Cenário definido, por Jorge Alexandre Neves



Antes do que qualquer um imaginava, Fernando Haddad (do PT) se consolidou como candidato que estará no segundo turno da eleição presidencial. A transferência de votos do ex-presidente Lula começou em ritmo linear e acelerou para uma progressão exponencial. Uma velocidade imprevista. 
Até mesmo Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, já declarou que a presença de Haddad no segundo turno está garantida.
O que o candidato tucano ainda não quer reconhecer é que, do outro lado do espectro político, a situação também já está definida. Já comentei aqui que, desde o ano passado, eu já vinha colocando que era, sim, plausível a presença de um candidato da extrema direita no segundo turno das eleições presidenciais deste ano, no lugar do candidato do PSDB, algo inédito há mais de duas décadas. 
 
Não vejo esta nova realidade com alegria. Muito pelo contrário! Todavia, me parece que esse novo cenário se deve aos terríveis erros cometidos pelos tucanos, a partir de 2014 - e que foram reconhecidos e elencados pelo senador Tasso Jereissati, em recente entrevista -, a saber: a) a lamentável contestação do resultado eleitoral de 2014; b) a adesão ao golpe estamental de 2016 e; c) a participação no fracassado e impopular governo Temer.
 
O fato é que o segundo turno da eleição presidencial deste ano irá, como nunca antes desde o processo de redemocratização, contrapor a democracia e a barbárie. 
 
As últimas declarações do general Mourão (candidato a vice-presidente na chapa do deputado Bolsonaro) só aumentaram o espanto de todos. Famílias uniparentais com chefia feminina é um fenômeno de grandes proporções presente em todo o hemisfério ocidental. 
 
Se o resultado fosse aquele apontado pelo general, o mundo não seria o que é, seria muito pior. Esse tipo de afirmação só afastará ainda mais as mulheres da chapa Bolsonaro/Mourão, elevando sua rejeição, que também é extremamente alta entre os eleitores de menor renda. 
Algo natural, visto que em uma palestra, há alguns meses, o deputado Bolsonaro afirmou que a solução que vislumbra para a violência no Rio de Janeiro passa por metralhar favelas a partir de helicópteros.
 
Essa composição de segundo turno com Haddad e Bolsonaro se enfrentando também evidencia o fracasso político do liberalismo, outro ponto que tenho chamado a atenção em minhas colunas. 
 
Assim como ocorreu no período que antecedeu a segunda guerra mundial, a derrota política do liberalismo está levando, em nível global, à fragilização da democracia. 
 
Isso ocorre porque o liberalismo não consegue melhorar a vida da maior parte da população. Assim como se deu após a segunda guerra mundial, a solução para o impasse está na implementação de políticas não liberais feita por estados nacionais verdadeiramente democráticos.
 
Jorge Alexandre Neves - Ph.D. em Sociologia pela Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), Professor Titular do Departamento de Sociologia da UFMG, Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin (EUA) e da Universidad del Norte (Baranquilla, Colômbia), pesquisador do CNPq e articulista do jornal Hoje em Dia. Especialista em desigualdades socioeconômicas, análise organizacional, políticas públicas e métodos quantitativos
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