Dilma no palanque do PAC

Em eleição, nem sempre quem larga na frente leva vantagem. A quase dois anos da sucessão presidencial de 2010, a campanha já está nas ruas. Dilma Roussef, a candidata de Lula, precipitou a corrida, fazendo de sua atividade institucional – o cargo de ministra, encarregada de gerenciar as obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) – o estandarte de sua campanha.

Com isso, se expõe, antes dos outros, às críticas e ataques da concorrência, que já foram postos em cena. E não apenas: põe em discussão a legitimidade de sua estratégia. É correto usar eleitoralmente o cargo de ministra? DEM e PSDB decidiram perguntá-lo à Justiça Eleitoral. A resposta já se sabe: é ilegal fazer campanha eleitoral antes da hora. Pior: com recursos do governo.

Ocorre que nem sempre isso é demonstrável. Dilma alega que não está em campanha. Está apenas trabalhando como ministra. De fato, quando inaugura obras ou as anuncia, em sucessivas viagens país afora, não pede votos, nem se assume como candidata. Não seria primária a esse ponto. Mas que há claro vínculo entre sua maratona de gerente e sua pretensão eleitoral ninguém duvida.

O presidente Lula, que freqüentemente a acompanha nesses périplos, é menos sutil. Já disse reiteradas vezes que Dilma é sua candidata. No PT, não se fala noutra coisa. Com a reação da oposição, governo e PT contra-argumentam acusando o governador de São Paulo, José Serra, de fazer o mesmo.

Ainda que o fizesse, isso não legitimaria a ação de Dilma. Seriam duas ilegalidades. Só que Serra se restringe, pela própria limitação de seu cargo, ao âmbito de São Paulo, enquanto Dilma percorre todo o país, ocupando a mídia nacional.

Não é só: Serra jamais disse, nem ninguém por ele, nas ocasiões em que inaugura obras, que é candidato. Seu nome aparece em pesquisas como favorito, todo mundo sabe que ele é candidato, mas não se tem notícia de que tenha subido em palanques para fazer promessas relativas a uma eventual chegada à Presidência da República.

No caso de Dilma, as referências são constantes – e explícitas. Lança-se a obra – ou a promessa dela – e Lula, patrono onipresente da candidatura, improvisa discurso garantindo que somente Dilma dará seqüência à sua gestão. A promiscuidade eleitoral é flagrante.

Na quinta-feira passada, ao inaugurar uma frente de trabalho da ferrovia Transnordestina, no interior de Pernambuco, Dilma teve a coadjuvá-la, além do presidente Lula, três ministros de Estado. Todos, além de enaltecerem a importância da obra, a vincularam à ministra, mencionando suas qualidades humanas e profissionais e a necessidade de tê-la futuramente no lugar de Lula.

Cenas de palanque, o que dá substância à acusação do DEM e do PSDB, de que aquela candidatura está se valendo da máquina pública para difundir-se. São viagens pagas pelo contribuinte, que servem de laboratório a uma candidatura partidária, em flagrante quebra de isonomia em relação aos outros candidatos.

A ação oposicionista junto ao TSE mostra, de outro lado, que já não desdenha das chances eleitorais da candidata do governo. Ela ainda aparece bem longe de Serra nas pesquisas, mas já registra algum avanço. Tendo as obras do PAC e o presidente da República como cabos eleitorais, que lhe garantem ampla e continuada exposição na mídia nacional, chegará à corrida sucessória como um dos rostos mais conhecidos da disputa.

A alegação de que a estratégia – o uso da máquina com fins eleitorais - não é novidade, e que é mesmo tradição nacional, não lhe reduz o caráter transgressor. Afinal, um dos compromissos fundamentais de quem governa é contribuir para a elevação das práticas públicas. E já que se fala de hábitos históricos, esse compromisso marcou a trajetória do PT desde sua fundação. Aguarda-se a manifestação do TSE.

 

Ruy Fabiano

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