O marqueteiro James Carville prestou um belo serviço a William Jefferson Clinton quando mandou o então candidato democrata enfatizar as questões econômicas na campanha presidencial de 1992. “É a economia, estúpido!” Carville não tinha pirado, a palavra rude não era dirigida ao possível futuro presidente: no alvo estavam os membros do estafe que ainda resistiam a compreender a centralidade do tema.
Os americanos viviam a recessão, e as pessoas votaram para retomar o crescimento. Bill Clinton elegeu-se 42o. Presidente dos Estados Unidos, derrotando George H. W. Bush, o pai. Um ano antes a popularidade de Bush explodira na fácil vitória da Guerra do Golfo, que também acabara de fechar as feridas do Vietnã, removendo os medos americanos nascidos no pântano da Indochina. Mas Bush pai não conseguiu outros quatro anos.
Quando a economia vai mal, é razoável supor que as pessoas votem em quem julgam mais capaz de melhorá-la. E a frase de Carville ficou famosa, um lugar comum. Há porém certo detalhe menos célebre da estratégia democrata em 92. Além de mandar bater na tecla econômica, Carville sugeria a Clinton jamais esquecer de falar na reforma da saúde.
A História costuma sofrer de esquematismo, visto ser obra de historiadores, que carregam viés. Desde Clinton/Carville a centralidade da economia virou dogma, com algo de determinista. Ano e meio atrás a tese pareceu ser reforçada quando Barack Obama bateu John McCain, no auge da maior crise econômica americana e mundial desde 1929.
O massacre noticioso na eleição do primeiro negro presidente dos Estados Unidos e o efeito “landslide” (avalanche) no colégio eleitoral (365 votos eleitorais contra 173) deixaram um fato em segundo plano: Obama colocou apenas 10 milhões de votos sobre McCain num eleitorado de 130 milhões, algo como 7,5 pontos percentuais. Pouco. Isso com a economia afundando e a Guerra do Iraque batendo recordes de impopularidade.
A política existe. A oposição brasileira tem uma chance de eleger o presidente da República, mesmo lutando contra um governo bem avaliado. Luiz Inácio Lula da Silva quase levou a eleição presidencial de 1998 para o segundo turno, no qual teria grande possibilidade de vitória pois certamente receberia o apoio de Ciro Gomes e Enéas Carneiro. E ali as pessoas achavam que a economia estava bem. Só cairiam na real (e do real) no começo do ano seguinte.
Mesmo a questão econômica precisa ser observada com mais sutileza e sofisticação. As gentes votam de olho na economia quando ela vai mal. Mas por que votariam focadas na economia quando ela vai bem? Só para evitar um retrocesso, para impedir que desande. Por isso o PT desce a lenha em Fernando Henrique Cardoso, tentando construir o medo de que, no poder, o PSDB fará desandar os avanços econômicos dos últimos anos.
Vai funcionar? Até agora não tem funcionado, por algumas razões. Uma delas é o PT anunciar essa tática desde sempre, dando tempo suficiente aos adversários se adaptarem. Outro elemento é mais subjetivo. Nem José Serra nem Aécio Neves (quando era pré-candidato) conduziram administrações regressistas, ruinosas ou mal avaliadas. E tem o debate sobre quanto há de continuidade e ruptura na política econômica do governo do PT.
Um erro político é tomar o desejo pela realidade, a nuvem por Juno. Acreditar na própria propaganda. Tucanos acharem que Lula faz um mau governo não torna ruim a administração do PT. Do mesmo jeito, petistas falarem mal de Serra e Aécio não tem o efeito mágico de piorar as realizações políticas e administrativas de ambos.
Claro que tudo pode mudar quando Lula for à televisão para apelar ao eleitor. Resta esperar para ver como o eleitor reagirá. O incômodo, para o PT, é depender dessa única bala. E saber que a oposição sabe que um dia ela será atirada.
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