O que se passa no "reino sagrado" do Banco Central?

Algo está se passando no reino sagrado do Banco Central. Vale a pena ler a ata do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) a respeito de sua última reunião para tentar entender um pouco mais a instituição.
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Literalmente, o BC, afirma que: “a partir do quarto trimestre, o cenário (no Brasil) indica tendência declinante para a inflação acumulada em doze meses, ou seja, deslocando-se na direção da trajetória de metas.”

“O IPCA variou 0,47% em maio, ante 0,77% em abril, de acordo com os dados divulgados pelo IBGE. Já, os preços livres aumentaram 6,80% no acumulado em doze meses até maio, ante 6,84% em abril.”

Consolidação fiscal
“Desde o início deste ano, importantes decisões foram tomadas e executadas, e reforçam a visão de que está em curso um processo de consolidação fiscal.”

“A demanda doméstica se apresenta robusta, em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão do crédito.”

É o próprio Banco Central quem frisa boas notícias sobre a economia brasileira: “o PIB cresceu 1,3% no primeiro trimestre de 2011, ante o trimestre imediatamente anterior, considerando dados com ajuste sazonal, segundo informações divulgadas pelo IBGE. Sob a ótica da oferta, todos os setores apresentaram variação positiva nessa base de comparação, com destaque para o crescimento do setor primário, 3,3%, seguido da indústria, 2,2%, e dos serviços, 1,1%.”

O BC fala do persistente crescimento do emprego: “a taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), sem ajuste sazonal, passou de 6,5% em março para 6,4% em abril, inferior aos 7,3% registrados em abril de 2010”.  Também cita os 272,2 mil postos de trabalhos criados em abril, segundo os dados do Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (CAGED).

Nível de incerteza
No entanto, o Copom afirma que “reconhece um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza acima do usual”. O Comitê identifica, portanto, “riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta (de inflação).”

Segundo o documento divulgado hoje, “considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012.”

Enfim, conclui que, “nesse contexto, dando seguimento ao processo de ajuste gradual das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,25% a.a., sem viés.”

Calafrios
O exercício da leitura dessa ata me provoca calafrios. Dela depreende-se um Banco Central que trabalha contra o crescimento. Ainda que admita vários sinais importantes da tendência de queda da inflação e de robustez da economia, frisa “o ritmo incerto” em que nos encontraríamos.

Ou seja, pelo BC, a inflação pode ou não cair, apesar de todo arrocho. E se continuar a crescer, isso pode significar mais juros altos, mais custo do serviço da dívida, menos crescimento. Mas, para nosso BC a confiança dos empresários e consumidores é um obstáculo para o seu objetivo supremo: uma inflação no centro da meta. Isso, mesmo quando a Grã Bretanha e os Estados Unidos não estão nem aí para a inflação. As duas nações fazem de tudo para crescer – até emitir moeda. Isso mesmo, papel. O que se passa no Banco Central do Brasil?