Nos dias que antecederam o Natal uma menina bateu aqui na porta de casa com uma cartinha em mãos, dirigida ao Papai Noel. Pedia uma camiseta, uma calça, uma sandália e fraldas. Tinha um problema no rim e, por isso, precisava delas. Disse que não tinha importância se não pudéssemos dar as roupas (que ela chamou de presentes). Mas contou que das fraldas ela precisava muito. Eu não estava em casa quando ela veio. Mas só ouvir o relato da minha mãe, que havia atendido a menina, me fez chorar. Não lembro a última vez que isso havia acontecido. Para conviver com as desigualdades tão presentes em nosso país, tornamo-nos cegos e surdos de maneira seletiva. Apertamos o passo sem olhar para trás. Endurecemos o coração. Porém, a proximidade do Natal parece ter amolecido minha carapaça. E me doeu ver o sofrimento dos outros. Quis saber como algumas pessoas conseguem ser fortes a ponto de escolher fazer do problema dos outros o seu também. Fui conversar com Dona Iolanda. Uma amiga havia me falado dela. Dá um prato de comida, banho, roupa e até cama por algumas noites para quem bate a sua porta.
A casa da Dona Iolanda fica em uma das regiões mais antigas de Jundiaí, cidade a 60 quilômetros de São Paulo, onde nasci, cresci e moro até hoje. O pé direito é altíssimo, assim como as portas dos quartos, que se abrem todas para uma sala ampla. É um casarão daqueles antigos . Naquele dia, cheirava a sabão em pó. Faxina geral. “Você não repara, não é?”. Não, só no cheirinho de limpeza. Sentamos em um dos três sofás da sala, cobertos com tecidos coloridos. E conversamos por quase duas horas. Dona Iolanda me contou como começou a cuidar de pessoas idosas 21 anos atrás, depois que o então marido, taxista, havia lhe contado sobre uma cliente que havia sido roubada. No quartinho em que a senhora de idade morava sozinha não havia sobrado nada. Dona Iolanda levou a senhora para morar com ela. Deixou o trabalho como locutora de rádio e alguns negócios que tocava para cuidar dela, depois da mãe doente de uma amiga. Quando percebeu, tinha cerca de 40 idosos abandonados pela família morando em sua casa. Até hospitais encaminhavam idosos aos cuidados de Dona Iolanda. Os velhinhos que tinham aposentadoria ajudavam a manter a casa. Doações de empresas e a ajuda de vizinhos do bairro complementavam o orçamento, sempre apertado.
Há cinco anos, Dona Iolanda foi proibida de continuar com seu trabalho porque as instalações não estavam dentro de todos os padrões necessários para esse tipo de atendimento. Teve de mandar seus velhinhos para uma casa de apoio, que acabou fechada tempos depois por causa de acusações de maus-tratos. Muitos voltaram para as ruas. Outros pediram abrigo a Dona Iolanda. Tornaram-se “inquilinos” em sua pensão: paga quem pode e o quanto pode. Enquanto alguns vão ao encontro do fim da vida, outros chegam em busca de carinho e atenção, não só de um quarto barato para dormir. As dívidas se acumulam, mas Dona Iolanda garante que nunca falta comida. Durante a nossa conversa, uma vizinha chega com vasilhas cheias de comida. E assim correm os dias.
Dona Iolanda acha que hoje faz pouco. Dá comida, banho, roupas, cortas as unhas e o cabelo daqueles que batem a sua porta diariamente. Mas não pode abrigá-los. “É difícil deixá-los voltar para a rua”, diz, com lágrimas nos olhos. Alimenta o sonho de conseguir quitar todas as dívidas que restam, inclusive a do aluguel da casa em que mora. E, quem sabe um dia, conseguir dar um canto a quem a sociedade colocou de canto. Cada um tem uma história e Dona Iolanda conhece todas. Soma os seus dramas – perdeu uma filha de 17 anos em 2004 – ao drama dos outros. Aos 57 anos, divorciada, não quer namorado. Como vai se dividir entre ele e seus meninos e meninas? Aproveito para emendar a pergunta que me levou até lá: “Dona Iolanda, o que faz uma pessoa abraçar o sofrimento alheio desse jeito?”. “Você não imagina o que é o abandono.”
Há pessoas que têm o amor de Cristo em seus corações e não são egoistas, repassam este amor aos mais necessitados. O Natal, quando se celebra o nascimento de Jesus, deve ocorrer todos os dias do ano em nossos corações e não só no dia 25 de dezembro.
ResponderExcluirO amor pelos nossos semelhantes deve ser um amor sem interesses, sem esperar retribuição. É este o amor que Deus tem por nós, ao mandar seu filho amado Jesus Cristo para morrer em nosso lugar.
A única forma que podemos demonstrar nossa gratidão a Deus é através no nosso serviço desinteressado ao nosso próximo.
Que o Jesus do amor e da paz possa renascer 365 dias por ano nos corações de todos nós