Tão só a blindagem ideológica impede os empresários brasileiros de ver a importância dos governos Lula e Dilma, portanto do PT, para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, portanto para seus negócios.
Por séculos, os governantes tinham origem ou ideologia conservadoras e limitavam-se a administrar o que existia de brasileiros no mercado, enquanto nos EUA todos os habitantes se viam envolvidos na produção e consumo. Milhões continuaram à margem no Brasil, formando um cordão de miséria que, além de imoral, mais drenavam recursos que ajudavam a acumulá-los.
Com a distribuição de renda vindas das políticas econômicas e sociais "lulo-petistas"muitos desses milhões passaram a ter carteira assinada, contribuindo para a produção e consumo, dinamizando a produção de bens e serviços. O salário mínimo dobrou de valor entre 2002 a 2012, cerca de 30 milhões do tal bolsão passaram a consumir. Mesmo quem recebia a bolsa família, saiu da miséria e começou a comer, comprar, viajar, ter acesso a cartão de crédito e etc. "Vão comprar mais garrafa de pinga", xingava o direitoso. Que seja, garrafas de pinga, além de uma ou outra cueca, leite, pão para as crianças, como se pode ser contra isso? E essas compras mínimas impulsionaram máquinas produtivas, gerarando empregos, estimulando investimentos, ajudando a formar círculos virtuosos de desenvolvimento. Não é uma proposta original. O americano Keynes pôs o ovo em pé muitas décadas antes. Mesmo o famigerado e glorificado Getúlio Vargas já tinha dito que para desenvolver o capitalismo tinha que contrariar os empresários. Os mais sagazes destes sabem da importância de formar mercado interno, mas querem que os outros aumentem as remunerações dos trabalhadores, não ele, individualmente. Portanto, só o Estado pode ter essa função.
Guerras mundiais foram feitas para conquistar mercados de consumo. No entanto, o nosso jazia há séculos, parasitando em nossa volta. Lula iniciou um processo de inclusão social, política, econômica e cultural. Paradoxalmente, também diminui o risco de uma revolução, pois ninguém mais conservador que um pequeno proprietário de terras ou uma pequena empresa, ou mesmo um cidadão com um pequeno e razoável patrimônio. Guevara aprendeu isso na Bolívia, que já tinha feitio reforma agrária em 1952, muito antes dele aportar por lá querendo levantar os camponeses contra o regime.
Com o aumento da remuneração, no longo prazo os empresários passarão a ter mão de obra bem mais qualificada que a atual. Com mais renda, as famílias tem condições de educar as novas gerações, a criminalidade é reduzida, assim como os gastos sociais, a previdência sobrevive.
Ao fim e ao cabo, a distribuição de renda pode ser a salvação dos PSDBs e dos DEMs, pois basta ver as pesquisas eleitorais e constatar que os votos desses partidos vão aumentando a medida que aumenta a renda.
Percival Maricato
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