Obama seguiu o meu conselho. E o "smarst power" de Lula

Antes que você suspeite da minha sanidade mental (já que blogueiros são seres especialmente vulneráveis à megalomania), note que a primeira metade do título deste post deve ser lida como uma piada. Eu não resisti, quando vi esta notícia noestadao.com.br:
    Obama manterá Sobel na embaixada no Brasil, diz 'Post'

    AE/AP - Agencia Estado - WASHINGTON - O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, prorrogou por um período não definido a permanência do embaixador dos EUA no Brasil, Clifford M. Sobel. A informação foi atribuída a um importante membro do círculo de amigos do presidente George W. Bush e publicada hoje pelo jornal The Washington Post. A publicação não aponta as razões de Obama para manter Sobel. Aparentemente isso se deve ao desejo do futuro presidente de que o embaixador siga em suas gestões com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem o democrata espera trabalhar em um plano energético regional. Ex-dirigente do Partido Republicano, Sobel foi peça-chave no trabalho da administração no entendimento de Lula e Bush no setor dos biocombustíveis. Em uma reunião há dois anos em Washington, ambos concordaram em empreender um plano piloto de ajuda ao desenvolvimento de tecnologia em vários países do hemisfério ocidental. Sobel, a quem o Post identifica como "um importante doador" da campanha de Bush, também foi embaixador na Holanda.
Leia o resto da reportagem. Vamos resumir. Sobel foi um "importante doador" da campanha presidencial de Bush. Com a eleição do amigo, virou embaixador no Brasil. Onde articulou a agenda bilateral do etanol. Agora, segundo o "Post", Obama deve manter Sobel no cargo. Precisa explicar mais? Se não entendeu, leia de novo desde o começo. Num artigo de uma semana atrás (Janela de oportunidade), eu sugeri ao novo chefe da Casa Branca que nas relações com o Brasil combinasse os ensinamentos deixados por dois presidentes americanos: Calvin Coolidge e Franklin Delano Roosevelt. Ao primeiro atribui-se o esclarecimento de que o negócio dos Estados Unidos são os negócios. O segundo baixou aqui em 1941 e, em troca de dar o impulso decisivo à nossa siderurgia, conseguiu fazer o Brasil parar de flertar com o nazi-fascismo. O presidente da época, Getúlio Vargas, ponderou bem a situação e concluiu que só tinha dois cenários possíveis pela frente, mutuamente excludentes: ou fechava com Roosevelt ou o Brasil seria invadido pelos Estados Unidos, dada a nossa posição estratégica no Atlântico. Como Getúlio era um gênio da política, em vez de optar pelo filofascismo e por terminar pendurado num poste, escolheu o lado certo e ainda levou de troco, entre outras coisas, a construção da Companhia Siderúrgica Nacional. Agora, releia um trecho do que escrevi aqui em Janela de oportunidade:
    Luiz Inácio Lula da Silva é o presidente brasileiro politicamente mais capaz desde Vargas, e certamente saberá extrair o máximo de Barack Obama. Nem o cenário mundial tendente à proteção das economias nacionais desautoriza o otimismo. Para ter sucesso, porém, Lula precisará encaixar a agenda certa. Um ponto de honra é o etanol. O governo e os empresários brasileiros montaram uma espécie de “invencível armada” dos biocombustíveis, vislumbrando um passeio em mar de almirante, com as velas enfunadas pelo preço explosivo do petróleo e pelo pavor planetário com as mudanças climáticas. Só que as embarcações do álcool da cana-de-açúcar, a exemplo da esquadra de Felipe II da Espanha no século 16, ameaçam ir a pique, pela falta de mercado. Já faltava antes da crise global, quanto mais agora. Depois de investimentos maciços no setor, o cenário brasileiro é de oligopolização acelerada, estoques lá em cima, preços lá em baixo, rentabilidade em risco e empresários de pires na mão rumo a Brasília atrás de socializar os prejuízos.
Enquanto vizinhos e um pedaço da esquerda brasileira se esgoelam no antiamericanismo, Lula dá um jeito de que os bons negócios com os americanos continuem caminhando bem. É o preço (barato) para que o Brasil prossiga equilibrando o jogo com os "radicais" (na terminologia preferida dos gringos), os daqui e os das redondezas. A nova secretária de Estado, Hillary Clinton, disse na sabatina dela no Senado (de lá) que, doravante, o governo americano vai ser mais esperto, um poder inteligente, o "smart power". Desculpe Mrs. Clinton, mas em termos de esperteza, de "smart power", enquanto a senhora está se dirigindo ao galinheiro o presidente do Brasil já está voltando com o omelete. Como escrevi quase dois anos atrás, quando Bush nos visitou (As crianças estão brincando lá fora):
    Por enquanto, fica a impressão de que as crianças obtiveram permissão para brincar de anti-imperialismo no quintal, enquanto os adultos conversam na sala sobre grandes negócios.
Santa mudança ortográfica. Agora eu sei, com certeza, que "anti-imperialismo" tem hífen. Desdenhar da reforma é uma roubada. É a minha segunda reforma (a primeira foi em 1971), e vou tentar me adaptar rapidinho. Outra roubada? Ler só as seções de política internacional, sem ler as de economia.

2 comentários:

  1. Desculpe contrariar, mas o governo do presidente Lula ainda não é a transformação de que o Brasil precisa. Tem é muita retórica vazia e demagogia.

    Barack Obama, sim, simboliza o triunfo dos oprimidos e é uma grande promessa de transformação efetiva.

    Estamos, agora, em lua-de-mel com o governo de Obama.

    Do governo Lula já me divorciei há tempo, e, a cada dia, ele só faz reforçar um não arrependimento.

    ResponderExcluir
  2. Querido Anônimo,

    Obama significa a vitória dos oprimidos???

    Voce precisa ler um pouco mais a história dele.

    Eu respeito sua opinião sobre o Lula, porém concordo com o Briguilino em gênero, número e grau.

    E acrescento, que dependendo de como o nosso presidente lidar com a crise econômica mundial e seus efeitos em nosso país, poderá entrar para a história como o maior e melhor presidente que já tivemos.

    Abraços,

    Daniel Gibrail.

    ResponderExcluir