O Petróleo derrubou Kadafi na Líbia, provoca guerras no mundo, e o glorioso Senado da República quer descutir e decidir o futuro da utilização do Petróleo no Brasil numa tarde, parte da manhã e parte da tarde. Isso é absolutamente inusitado e, a meu ver, degradante.
O que há por trás disso? O petróleo desencadeia guerras, o petróleo derruba governos, e aqui no Senado da República, numa discussão por uma manhã, e uma decisão a tarde, nós vamos resolver os destinos, não do petróleo, mas os destinos do Brasil e da utilização do petróleo.
Senador Serra, cui prodest! A quem aproveita essa mudança? Se a Petrobras pode tranquilamente operar o pré-sal e esta foi uma decisão nacional brasileira, interesse do Brasil? Não foi uma decisão técnica.
Interesses corporativos e setorizados defendem a quebra da participação da Petrobras nos miseráveis 30% da exploração do pré-sal. Pré-sal que foi encontrado pelo esforço da própria empresa. E a Petrobras fala aqui de uma forma ambígua. Por quem fala a Petrobras? Pelo Brasil ou pela política do Joaquim Levy? Que espécie de direção nós temos a Petrobras hoje para ambiguamente se manifestar na tribuna do Senado Federal?
A quem aproveita? O que está ocorrendo aqui? Eu coloco isso dentro de uma moldura internacional maior. Depois da derrota do nazismo na última Guerra, se estabeleceu no mundo o estado social, mas recentemente o capital resolveu enfrentar o estado social, precarizar o trabalho, precarizar o Parlamento, precarizar a administração pública estatal, transformando os Estados em simples polícias, encarregadas da ordem interna.
Este projeto do ilustre senador José Serra vem junto com um projeto de terceirização do trabalho, a precarização, vem junto com o financiamento privado de campanhas eleitorais, a precarização do Parlamento, que se transforma num instrumento de grupos econômicos. Não temos mais partidos, temos bancadas de financiadores de campanha e a precarização do próprio Estado, da democracia e uma administração empresarial da Petrobras.
O capital é importantíssimo na modernização, nos investimentos que geram empregos e fábricas, mas como disse em Davos, o papa Francisco, o capital não pode comandar o mundo, tem interesses próprios. Eu vejo as manifestações dos convidados aqui como manifestações seus próprios interesses, extraordinariamente divorciadas dos interesses do Brasil, dos interesses nacionais, de longo médio prazo.
Petróleo é o mais importante bem da natureza e, de repente, não mais que de repente, a quem aproveita essa modificação, se demonstramos pelos nossos palestristas à exaustão que a Petrobras pode operar, sim, o pré-sal? Por que o pré-sal? Por que agora? Por que a pressa que está por trás disso? Por que esse projeto não tramitou nas comissões do Senado Federal? Por que não objeto de discussão aprofundada?
Eu quero ser muito simples. Estamos discutindo um projeto nacional e projetos corporativos e parciais. Eu quero dizer aos senhores empresários que se manifestaram que eles são extraordinariamente importantes para o país, mas além dos seus interesses, dos seus negócios, tem o povo.
Falam em geração de empregos com a quebra da participação da Petrobras? Por que não falaram do aumento da Selic? Por que não falaram nos juros fantásticos que a economia está praticando? O que estamos fazendo aqui hoje? Sonegando a discussão de um projeto que eu não sei a quem aproveita.
Estamos aqui numa verdadeira brincadeira em torno de um assunto extremamente sério. Vemos aqui as manifestações corporativas e as manifestações do interesse nacional. Eu, pessoalmente, sou pelo monopólio absoluto do Petróleo, acho que a própria partilha foi uma regressão nesse processo. E eu espero que o Senado da República não faça com o país, com a luta, uma luta que aqui tem a simbólica presença da Emília, do Visconde de Sabugosa, do Marquês de Rabicó, dos personagens do Monteiro Lobato na luta pelo Petróleo.
Nós não vamos acabar com isso numa tarde, para a alegria como a demonstrada pelo companheiro que ri enquanto eu falo, ali na ponta da mesa [apontando Serra]. O Senado não vai fazer essa gaiatice com o Brasil. E os que riem agora terão outras oportunidades e poderão rir de alguma coisa que não seja o fracasso de toda a luta pelo petróleo nacional, ao longo de décadas, em que brasileiros participaram, foram presos e deram a vida.
A risada é extemporânea e eu deixo aqui o meu protesto contra essa atitude ridícula de membros da Mesa! Estamos aqui defendendo os interesses do país, e não os dos negócios de meia dúzia de pessoas!
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