de desespero diante da fibra do povo líbio.

Porque os líbios lutam

A resistência aos bombardeios da "aliança" ocidental já deixou clara uma firme disposição de enfrentar a poderosa tecnologia bélica ocidental mesmo que tenha que recorrer ao arco e à flecha.

Esse povo não está defendendo apenas o seu petróleo, objeto do desejo insaciável dos agressores estrangeiros, cujos mercenários internos treinados pela CIA,  estão virtualmente encurralados.
Mais do que essa riqueza, muito mais, os líbios que resistem aos bombardeios estrangeiros querem garantir as conquistas sociais que o g overno de Kadhafi lhes oferece, como o ensino público gratuito em todos os níveis, que incluem a concessão de bolsas total para que pelo menos 10% dos jovens em idade universitária estudem nas melhores faculdades da Europa e dos Estados Unidos.

Querem preservar, a custa da própria vida, os avanços sociais que colocam a Líbia à frente de países como o Brasil em índices de desenvolvimento humano, que retirou as massas do analfabetismo, - hoje 90% dos líbios estão livres dessa peste, exatamente o percentual de analfabetos que existia no país antes da queda da monarquia corrupta e da ascensão de Kadhafi.

Que têm um sistema de assistência social tão abrangente, em condições de socorrer com dignidade as populações carentes e até mesmo de atrair emigrantes de outros países: cerca de 1 milhão e meio de egípcios, além de outros milhares de africanos, estavam lá, provendo seu sustento em condições razoáveis.

Desde 2007, o maior si stema de irrigação do mundo

Você não sabe, porque essa mídia aí é por demais tendenciosa, mas os líbios têm razão de sobra para preferir o coronel nacionalista aos corruptos cooptados pela CIA e pelos serviços secretos da França e da Inglaterra.

Veja mais algumas:

Ao casar, o casal recebe do governo até o equivalente a US$ 50.000 para adquirir seus bens.

O Sistema público de saúde gratuito rivaliza com os europeus e usa equipamentos de última geração. Todos os segmentos são atendidos. No sábado, mísseis da OTAN alvejaram também a escola para crianças mantida pelo governo, através da Sociedade Líbia da Síndrome de Down, responsável pela preparação de crianças com até 6 anos para que possam frequentar as aulas regulares, dentro de um programa que é referência para a OMS.

Os empréstimos do banco estatal têm caráter social: não cobram juros.

Inaugurado em 2007, o maior sistema de irrigação do mundo, vem tornando o deserto (95% da Líbia), em fazendas produtoras de alimentos.

O governo líbio contratou com a empreiteira brasileira Queiroz Galvão a construção de 1 milhão de casas, no prazo de 10 anos, para uma população total de 6 milhões e meio de habitantes. Com os bombardeios, estão paralisadas essas obras e outras confiadas às empresas brasileiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, em projetos orçados em 3 bilhões de euros.

Da mesma forma, além de apoderar-se de um petróleo de alta qualidade e baixo custo - a extração sai por US$ 1,00 o barril - os responsáveis pelos bombardeios querem desmontar o modelo econômico líbio, soberano e desatrelado do dólar e do euro, graças às suas reservas em ouro. O Ocidente não admite que outros países da África se associem à Líbia na criação de uma moeda única e soberana, iniciativa que poderá vingar no futuro.

Bombardeio pode ter saído pela culatra

Pode-se dizer neste m omento que o bombardeio saiu pela culatra. Há um clima de comoção e revolta na maior parte da Líbia, o que levou populares a invadirem sedes diplomáticas da Inglaterra e da Itália, enquanto as forças leais ao governo retomavam com maior empenho as ações para resgatar a cidade de Mistrata, a terceira maior do país, provocando a fuga de insurretos que estão buscando o socorro de organizações humanitárias internacionais.

Não há igualmente como mascarar com nenhum pretexto o caráter da intervenção estrangeira, que recorre à torpeza do pior terrorismo para derrubar o governante líbio e apoderar-se de suas riquezas petrolíferas com a ajuda de um grupo títere, que se concentra em Benghazi, sob proteção da aviação da OTAN.

O morticínio do filho e netos de Kadhafi deve deixar os governantes do mundo na maior saia justa. Se permanecerem omissos diante dessas atrocidades, estarão desmoralizando o que resta de credibilidade do sistema internacional e legitimando u m "direito imperial" que ameaça a todos os povos.

Principalmente os que ousarem priorizar os interesses nacionais no contexto de uma economia em que alianças econômicas novas emergem, deixando as velhas potências isoladas e perdidas em suas próprias crises. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário