Palocci e as escolhas de Dilma

A denúncia contra Palocci parece consistente. Ah, mas a "Folha" quer desgastar a Dilma… E daí? O fato ocorreu ou não?

Ah, mas a denúncia foi vazada por "ruralistas" interessados em enfraquecer o ministro. E daí, de novo? É só quando os poderosos divergem que essas coisas vêm à tona…

Sim, Palocci (contradição do mundo real?!) cumpria nesse caso um papel positivo: negociava duramente com os ruralistas da base governista, para que aceitassem um Código Florestal menos retrógrado do que o proposto por Aldo Rebelo.

Por isso, criticar Palocci agora – dizem alguns apoiadores de Dilma – é fazer "o jogo da direita". Será?

Aliás, se o caso surgiu como "fogo amigo" de dentro da base governista, por conta da votação do Código Florestal, a essa altura parece ter ganho dinâmica própria. Os jornais já relacionam o enriquecimento de Palocci à campanha de Dilma. Vale a pena manter um ministro que traz esse grau de instabilidade ao governo?

Quem acompanhou os bastidores da campanha eleitoral de 2010 sabe qual foi a opção de Dilma e do núcleo dirigente do PT no primeiro turno: tentaram ganhar a eleição só com o programa de TV e a popularidade do Lula. A idéia era ganhar sem fazer política. No primeiro turno, foi assim: campanha controlada pelo marqueteiro e pelos 3 porquinhos (Palocci, Dutra e Zé Eduardo).

Quem fez política foi o Serra. Politizou pela direita: trouxe aborto e religião para a campanha. Com isso, empurrou milhões de votos pra Marina, e levou a eleição pro segundo turno. Aí, a ficha no PT caiu. Dilma e o núcleo da campanha finalmente compreenderam o que já estávamos vendo na internet há semanas: o terrorismo conservador. Dilma deixou os conselhos do marqueteiro de lado, teve coragem de ir pra cima no debate da "Band" (primeiro domingo do segundo turno): pendurou no pescoço do Serra a história do aborto (a mulher de Serra tinha dito que Dilma gostava de "matar crancinhas"), falou em Paulo Preto, reanimou a militância.

Se Dilma tivesse insistido no figurino do primeiro turno, poderia ter perdido a eleição. Pesquisas internas, pouco antes do debate da Band, davam apenas 4 pontos de diferença sobre Serra no início do segundo turno. Foi a realidade que levou Dilma a mudar de figurino.

Pois bem. Passada a eleição, Dilma montou o ministério e começou a governar. Como? Com o figurino idêntico ao usado no primeiro turno da eleição:  sem política, longe dos movimentos sociais, procurando agradar o "mercado" e a "velha mídia". Foi uma escolha.

Palocci tem a ver com isso. Coordenou a campanha. Ele quer um governo moderadíssimo, que não assuste a turma a quem dá "consultoria".

Logo no início do governo, estava claro que Dilma procurava ocupar um espaço mais ao centro. Lula tinha (e tem) apoio da esquerda tradicional, dos movimentos sociais, do povão que saiu da miséria. Dilma foi em direção à classe média que lê a "Veja". Com Palocci à frente. Palocci é amigo da "Veja" e da "Globo". Palocci é blindado na "Globo". Perguntem ao Azenha o que aconteceu na Globo quando ele tentou fazer uma reportagem sobre o irmão do Palocci, 5 anos atrás…

Renato Rovai publicou em seu blog um texto que mostra a repercussão desastrosa – para o governo – do caso Palocci nas redes sociais. Como aconteceu na eleição, com o aborto e a onda consevadora: primeiro os temas batem na internet, depois chegam às ruas.

Assim como ocorreu na eleição, Dilma talvez perceba que o figurino palocciano não garantirá estabilidade ao governo. Com quem ela vai contar quando enfrentar crise séria? Com a família Marinho? Com os banqueiros?

Dilma segue com popularidade alta. Mas o caso Palocci mostra os limites do governo. E os riscos que ela corre diante da primeira crise mais grave. Pode faltar base social…

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Um comentário:

  1. Marco Antônio Leite23 maio, 2011

    Você sabe ou sabia o que é “preconceito lingüístico?”

    Uma vida dedicada ao magistério, ensinando Português – gramática, redação, literatura para ao chegar aos meus 81 anos e... tudo o que eu corrigi e fiz pelos meus alunos, estão rolando por água abaixo. Agora, hoje, precisamente ´todas as correções, todas as tentativas de formar pessoas com uma linguagem “escorreita” nada mais são do que preconceito lingüístico!!!
    “Os menino pega os peixe” e depois “pega os livro e num consegue lê!” é a forma adequada de se falar, sem preconceito lingüístico!!!!. E eu estou muito preocupada com o que fiz durante 28 anos de magistério: as reprovações, as correções, as exigências para que meus alunos tivessem e falassem uma Língua culta...que absurdo D. Maria do Carmo ter sido tão exigente e intransigente!
    Li hoje em O Estado de S. Paulo do sr. Humberto de L. Freire Filho a quem peço licença para reproduzir:
    “Vou convidar Lula, Fernando Hadad, Ana de Hollanda e Ideli Salvatti para pescar na Billings. Nóis pega os peixe e depois divide!”

    Sr Ministro da Educação o que está acontecendo é um retrocesso. Como será feita a avaliação desses alunos em um vestibular? Ah!... já sei as provas serão em forma de teste de múltipla escolha ...e as questões serão as mais simples possíveis, tipo assim:
    Assinale a forma adequada, isto é, sem preconceito lingüístico:
    ( ) nós pegamos
    ( ) nois pega
    ( ) nós estamos pegando

    Meus amigos, isso me dói profundamente no coração. –“A última flor do Lácio, inculta e bela...” ao redigir este verso em seu poema, Olavo Bilac parece ter uma visão de futuro e foi usado para designar o nosso idioma considerado a última filha do Latim e segundo pesquisa no Google: “O termo inculta fica por conta daqueles que a maltratam falando e escrevendo errado, mas que continua a ser bela!”

    Chorem comigo! Parece que estou no velório da Língua Portuguesa – a que é inculta e bela!
    Abraços a todos vocês e se quiserem repassar...

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