de Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Popul
Em uma das eleições presidenciais mais previsíveis que fizemos no Brasil moderno, o que esperar do primeiro debate entre os candidatos na televisão? Que fosse previsível, tanto quanto o que a Bandeirantes realizou quinta feira. Nele, tudo que se imaginava aconteceu.
Era previsível uma baixa audiência, e foi o que tivemos. Pelos números preliminares disponíveis, o pico de audiência alcançou pouco mais que 5% na Grande São Paulo e dificilmente terá sido maior no conjunto do país. Para deixar dramaticamente claro quão pequeno é o interesse do telespectador médio por programas de conteúdo político, na abertura do debate a emissora perdeu metade da audiência. “Polícia 24 horas” terminou com 6% e o encontro dos presidenciáveis começou com 3%. Mais adiante, a proporção de televisores sintonizados caiu a pouco mais que 1%.
Era previsível que esse debate fosse tratado como um episódio na guerra entre as emissoras e foi o que elas fizeram. Enquanto não mudarmos nosso modelo, em que cada uma faz o “seu debate”, é isso que sempre teremos. Faz sentido o que está combinado para este ano, em que os candidatos irão a todas, apenas por que essa é a conveniência delas? Será que um dia chegaremos ao bom senso de ter debates em rede, como os americanos, onde a competição entre as emissoras é mais acirrada que aqui? Espremido entre o futebol de uma e a habitual profusão de programas “populares” das outras, o debate foi o perdedor na batalha pela audiência noturna da quinta feira.
Era previsível que os abnegados que fossem assisti-lo (especialmente os poucos que ficaram até o fim, depois da meia noite) tivessem características bem diferentes do eleitor comum. As pesquisas sobre o perfil da audiência não estão concluídas, mas é fácil apostar no que mostrarão, pois é o que acontece no mundo inteiro: que terão visto o debate eleitores de escolaridade e renda mais elevadas, mais velhos e predominantemente do gênero masculino. Mas o fundamental é que terão sido pessoas de interesse significativamente mais alto por questões políticas, mais informadas, mais atentas ao cotidiano do processo eleitoral e mais curiosas a respeito dos candidatos.
São pessoas que costumam ter identidades políticas e/ou partidárias estruturadas e fundamentadas, e que, em função disso, se decidem precocemente. Para elas, a eleição começa cedo, os prós e os contras dos candidatos são logo avaliados e a dúvidas sobre o que fazer no dia da eleição mínimas.
Quem vê com atenção um debate como esse, em um horário como aquele, já decidiu se vota Dilma, Serra ou Marina, ou se não vota em nenhum dos três. Por seu interesse e informação, é uma pessoa que, tendo chegado a uma escolha, não a muda por impulso, talvez como fizesse outra para quem a questão fosse menos importante. Para ela, o escorregão, a gafe, o gaguejo de um candidato são irrelevantes: não fazem com que deixe de votar no candidato escolhido ou que opte por um em quem havia decidido não votar. Ela ri das dificuldades dos adversários do “seu candidato”, mesmo que se incomode com os deslizes que ele ou ela cometem.
Era previsível que não fosse um debate acalorado e emocionante, cheio de tiradas espirituosas e de eloquências. Quem conhece os candidatos que temos não esperava que eles repetissem o que antigos mestres faziam em situações parecidas. Nenhum é um Brizola e isso estava nítido.
Era previsível que o nervosismo afetasse de maneira diferente os candidatos e foi o que as câmeras mostraram. Serra, no seu enésimo debate, era o mais à vontade, tanto quanto pode estar alguém cujas perspectivas se tornam, a cada dia, mais preocupantes. As estreantes Dilma e Marina (pois não se pode considerar que a experiência anterior da senadora a tivesse preparado para uma noite como aquela) estavam mais tensas. Quanto a Plínio de Arruda Sampaio, sua posição era a que se espera de quem nada tem a perder. De todas, a mais confortável.
Deixando de lado as avaliações dos torcedores (pois quem tem simpatia por uma candidatura sempre diz que seu candidato foi superior aos demais), é quase consensual a opinião de que ninguém “ganhou o debate”. Superado um primeiro momento visivelmente favorável a Serra, Marina e Dilma se equilibraram e empataram com ele, indo assim até o final. Quem viu, com alguma isenção, mais que o primeiro bloco dificilmente dirá que houve perdedores e ganhadores.
Se essa impressão de jornalistas e profissionais for confirmada pelas pesquisas de impacto - direto e secundário- na opinião pública, quem talvez mais tenha lucrado foi Dilma. Não perder é um bom resultado para quem está na frente. Adicionalmente, adquiriu experiência para os próximos, aumentando sua autoconfiança, que é o que mais conta para um bom desempenho neles.
Serra e Marina é que têm que reverter as tendências que estão em curso. Para ambos, o debate da Bandeirantes não foi ruim, mas não foi tão bom quanto desejariam (ou precisariam).
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