As recentes pesquisas de avaliação do governo federal e do presidente da República mostram aparente descasamento entre as realidades objetiva e subjetiva. Enquanto o quadro econômico se deteriora, crescem as aprovações de Luiz Inácio Lula da Silva e de sua gestão. Se a oposição estiver com sorte, trata-se de um acesso de ilusão coletiva, que não resistirá aos fatos da vida. Se estiver com azar, é possível que a crise esteja a reforçar a liderança de Lula.
Por falar em azar e sorte, sortudo é o governo que já tem um plano montado (e andando) de investimentos públicos, quando a crise planetária passa a exigir dos estados nacionais exatamente isto: que ocupem o espaço deixado por um capital privado receoso, e portanto recolhido. Ou talvez não seja sorte, mas resultado de uma opção política. Estivesse o Brasil ainda amarrado ao antiestatismo da década passada, estaríamos todos mais enrascados do que já estamos.
O fato é que os fatos trabalham a favor do presidente e companhia bela. Para que a oposição retome a iniciativa política, não basta ela dizer ao público o que o público já sabe: que as coisas estão ruins e podem piorar. Até porque nem o mais fanático anti-Lula culpa o presidente pela eclosão da crise. O que a oposição precisa apresentar são argumentos para convencer as pessoas de que é necessária a troca de liderança. Se não conseguir, corre o risco de virarem fumaça os atuais números das pesquisas de intenção de voto para daqui a dois anos.
E qual é a maior dificuldade da oposição na tarefa? Seu pouco apetite para combater programaticamente o governo. Nos últimos seis anos, a oposição tem oscilado entre o denuncismo e a apatia. Periodicamente, sobrevêm surtos de radicalismo moralista. Ao falharem, são substituídos pelo nada. A crise planetária começou em setembro, há quase meio ano. E até agora a oposição não respondeu a duas perguntas. O que o governo deveria fazer e não está fazendo? O que o governo fez e não deveria ter feito?
Enquanto a oposição não fizer a lição de casa, vai continuar tirando nota baixa. O Brasil enfrenta desafios imensos no curtíssimo prazo. Um deles, talvez o principal, é instituir um sistema decente de crédito. Qual é a razão de os bancos, por exemplo, cobrarem do funcionário público (que tem estabilidade no emprego) mais de 35% de juros ao ano no empréstimo consignado? É quase o triplo da taxa que o banco paga ao sujeito que investiu o dinheiro que o banco vai emprestar. O que a oposição acha disso?
Entre a meia dúzia de leitores deste colunista, há os amigos que mandam e-mail ou telefonam reclamando sempre que escrevo uma coluna assim, para falar mal da incompetência da oposição. Pedem que deixe de ser repetitivo. Infelizmente porém, repetitivos são os fatos. Para tristeza do leitor e do escriba, que adoraria escrever sempre sobre algo completamente novo. Nem nisso a nossa oposição ajuda.
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