Por Luís Fernando Vitagliano
Muita gente aparenta estar preocupada, assustada ou, pelo menos, incomodada com as manifestações de ódio e até com as especulações e pedidos de impedimento da presidenta.
Mas, o blefe não pode ser visto assim, porque o resultado improvável dos golpistas é menos importante que seus efeitos indiretos para a determinação do novo governo: trata-se de uma estratégia orquestrada para minimizar o impacto da vitória do PT e provocar a esperada acomodação conservadora que sempre se instaura com a derrota das elites.
Não, não há condições e não haverá terceiro turno. As eleições acabaram e o que está em jogo neste momento é qual será a direção do novo governo.
Não existe possibilidade objetiva para nenhum golpe. Em primeiro lugar porque não há apoio internacional e isso é pré-condição fundamental para qualquer ação antigoverno. Embora pareça jargão, é fato: se não há apoio dos Estados Unidos, não há condições materiais para o golpe.
E por que não há apoio dos EUA?
Em primeiro lugar, o próprio presidente Barack Obama obrigou-se a rapidamente dizer em público que reconhecia a democracia brasileira, parabenizou a presidenta reeleita e reconheceu o resultado das urnas.
Ou seja, dizia aos seus (aos investidores que têm dinheiro no Brasil) que qualquer aventura não contará com o arsenal ou o endosso do governo dos Estados Unidos.
Depois de atuarem fortemente nas eleições, apoiando no submundo da informação e do mercado e favorecendo um ou dois candidatos da direita, reconheceu a derrota e agora vai tomar sua clássica medida pragmática de minimizar possíveis perdas.
Fora o reconhecimento do atual governo, não há alternativa aos EUA. Apoiaria um impedimento da presidenta no Brasil ou um golpe civil ou militar se houvesse condições de vencer.
Mas, a qualquer indicação de que o governo Obama não iria reconhecer os resultados eleitorais do Brasil, China, Índia e Rússia fatalmente não vão se calar. O BRIC não silenciaria, diante dessa ação imperialista.
Reunidos no Brasil em agosto deste ano, duas medidas foram inéditas e fundamentais para a garantia de novas parcerias estratégicas que ressaltaram a soberania brasileira e sua independência: acordos de desenvolvimento de tecnologia próprios em segurança e defesa e o Banco dos BRICs, com a maior carta de crédito do mundo.
Foi, sem dúvidas, a maior vitória da política externa do governo Dilma em termos de resultados.
E não se trata de oposição aos EUA. Mas, de equilíbrio de poder.
Os EUA não vão bater de frente em uma aventura contra o Brasil. Sua avaliação agora é que se tencionar a relação podem ficar fora do jogo e perder a mais importante parceria estratégica do hemisfério americano.
Já avaliaram e sentenciaram que não existe essa condição de reverter o quadro e o próprio Obama já tratou de mudar a estratégia, do confronto à fraternidade.
Somado a esse fato, respiraram aliviados Mujica, Kirschner, Bachellet, Morales, Santos, Corrêa e Maduro, pelo menos.
Não se trata de bolivarianismo como branda a direita torpe. Mas houve, sim, o autonomismo tomando conta da região, depois da onda neoliberal dos anos 1990, que reivindicava a retomada do desenvolvimento tirado da América do Sul pelo Consenso de Washington. Por isso, tantos bastidores americanalhados nestas eleições.
Com as atitudes ligadas ao desenvolvimento nacional e autônomo por parte do governo, os militares no Brasil se deram por satisfeitos.
Mesmo que incomodados com as comissões da verdade, sabem que o apoio dos EUA custa sempre muito caro e as parcerias com Rússia, China, Índia, União Europeia e Mercosul são estratégicas ao Brasil. Se tem uma coisa que os militares concordam com o PT é em termos de segurança, defesa e política externa.
Ambas as forças debandadas, isolaram-se em seu palavrório as elites brasileiras.
Os investidores nacionais que perderam dinheiro com a derrota da oposição agora tentam convencer os investidores estrangeiros a retirar seu dinheiro do País, mas o próprio Banco Mundial hoje deu sinais de que não vai entrar na onda conspiratória e reforçou sua posição de que o Brasil é um bom lugar para investimentos.
Entre sangrar a economia brasileira para compensar a derrota nas urnas e a urgência de ocupar posições antes que China e Rússia o façam, a elite internacional já se decidiu.
De qualquer modo, a estratégia do choque e do terror é o último suspiro dos derrotados. Se não der certo, pode dar algum resultado. A ação se sustenta na teoria do choque: para vencer o inimigo e mudar a tendência da história, nada melhor que começar a disputa com um choque.
O choque neutraliza, imobiliza, trava e enquanto isso você tem momentos preciosos para a ação. O primeiro estrago de qualquer bomba é o barulho. Então, não é por nada que se faz muito barulho. Que já tem seus primeiros termos: é preciso acalmar o mercado.
Todavia, pensando objetivamente e afastadas todas as distopias do terror: a disputa foi vencida por um discurso de esquerda. A oposição não perdeu um jogo, não perdeu uma aposta, não perdeu uma guerra, perdeu a eleição de seu modelo.
E não existe nenhuma racionalidade no fato de que mesmo derrotados os agentes do mercado determinam as políticas econômicas. Além disso, Dilma só venceu porque reconheceu que precisa avançar em direção à ampliação da cidadania e isso implica hoje reduzir vários privilégios de setores parasitários.
Portanto, enquanto as negociações durarem, o clima de instabilidade é estratégico para a direita.
Mas, a mobilização das forças progressistas que ainda permanecem no pós-eleitoral é o antídoto a qualquer choque de gestão.
E isso tem mostrado que, de fato, ainda estamos no momento mais radicalizado no Brasil desde 1989 – assim: bastante delicado. Mas, entre as coincidências e os desencontros históricos, é preciso fazer valer que, desta vez, a eleição foi ganha pelo PT.
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