Sigilo de documentos: este é um país que vai pra frente

É claro que todos os percalços fazem parte da caminhada de cada um e da grande marcha de uma sociedade e que, portanto, são importantes no processo de aprendizado. Mas e quando a lição já foi entendida e a lembrança, não resolvida, continua a martelar nosso cotidiano?
Dia desses, trouxe aqui a história de Maria Francisca Cruz, uma “quase” viúva. Seu marido foi trabalhar na Amazônia, deixando para trás sete filhos e o silêncio. Enveredou-se por outro colo? Está preso? Tem medo de voltar? Falam que morreu tentando fugir de uma fazenda… Quem sabe? O problema é que dor maior não é saber que acabou. É não ter certeza disso.
Acordar de manhã sem alguns pressupostos básicos é angustiante. Imagine, então, aguardar o retorno de alguém que nunca aparece. Conheço gente cujos pais foram sumidos pela Gloriosa. A família parou no tempo, porta-retratos não saem do mesmo lugar em que estavam desde quando ainda éramos 90 milhões em ação.
O governo brasileiro resolveu não mais tentar buscar a revisão da Lei da Anistia. Mais do que punir torturadores, seria uma ótima forma de colocar pontos-finais em muitas das histórias em aberto e fazer com que pessoas tivessem, pela primeira vez em décadas, uma noite de sono inteira. A Presidência da República diz que vai investir suas fichas na Comissão da Verdade, que deve ser criada pelo Congresso Nacional. Deputados? Senadores? Sei… Ao mesmo tempo, o governo insiste em manter trancados a sete chaves documentos considerados ultrassecretos, além de inventar desculpa atrás de desculpa para não vomitar os arquivos da ditadura. Garantindo que açougueiros daquele tempo, como o Coronel Ustra, possam continuar reinventando a história como quiserem, pois a prova dos nove está encaixotada em algum lugar.
Em nome de uma suposta estabilidade institucional, o passado não resolvido permanece nos assombrando. E me incomoda menos o país como um todo e mais o olhar perdido da mãe de um amigo que, da janela, permanece a esperar.
Isso tudo com a ajuda de colegas jornalistas, que esqueceram que a função primeira da profissão não é ajudar restolhos da ditadura sob a justificativa de garantir estabilidade institucional, mas trazer à tona o que está submerso. Repetem ad nauseam: “Não é hora de mexer nesse assunto”. Falam em longo prazo. Mas, no longo prazo, todos estaremos mortos.
Em dezembro passado, a Corte Interamericana de Direitos Humanos concluiu que o Brasil é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas entre os anos de 1972 e 1974, durante a Guerrilha do Araguaia. Disse que a Lei da Anistia impedem o acesso à verdade dos fatos e pediu que ela fosse revista. Nesse caso, o Supremo Tribunal Federal deu de ombros.
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