Contra-poder e 4º poder

(Mariano Grondona  -La Nacion, 03) 


1.  Para a presidente da Argentina e para o presidente da CGT, o jornalismo é sempre militante. Se milita a favor do governo, como fazem os jornalistas e os donos dos jornais financiados pelo governo, é governista. Se milita contra o governo, é oposição. Esta nítida divisão ignora o verdadeiro papel do jornalismo independente, cuja função em uma democracia é a crítica, mas não a “oposição”.

2. Existe um abismo entre ambos os conceitos. Exercer a crítica é o dever do jornalismo independente frente a qualquer governo, de qualquer tipo. Porque o chamado "quarto poder" não é propriamente um "poder" no mesmo plano que o Executivo, o Legislativo ou o Judiciário, mas um “contra poder” cuja missão é prevenir e combater os excessos do governo, tão comuns em uma "democracia autoritária" como ainda é a nossa, para consolidar essa república equilibrada, que deve ser o objetivo de nossa república imperfeita, em defesa da liberdade dos cidadãos, hoje ameaçada pelo Leviatã estatal.

3. Para ilustrar essa distinção basta ver como se comportam os supostos "jornalistas" do governo, que são escolhidos no rol da militância pró governo para serem não jornalistas, mas propagandistas a serviço do Leviatã. Este desvio conceitual que supõe que "todo" jornalismo é militante, contém uma armadilha para atrair os jornalistas independentes para o precipício do jornalismo de "oposição". Também os opositores, perfeitamente legítimos em uma democracia republicana, utilizam a crítica para questionar o governo.

4. Nada disto acontece com o jornalismo independente, para o qual a crítica não é um meio para “chegar” ao poder, mas um fim em si mesmo, cuja missão é “conter” o poder, não importa quem o exerça, em prol do equilíbrio republicano. Por isso é fácil que os políticos possam se confundir quando coincidem as críticas da imprensa ao governo, ao não atentar para o fato de que, embora jornalistas e opositores possam coincidir em um trecho do processo político, os verdadeiros jornalistas irão se afastar imediatamente desta coincidência, para proteger sua vocação, quando a oposição se transformar no portador de um novo governo.

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