Sobre carnaval, máscaras e mascarados
Por Ronaldo Souza
Quem na infância não usou uma máscara ou desejou faze-lo no carnaval?
A imaginação dava asas à fantasia das crianças no seu universo único e encantado.
O maravilhoso mundo da criança.
O gesto infantil é na imensa maioria das vezes algo sublime... na criança.
Trazido para o mundo dos adultos é na maioria das vezes grotesco.
As máscaras parecem se encaixar nisso.
No carnaval da vida, patrocinado pelos adultos, as máscaras da "farsa" da criança que vira Batman e do homem que vira mulher desaparecem, perdem toda a magia.
Literalmente, caem.
O carnaval de 2015 está sendo rico nesse sentido.
Mascarados apareceram ou reapareceram e entraram no carnaval da vida sem nenhum pudor, mas não como personagens alegres, brincalhões, divertidos, e sim como farsa, aí sem aspas.
Nesse carnaval as máscaras caem.
Nesse carnaval não se brinca, difama-se.
Nesse carnaval carrega-se o estandarte do cinismo.
Nesse carnaval um bloco faz sucesso: o da hipocrisia.
Alguns foliões foram destaque na avenida.
Envergando não mais a capa preta que um dia já foi respeitada com o nome de toga, mas a do falso moralismo, Joaquim Barbosa foi um dos destaques da Escola de Samba Unidos do Golpe.
Porém, como em outros carnavais, perdeu o compasso e tropeçou nos próprios pés de sambista sem talento ao som do Samba do Crioulo Doido.
Abro um parêntese. Nada a ver com questão racial. Samba do Crioulo Doido é uma música de Sergio Porto (conheça aqui), mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, que escreveu entre outras coisas o livro Febeapá, Festival de besteira que assola o país.
Aliás, se Sérgio Porto, uma das inteligências do país, estivesse vivo, certamente escreveria outro Febeapá para o atual momento.
Voltando a Barbosa.
"Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a Presidente Dilma demita imediatamente o Ministro da Justiça".
Se fosse para levar a sério a sua declaração, ele já começa com um erro grosseiro na redação que parece que poucos perceberam.
O texto deveria começar com "Nós, e os brasileiros honestos, ..."
Ora Joaquim!
Por onde você andava com a sua indignação quando Gilmar Mendes deu dois Habeas Corpus ao banqueiro Daniel Dantas em menos de 48 horas?
O banqueiro Daniel Dantas foi preso e no mesmo dia Gilmar Mendes entrou com o primeiro Habeas Corpus. Daniel Dantas foi solto.
Outra ordem de prisão foi dada e Gilmar Mendes entrou com o segundo Habeas Corpus. Em menos de 48 horas. Daniel Dantas foi solto outra vez.
E solto até hoje está.
Por onde você andava com a sua indignação quando Gilmar Mendes deu o Habeas Corpus ao médico estuprador, Roger Abdelmassih, que depois fugiu do Brasil?
Por onde você andava com a sua indignação quando Gilmar Mendes resolveu pedir vistas e impediu a votação do STF sobre financiamento das campanhas políticas por empresas privadas, um mecanismo fortíssimo de corrupção?
O placar da votação já estava em 6 X 1 contra o financiamento de empresas às campanhas, ou seja, já estava garantida a eliminação desse mecanismo de corrupção. Mesmo sabendo que não tinha mais como reverter o processo, Gilmar Mendes pediu vistas, interrompeu a votação e há 1 ano está literalmente sentado em cima do pedido de vistas.
Por onde você andava com a sua indignação quando Gilmar Mendes (flagrado em grampo telefônico feito pela própria Polícia Federal) telefonou às 17:15 do dia 20 de maio do ano passado para o governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, do PMDB, preso em uma operação policial, solidarizou-se com ele e prometeu que iria ter uma conversa com o colega ministro Dias Toffoli sobre o caso?
Por onde você andava com a sua indignação quando o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, sentou em cima do processo de Aécio Neves por desvio de 4,3 BILHÕES DE REAIS da Saúde e o arquivou antes de se aposentar?
Por onde você andava com a sua indignação quando começaram as prescrições do mensalão tucano que nunca foi julgado nem sabem os deuses do carnaval se algum dia será?
Por onde você andava com a sua indignação quando estourou o escândalo do Trensalão em São Paulo, em que ninguém do PSDB foi julgado nem será?
Onde estava a cabeça de Joaquim Barbosa ao exigir a demissão do Ministro da Justiça porque teria recebido os advogados do episódio da Petrobras?
No sambódromo.
No camarote da Globo.
No camarote de Luciano Huck.
Ministros do STF, como Gilmar Mendes e Ayres Brito, podem ir a lançamentos de livros cujos temas são... o mensalão, ainda durante o transcorrer do julgamento.
Ministros, como Ayres Brito, podem escrever o prefácio de um desses livros, ainda durante o transcorrer do julgamento.
Mas o Ministro da Justiça não pode receber advogados de um processo da magnitude desse que envolve a Petrobras.
Farsa.
Tudo isso é só porque o Ministro da Justiça declarou que a PF deveria investigar o PSDB na Lava Jato.
Só, somente só, como diz a música de Morais Moreira (Novos Baianos), sempre muito bom de carnaval.
A Escola de Samba Unidos do Golpe é há algum tempo a mais poderosa entre as escolas.
As suas alas mais tradicionais, como mídia e oposição, tradição de muitos anos, alcançaram um elevado nível de sintonia e conseguem tirar nota 10 em todos os requisitos. A ala das baianas, pelo contrário, é fraca, muito fraca, com atuações muito "imbassadas", sem brilho.
Uma ala sempre fraca cresceu em número de participantes nos 12 últimos carnavais; a dos micos amestrados.
Pela sua importância, é sempre a última nos desfiles.
Desconhecedores de tudo, principalmente do enredo, os seus membros são sempre orientados a seguir os passos dos mestres-sala e portas-bandeira da ala da mídia.
Hoje dominam essa arte.
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