O riso e a economia, por Tom T. Cardoso

Geni, a diarista que não faz café para qualquer um – e que nunca ficou no vermelho – não se assustou ao saber que a minha dívida no banco chegara aos dois dígitos.

– Eu já sabia. O senhor ri com kkk. Conheço esse tipo de longe. Não entendi nada.
Ela explicou:
– Gente que ri com kkk costuma gastar mais do que ganha, além de escolher aplicações mais arriscadas.
– Que maluquice é essa?
– É sério. Pode reparar. Além de você, quem é outro gastador da família?
– O meu primo Joca. E ele costuma aplicar quase tudo que ganha na bolsa.
– Então ele deve rir com kkk.
Fui conferir. Entrei no whats do Joca e dei uma olhada nas nossas últimas conversas. Gelei: toda vez que a gente conversava algo engraçado, ele usava kkk.
– Geni, sua doida, não é possível.
– Tô falando.
– E você, que é austera, ri como?
– Com hehehehe.
– É mesmo?
– Sim, quem gasta só o que ganha e faz aplicações conscientes, ri com hehehe.
– Ah vá.
– Pode checar.
Foi a vez de olhar o meu papo com a minha tia Vera, há mais de 20 anos aplicando no Tesouro Direto. Comecei a ficar com medo: achei 14 hehehe na nossa conversa.
Fui anotando tudo.
– Geni, e quem ri com hihihih?
– Costuma ser mais medroso, conservador. Aplica na poupança.
– E com usushashausua?
– Renda fixa.
– E com hahahahaha?
– Ouro.
– E com “risos“?
– Dólar.
Conferi e bateu tudo. Geni seria uma bruxa ou um novo gênio da neurolinguística?
– E quem guarda 51 milhões dentro do apartamento, como o Geddel?
– Esse não vai rir por um bom tempo, só chorar.
– kkkkkkk

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