Na sua coluna no jornal O Globo, o articulista Merval Pereira investe contra o presidente Lula.
Segundo Merval, em seu desprezo pela liberdade de imprensa e na sua recusa a ler o que os jornais escrevem, se esconde o fato que “Ele (Lula) montou uma estrutura de propaganda que não há no país talvez desde a era Vargas, coroada pela criação de uma TV oficial” (…) porque “Do que eles gostam mesmo é de uma imprensa oficial”.
Para Merval Pereira se Lula se informasse melhor, estaria mais próximo da realidade e teria sabido que “o mundo estava numa crise de proporções bem superiores a uma marolinha”.
Erigindo-se em porta-bandeira da liberdade de imprensa, o comentarista daGlobo invoca “o grande jornalista Jack Anderson, considerado o pai do jornalismo investigativo, segundo quem a necessidade da imprensa ocupar um lugar antagônico ao governo foi percebida com clareza pelos fundadores dos Estados-Unidos, e por isso tornaram a liberdade de imprensa a primeira garantia da Carta de Direitos”.
Que a imprensa no Brasil ocupa “um lugar antagônico ao governo” me parece uma evidência dificilmente contestável.
Então, o que pretende Merval?
Ele não se contenta com esse lugar antagônico ao governo Lula e considera que a defesa que o “antagonista” faz de suas escolhas, são pura propaganda visando a impor uma “imprensa oficial”. Uma acusação grave e sem nenhum fundamento.
Merval reivindica para si, um direito que ele nega a seu “antagonista”: o direito de criticar e defender seu próprio ponto de vista. O articulista da Globopretende o monopólio da crítica?
Voltemos ao exemplo da crise econômica mundial. A maioria dos analistas internacionais destacaram a boa situação do Brasil para enfrentar a crise. Foi quase unanimidade entre eles que Brasil não entrará em recessão, mesmo reduzindo seu ritmo de crescimento. Todos coincidem em afirmar que a situação do país é solida e que o governo esta tomando as medidas certas para enfrentar o impacto da crise, incentivando o crédito, os investimentos e o consumo. Longe de subestimar a crise, Lula soube responder ao seu desenvolvimento a altura e, mais que isso, o país está melhor preparado para enfrentar suas consequências. Para Lula o mundo estava mergulhado em uma crise gigantesca mas o Brasil desta vez não fazia parte da causa e os efeitos aqui poderiam ser minimizados. A marolinha eram os efeitos aqui e não a crise lá fora, como insinua Merval.
Já em 1998, quando o país foi para o brejo por conta da decisão do presidente Fernando Henrique de manter sobrevalorizada a moeda até sua releição, jogando no ralo somas fabulosas das reservas do Brasil para manter a paridade do real e o dólar, a maioria dos analistas internacionais apontavam para as gravíssimas distorções e fraquezas da economia brasileira que não poderia continuar sustentando tamanho endividamento.
Pois bem, em ambas situações a maioria dos articulistas daqui, e Merval Pereira entre eles, destoavam em relação aos analistas internacionais.
Desde que a crise do subprime estourou, a imprensa nativa, com raras excepções, insiste em desqualificar o discurso presidencial (e dos analistas internacionais) pretendendo o país despreparado para amortiçar os seus efeitos aqui (na melhor dizem que Brasil esta bem graças a política econômica de FHC). Uma parte da mídia e da oposição parece torcer para o país desandar.
Já em 1998, esquecendo que ela ocupa “um lugar antagônico ao governo”, essa mesma mídia fazia eco ao carimbo de “neobobos” com o qual os tucanos rejeitavam o “catastrofismo petista”.
É que em 1998, Merval colocava o acento sobre o lugar da imprensa em outro lugar. Nada de “antagônico ao governo”. Na época ele a definia assim:
“Exercemos um papel socialmente relevante - o de ser um canal de comunicação entre Estado e Nação e entre os muitos setores da Nação entre si. É nossa atribuição fazer com que o Estado conheça os desejos e intenções da Nação, e com que esta saiba os projetos e desígnios do Estado.”
Merval acrescentava que “Justifica-se essa definição de nosso papel com o fato de que, no sistema democrático, a representação é fundamental, e a legitimidade da representação depende muito da informação, que aproxima representados e representantes.”
Por isso, em 1998, ele fustigava o denuncismo e proclamava: “o denuncismo é uma deturpação e um inimigo dos nossos próprios interesses profissionais e empresariais” (todas estas citações são da dissertação de Merval Pereira no 10 Fórum Nacional em 11 de maio de 1998, publicado peloObservatório da Imprensa).
Este “esquecimento” do seu “lugar antagônico ao governo” parece ser uma constante da maioria da mídia, quando o governo é ocupado pelos tucanos. Basta ver o espaço que os jornais dão aos representantes da oposição ao governo Serra-Kassab, no Estado de São Paulo, para perceber quanto é fantasiosa a suposta “independência” arguida.
A própria afirmação de Merval Pereira sobre a “estrutura de propaganda” faz parte do lenga-lenga oposicionista, que junto com o “terceiro mandato” e outras invencionices do mesmo teor, poluem o noticiário enviesado da imprensa.
Basta olhar para a quase totalidade dos articulistas dos principais jornais do país para constatar que a oposição ao governo está amplamente representada e raríssimos são os que com Lula ou o PT simpatizam. Os chamados “formadores de opinião” são oposicionistas, não por apego ao lugar antagônico invocado por Merval e sim por simpatias pouco dissimuladas pela oposição.
Mesmo assim, nos seis anos do governo petista nenhuma ação cerceadora da liberdade de imprensa foi implementada ou projetada. Diferentemente de outros, nunca Lula levantou o telefone para exigir a cabeça de algum jornalista. A liberdade de imprensa aqui é total e irrestrita.
Agora querer que o presidente seja obrigado a ler as baboseiras que alguns escrevem para provar seu apego a liberdade da imprensa é querer demais.
O que o francês Luis Favre, o que colocou um par de chifres na cabeça de Eduardo Suplicy ten que dar pitaco na política brasileira?
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