Hélio Campos Mello Diretor de redação | ||
Meu filho me pergunta sobre as eleições. Ele ainda não vota, mas vive o tiroteio pré-eleitoral que chega também à escola. Explico, então, por que votei em quem votei. Digo que quero que se mantenha o ritmo de crescimento do País dos últimos anos. Que quero a manutenção da obra - que está em andamento - para a construção de uma sociedade livre, que seja mais justa e mais solidária. Digo ao meu filho que, pela minha formação e pela que procuro dar a ele, quero a continuação do trabalho que vem sendo feito para acabar com a pobreza. E, não fosse por princípios, só o fato de hoje eu ser empresário me obrigaria a ver com entusiasmo tudo isso, que é o que me possibilita viabilizar e fazer crescer a editora que publica esta revista. Digo a ele que sei que há muitos problemas, mas que acredito que também há muitas soluções. Que, sim, concordo, há muita bobagem sendo feita, mas que nossa obrigação é cobrar providências. Exigir soluções. Digo ao Felipe que votei em Dilma Rousseff, a candidata do Lula, e que vou repetir o voto no segundo turno. Explico a ele que assim o fiz porque espero que se dê continuidade a um trabalho e a um gerenciamento que permitiu o crescimento na área econômica e social. Que quero a continuação do respeito conquistado pelo Brasil no resto do mundo. Quero, por exemplo, viajar - como acontece agora, quando escrevo este texto de Frankfurt, na Alemanha, onde vim a uma feira de publicações - e ler, no Financial Times, bem destacada no meio de uma página, a frase: "Countries have been asking Brazil for advice on how it undertook its reforms". "Países têm se consultado com o Brasil sobre como ele procedeu a suas reformas", em um caderno especial sobre governança corporativa. Isso sem falar nas famosas capas da The Economist, como a do Cristo Redentor decolando, nem nas já rotineiras edições especiais que saíram e saem na imprensa internacional, sobre o Brasil, um País que hoje está muito além do samba e do futebol.
Digo, e ele sabe, que justamente isso é o que não está acontecendo nesse tiroteio pré-eleitoral que estamos assistindo. Há tudo menos clareza nessa guerra que tem como munição mensagens eletrônicas que se aproveitam do anonimato para criar boatos e espalhar mentiras das quais não há quem consiga se defender. Não há tranquilidade na decisão de um jornal em se vangloriar de assumir uma posição política e de declarar seu voto e, ao mesmo tempo, afastar, demitir, trocar - seja lá o que for - uma colaboradora que pensa e escreve de maneira diferente. Digo ao meu filho que esta revista que seu pai está construindo pretende manter o propósito de defender um Brasil que respeite as diferenças, coisa que faz desde seu primeiro número. Diferenças raciais, religiosas, de opinião, de opções sexuais e, principalmente neste momento, políticas. Acrescento que não é bom chegar a conclusões apressadas, movidas por informações dúbias ou não checadas. Como na questão do aborto que parece ter tirado votos da candidata Dilma. Digo que defendo que o que importa para um presidente não seriam suas posições de foro íntimo, mas sim, a sua disposição para aceitar opiniões diversas das suas ou mesmo ter a disposição de colocá-las em discussão. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, já pagou preço injusto pelo fato de ter sido induzido a declarar que não acreditava em Deus. Ou de não ter sido suficientemente claro sobre a questão. O que, digamos, tem pouca importância. Importância estava, sim, na disposição que ele mostrou ter, quando Presidente da República, própria de um democrata. Disposição que o postulante deve ter em promover o respeito em quem acredite e em quem não acredite em Deus. Em quem defenda ou em quem não defenda o direito ao aborto. E que proporcione garantias para a discussão do assunto. O que é um pouco da essência de uma democracia. Se é o que queremos. Portanto, que se definam as regras do jogo. E se realmente é democracia o que queremos é bom respeitar as diferenças. Ver matéria |
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