Chanel nº 5 e os tolos sem rumo, por A. Capibaribe Neto

No meio da semana passada, por volta das 11 horas da manhã, escutei dois estampidos de arma de fogo aqui, quase na esquina da Padre Antonio Tomás com Senador Virgílio Távora... Tiros, gritos de pavor, pedidos de socorro, sirene das viaturas de carros da polícia já se instalaram na nossa memória auditiva e, portanto, não deveriam mais chamar a atenção, mas chamou.

Corri à janela com a câmara em punho para ver que flagrante esperava por mim. Não era nada...! Apenas mais uma molecagem do trânsito, patrocinada por pessoas que não têm a mínima noção de viver em comunidade e que colocam suas pressas por coisa nenhuma acima de um mínimo de respeito pelo contexto do caos estabelecido em uma cidade que inchou a mais não poder: mal-educados de plantão, com pós-graduação em molecagem, que entravam nos cruzamentos sem a menor cerimônia e aí, para a sua alegria bizarra, detonam a paciência de quem já vive no limite de tanto desrespeito e violência.

Um desses pacatos cidadãos perdeu a paciência e reclamou do elegante moleque na direção de seu carrão de luxo. O imbecil mostrou o dedo que acirra os ânimos e foi o catalisador da explosão de mais um capítulo que por bem pouco não transformou o mal-educado em um convite de missa elegante no primeiro caderno dos jornais. Dois tiros cujas balas se perderam em algum lugar das avenidas. De repente, como que por milagre, o rapaz sem noção encontrou uma brecha para fazer sumir seu descaso pela impaciência alheia contida. Ninguém faz passeata contra a falta de educação dos verdadeiros cearenses moleques da capital que estacionam onde bem querem com o aval das autoridades do trânsito que não fazem absolutamente nada diante da "oficialização" do pisca-alerta como se esse sinal intermitente fosse um passaporte azul para um imbecil parar onde bem entende, deixando de ter a sua utilização para indicar uma emergência. Basta olhar em volta, em qualquer lugar, e lá está um mal-educado ocupando duas vagas com a menor cara de pau.

Fui testemunha de uma elegante senhora, apenas por fora, vestindo uma carga pesada de Chanel nº 5 de manhã, estacionar seu carrão sobre três vagas... Isso mesmo! Daí, uma cidadã chamou a atenção dela: "Ei, a senhora está ocupando três vagas...!" Sabe qual foi a resposta? "Mas é só enquanto vou fazer uma comprinha..." E já ia saindo quando a senhora, consciente dos seus direitos, abriu a porta, encarou a cortina de Chanel nº 5 a perfumar uma quadra inteira e disse bem séria e com os olhos bem fixos nos olhos da perfumada, sem nenhuma classe: "Tire já seu carro de cima das outras vagas... AGORA!" Até o perfume recuou e quase passa feder.

A mal-educada, igual àquelas que estacionam em fila dupla em frente às escolas, tremeu nas bases, resmungou um quase inaudível "não precisa se estressar" e estacionou como uma pessoa educada. Ninguém respeita ninguém em uma cidade onde um pisca-alerta é uma espécie de licença para um folgado atravancar o trânsito e o exagero do Chanel nº 5 um salvo conduto para uma madame que não imagina o que é bom para tosse se fizer isso na Europa ou nos Estados Unidos.

Agora mesmo, a molecagem volta a sua ira sobre a roubalheira que grassa com a história da Copa do Mundo e agride os jogadores da seleção, depreda, vandaliza, agride, bate e se diz um defensor... Defensor de quê, mesmo? Enquanto os jogadores são constrangidos e a imagem do País fica cada vez pior lá fora, os que deveriam ser incomodados, ter seus carros atravancados nas ruas se refestelam nas poltronas da impunidade e riem dos tolos sem rumo...

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