Imagine-se dono de uma empresa. Suponha que um funcionário seu repasse para firma concorrente informações estratégicas e sigilosas. O que faria ao descobrir o malfeito? Decerto demitiria. Talvez esfolaria. Quem perdesse o senso.
Pois bem. Dá-se o oposto no Palácio do Planalto. Ali, o servidor Zé Aparecido, o petista que enviou o dossiê anti-FHC, por e-mail, para o gabinete do tucano Álvaro Dias (PSDB-PR), é tratado à base de brioches. Em combinação com Lula, Dilma Rousseff adotou uma política de redução de danos.
Tenta-se desaparecer com Aparecido. Busca-se evitar que ele seja indiciado criminalmente. Esgrime-se a tese segundo a qual as despesas da era tucana não eram mais sigilosas. Vingando todos os estratagemas, o Planalto alcançaria os seguintes subterfúgios:
1. Aparecido não seria nem mesmo demitido. Receberia, mais adiante, uma admoestação verbal ou escrita;
2. O próprio servidor pediria pra sair. Retornaria ao TCU, seu órgão de origem, de onde fora requisitado pelo ex-ministro José Dirceu;
3. Sabe muito o companheiro Aparecido. Mas, feitos os ajustes, agüentaria o tranco de bico calado;
4. Evitaria pronunciar, por exemplo, o nome de Erenice Guerra, a lugar-tenente de Dilma, que encomendou a feitura do dossiê. Silenciaria sobre as reuniões de que participou. Calaria sobre os comentários que ouviu. Viraria um túmulo à moda Delúbio soares;
Tudo muito bem, tudo muito bonito. Mas há, aparentemente, uma pedra no caminho do arranjo. Chama-se Polícia Federal. Enquanto esteve a cargo apenas de uma comissão de sindicância da Casa Civil, a investigação correu sob o tacão de Dilma. Confiada à PF, a encrenca ganhou asas.
A julgar pelas informações que saltaram do círculo policial para as páginas dos jornais, a PF não estaria para brincadeira. Na semana passada, pediu mais 60 dias para concluir o inquérito.
A essa altura, um inexplicável recuo da polícia macularia a imagem da corporação que, como dizia o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, “não persegue, mas também não protege ninguém.” A ver.
Escrito por Josias de Souza
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