No depoimento de um líder comunitario tudo aquilo que a mídia omite
Nesse sábado, dia 25, voltei à favela do Jacarezinho, que conheci em 1975, em plena resistência conta a ditadura. Nessa época, os bairros do Jacaré e Maria da Graça, onde fica a comunidade, formavam o principal parque metalúrgico do Rio de Janeiro. Os grupos mais politizados participavam da Chapa Amarela. Alguns jornais diziam ser aquele o "Moscozinho brasieiro". Só a General Eletric empregava mais de 7 mil operários, boa parte morando ali mesmo, na vizinhança separada por um muro com portão de acesso direto. A partir de 1982, passei a conviver mais assiduamente com aqueles moradores, primeiro como coordenador das Administrações Regionais da Zona Norte. Depois como Secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio de Janeiro, cargo que ocupei por duas vezes.
Embora fosse uma das 450 comunidades atendidas pela SMDS, o Jacarezinho sempre me impressionou pela lucidez de algumas lideranças. Mesmo com a decadência do parque metalúrgico, que se tornou obsoleto, essa comunidade sobreviveu como referência, inclusive em nível de escolaridade. Graças à minha atuação, tanto no Executivo como no Legislativo, o Poder Público se fez presente, principalmente no governo Brizola, que implantou dois CIEPs e várias escolas menores. Coube a mim a instalação de creches e programas voltados para o crescimento dos jovens. Um convênio com o Banco do Brasil, em 1990, garantiu o recrutamento de 600 adolescentes favelados, 200 dos quais do Jacarezinho. Durante o tempo e que acompanhava de perto, nunca ouvi uma queixa do banco. Muitos desses jovens hoje estão bem encaminhados profissionalmente, alguns fizeram faculdades. Minha maior obra foi a canalização do rio Jacaré, que acabou com as enchentes lá. Desde a década de 70 o BID havia disponibilizado U$ 1,8 milhão dólares para essa obra, para a qual a Prefeitura entraria com 20% das despesas totais.
Mesmo com esses recursos, os governos não sabiam como ou não tinham vontade política, já que o projeto implicava na remoção de centenas de casas da beira do rio. Refiz o projeto, reduzindo de 40 para 15 metros do centro do rio a faixa atingida e negociei com a Riourbe a construção do Conjunto de 900 casas-embriões que denominei Nelson Mandela, nas proximidades. Depois, ao lado, fiz o Conjunto Samora Machel, que chamam hoje de "Mandela-2". Para enfrentar o problema da falta d`água, já como vereador, fiz emenda para o projeto Favela-Bairro construir no alto d morro um reservatório de 1 milhão de litros.
E fiz muitas outras coisas que seria enfadonho relacionar. A partir de 2009, quando , já sem mandato, meu corpo não respondia aos desafios de longas caminhadas no morro – sou obeso, como todos sabem – recolhi-me quase exclusivamente ao computador, oferecendo minhas opiniões pela internet.
Achava que já havia dado minha contribuição as causas em que acreditava. Contudo, dezenas de pessoas têm reclamado da minha ausência nas grandes lutas. Eu mesmo sinto que estar na batalha me dar vida e prazer.
Com uma população estimada de 80 milhões de habitantes, a segunda maior favela do Rio de Janeiro tem cerca de 60 ruas e becos, mais de 800 estabelecimentos comerciais. Tinha estado no dia 11 na localidade chamada Esperança, no meio do morro. Nessa visita do dia 25, entrei pela Av. Dom Helder Câmara e fui até a Praça da Concórdia, onde a Prefeitura construiu na administração passada o que seria o irradiador de uma CÉLULA URBANA. Nessa, contou com dinheiro de uma fundação alemã.
Convidei o professor Marcos Vilaça, dirigente do PSB, e subsecretário de Ciência e Tecnologia da Prefeitura. Foi muito bom levá-lo para que ele visse com seus próprios olhos o estado de abandono em que se encontra hoje a comunidade. Estado e Prefeitura parecem que a punem por ter sido ela um dos mais fortes redutos do brizolismo. E concentraram todas as suas ações na implantação de UPP, com a qual o tráfico vai para a clandestinidade, mas continua e ainda diversifica suas ações criminosas. Fomos recebidos por alguns líderes locais: Rumba Gabriel, "Jamaica" e "Betinho", todos com um histórico de contribuição às conquistas daquela época.
Formado em Teologia e Comunicação Social , e estudando atualmente Direito, Rumba Gabriel é quem está tentando dar vida ao prédio, cujo único serviço hoje é uma lan house mantida pelo jovem Fábio, um profissional da área de informática. No fina l, fizemos uma reunião. A exposição de Rumba Gabriel foi incisiva. Gravei parte dela e produzi um filme para o You Tube.
O que escrevi aqui é apenas uma introdução a essa "reportagem" que chamei de O MORRO PEDE A PALAVRA. Sinceramente, se você quiser entender melhor a realidade das comunidades populares, sugiro que veja o filme de 12 minutos no You Tube. Veja e reflita comigo. Eu já decidi voltar ao convívio daquele povo trabalhador, infelizmente tratado desonestamente pelos políticos, que só aparecem lá nos períodos de eleições e derramam muita grana para amealhar os votos de eleitores vulneráveis.Sei das minhas limitações físicas, mas vou para o sacrifício enquanto puder. Se você quiser, terei muito prazer ter su a companhia no trabalho que voltarei a fazer.
Pedro Porfírio
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