O que Lula fez para merecer uma perseguição tão vergonhosa da imprensa?
Todos sabemos, ou devíamos saber. Ele colocou a desigualdade na agenda nacional, um anátema para os bilionários donos da mídia.
Mas vamos abordar o caso por outro ângulo.
O que Lula não fez para sofrer caçada tão impiedosa?
Essa é fácil.
Ele não tratou com a devida importância a questão da regulação da mídia.
A posteridade discutirá se ele acertou, ao evitar uma encrenca, ou se errou, ao não enfrentá-la.
Pessoalmente, acho que errou.
Todas as sociedades avançadas regulam sua mídia, como todos os demais setores econômicos.
A imprensa não está acima da lei, esta é a lógica, embora no Brasil os donos de jornais se comportem como se estivessem.
Mídia não é beneficência, é negócio, e como tal tem que se tratada. Veja as fortunas dos proprietários das empresas jornalísticas.
Os porta-vozes dos barões alegam que regular é censurar, mas quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington.
Regular é colocar ordem.
A Inglaterra, nestes dias, está na fase final de uma reforma nas regras da imprensa.
Um dos pontos centrais, nas mudanças, é inspirado na legislação da Dinamarca.
Quando os jornais dinamarqueses cometem um erro contra alguém, são obrigados a publicar a correção no mesmo lugar em que deram a notícia equivocada.
Na primeira página, se foi assim.
Este tipo de coisa tem duas virtudes essenciais.
A primeira é que a sociedade fica mais protegida do poder destrutivo da mídia. E a segunda, não menos relevante, é que a imprensa é forçada a ser mais precisa na publicação de suas matérias.
Precisão é tudo numa publicação. Joseph Pulitzer, talvez o maior jornalista da história, exigia de sua equipe precisão, precisão e ainda precisão.
O ambiente de relaxamento de regras em que vive a imprensa brasileira estimula a produção em série de erros – sobretudo, é claro, contra inimigos como Lula.
Num caso histórico, a Veja publicou um dossiê – que depois se comprovou barbaramente fajuto – com contas no exterior de líderes petistas, a começar por Lula.
O argumento da revista é inacreditável para quem leva a sério jornalismo: "Não conseguimos provar e nem desmentir."
Por muito menos que isso, qualquer revista estaria morta em países em que não há leniência corrosiva para a mídia, como os Estados Unidos ou a Inglaterra.
Ainda no campo do espaço para retratações, um dia será reconhecido como escárnio ao público o procedimento da Folha.
A Folha assassina uma reputação na manchete (Dirceu é uma vítima contumaz) e depois corrige seu erro num rodapé que ninguém lê, a infame seção "Erramos".
Lula não avançou, em seus oito anos, na questão das regras para a imprensa.
Hoje, ele paga o preço disso.
Se o Globo, para ficar num exemplo, tivesse que publicar uma retratação no mesmo lugar em que cometeu um erro, dificilmente teria dado como "secreta" uma reunião de Lula que o próprio jornal noticiou, poucos anos atrás.
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