O que está faltando para o Senado alcançar a porta de saída da crise? Falta achar quem pague a conta. Porque alguém deverá arcar com ela. Não existe almoço grátis, costumam dizer os americanos. E, dado que mais uma vez tal verdade se comprova, o dia de ontem na Câmara Alta foi consumido pela discussão disfarçada em torno disso, de quem se apresentará para honrar a fatura. Ou para quem ela será empurrada.
José Sarney (PMDB-AP) não aceita que a dolorosa caia integralmente no seu cartão de crédito. É o que vem dizendo desde o primeiro discurso da crise, quando defendeu que ela não é dele, mas de todo o Senado. Vista pelo ângulo do bom senso e da justiça, a posição de Sarney é razoável. Mas a justiça e o bom senso não são decisivos na política. O que vale em última instância é a força.
Um líder com a história de Sarney carrega com ele, já naturalmente, muito poder. E Sarney é mais: é o presidente do Congresso Nacional. Só que quando o poder de alguém como ele se esvai, a fraqueza transforma o ex-poderoso em alvo. E Sarney está na mira. Porque não teve força suficiente para evitar a eclosão e o desenvolvimento da crise. E porque sua atual anemia política coloca em risco a segurança de toda a alcateia.
Lutando mais uma vez pela sobrevivência, Sarney ameaça endereçar a conta para Luiz Inácio Lula da Silva. Que trabalha para remetê-la aos senadores do PT. Que por sua vez têm eleição a enfrentar ano que vem. Daí que o PT ensaie reparti-la com Lula e também repassá-la ao Democratas, o partido com cadeira cativa na poderosa primeira-secretaria do Senado, a do dinheiro. Em meio ao passa e repassa do mico, o PMDB sabe que se –e quando– as facas forem atiradas, algumas especiais estarão reservadas aos caciques do maior partido da Casa.
E a coisa não para. Até o carpete do Salão Azul já ouviu falar que o governismo prepara na CPI da Petrobras chumbo grosso, profissionalmente elaborado, contra o PSDB. Por isso também a chance apenas relativa de a investigação emplacar. Mas como ninguém pode garantir no Senado de hoje que a situação amanhã estará controlada, por via das dúvidas todo mundo vai se municiando para a guerra.
Guerras começam assim mesmo. De tanto você se preparar para ela, o inimigo acaba convencido de que você irá atacá-lo. Uma hora o conflito estoura. Pois ninguém vai ficar esperando eternamente pelo primeiro tiro vindo do outro lado. Até agora não há guerra no Senado, só escaramuças. Por isso, todos gostariam de uma solução que evitasse a carnificina. Se necessário, combater-se-ia uma guerra limitada. Mas isso exigirá que alguém tope ir para o sacrifício.
O caminho para tentar abortar a conflagração é oferecer um prêmio à opinião pública. E virar a página. O obstáculo é que nenhum dos potenciais candidatos à degola se conforma com ela. E voltamos ao começo desta coluna. A crise se arrasta. A solução administrativa não é um remédio de fato. Quando um time é rebaixado, por melhor que seja o técnico é remotíssima a probabilidade de ele continuar no cargo. Nem sempre é justo, mas infelizmente a vida é assim.
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