O episódio Casino-Pão de Açúcar forneceu um bom álibi para discutir a visão estratégica do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Nos últimos anos o BNDES deu um salto fundamental, aumentando seu capital de forma exponencial. E terá papel central na próxima década, para sustentar os grandes investimentos que o país demanda.
Mas é necessário dar foco à sua atuação. Faria bem o presidente Luciano Coutinho em abrir uma discussão interna para repor o banco no caminho correto.
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Inicialmente, o BNDES era apenas de fomento, de financiamento. A partir dos anos 90 passou a investir no capital das empresas, através do BNDESPar (BNDES Participações). Esse modelo surgiu na gestão Luiz Carlos Mendonça de Barros, encolheu na gestão Carlos Lessa e voltou a crescer na gestão Demian Fiocca.
A lógica era simples. Com a economia se recuperando, o país exigiria grandes investimentos – seja em infra-estrutura ou na internacionalização das empresas brasileiras. Havia limites em ampará-las apenas com financiamento. As empresas ficariam muito "alavancadas" (isto é, com muito passivo) atrapalhando sua avaliação pelas agências de risco e dificultando a captação em outras fontes. Decidiu-se então uma fórmula que casasse os financiamentos com a participação acionária.
Mas em todos esses momentos prevaleceu uma regra: todo esforço do banco deveria ser no sentido de agregar capacidade produtiva ao país. Por isso mesmo, não deveria apoiar projetos de fusão – que não agrega capacidade de produção.
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Fusões e aquisições se justificariam apenas em duas ocasiões especialíssimas.
A primeira, quando houvesse risco de quebra de uma grande empresa. Nesse caso o banco poderia financiar candidatos a compradores.
Foi assim quando apoiou a venda da Aracruz para o grupo Votorantim, impedindo a quebra da empresa.
Aliás, é curioso que O Globo tenha dedicado críticas a esta operação, em tudo similar à injeção de capital adicional do BNDESPar na Net – ameaçada de quebra durante a crise financeira das Organizações Globo.
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A segunda exceção é em compras de ativos no exterior, dentro de estratégias de internacionalização das empresas brasileiras. Não há maneira mais eficiente de entrar em outros países do que comprar operações existentes – ainda mais em períodos de crise, com os ativos estrangeiros depreciados.
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Fora essas duas situações especiais, não há justificativa para o banco financiar fusões e aquisições. Não havia nada na operação Pão de Açúcar-Casino que justificasse sua interferência. Sequer seria adquirida a operação internacional do Carrefour. A operação permitiria apenas a Abílio Diniz manter sua posição de controlador na operação brasileira.
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Passado o episódio, com todo desgaste inútil que provocou, é hora do banco se debruçar sobre suas prioridades: o apoio aos setores estratégicos, definidos no PDP (Programa de Desenvolvimento Produtivo), o foco na inovação, a ênfase nas pequenas e médias empresas, os grandes investimentos em infra-estrutura.
por Luis Nassif
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