Semana passada em suas Cartas de Paris, a Carolina Nogueira tocou em um assunto polêmico que nós brasileiros adoramos dar pitaco. Porque, diz a lenda, fazemos justamente o contrário do que diz a cartilha anglo-saxã e francesa.
O assunto era o popular rendez-vous, no sentido mais amplo possível. Encontro, compromisso, hora marcada. É tudo rendez-vous. Será que na Alemanha é mesmo pior?
Em alemão, rendez-vous se diz Termin. Queria relatar algumas experiências verídicas com os Termine que marquei e comprovei que alemão também dá bolo e fura no maior estilo, digamos, sulamericano. Parênteses: se você também não é um furão e valoriza uma hora marcada, bem-vindo(a) ao (grande) clube.
Semana passada, convidei minha ex-professora de alemão, Ulrike, para um Kaffee trinken aqui no meu apê. Termin marcado com 3 semanas de antecedência. Até que não é muito. Ela sugeriu o horário, 15h, e o dia. E no dia saí para comprar bolo - a hora do Kaffee trinken TEM que ter bolo - toda me achando a mais alemã da paróquia. Deu 15h10 e alguma coisa me dizia que ela ia esquecer. Dito e feito.
Deu até para esquecer o famoso ditado “5 Minuten vor der Zeit, ist die Deutsche Pünktlichkeit” (pontualidade alemã é chegar 5 minutos antes da hora marcada). Depois ela mandou um email dizendo que “esqueceu completamente o Termin”. Ainda bem que eu já aprendi como se diz “cara-de-pau” em alemão. Uso com frequência, aliás.
A Carol disse que marcou um rendez-vous de uma festa de aniversário com 2 meses de antecedência. Pois eu tenho um recorde maior, bem maior. Em fevereiro confirmei presença em um aniversário que só vai acontecer no dia 3 de dezembro. Isso mesmo, dezembro. É uma doença!
E nas reuniões familiares, o esquema é ainda mais intolerante. A sua mãe marca o jantar para as 19h e você liga dizendo que vai chegar às 19h12 porque deu um problema no bonde. Não tem choro, o jantar vai começar às 19h e você vai ter que esquentar as sobras. Em terras alemãs, nunca misture atrasos com refeição! A hora de comer é mais sagrada que entrevista de emprego.
E nem vamos começar a falar de espontaneidade, porque essa palavra não consta no dicionário dos alemães. Improviso também não! Aliás, quando você age com um pingo de espontaneidade, creditam o comportamento à sua intransferível “mentalidade sulista”, ou aquela história de “temperamento” que vocês já conhecem.
Resumindo, o rendez-vous alemão é uma versão “improved” do francês: um pouco mais (bem mais) de controle, neurose, antecedência e intolerância. E menos estilo, claro.
Tamine Maklouf
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