Imagine determinado produto no País A e no País B. No primeiro, ele custa 100; no segundo, 115. Se nada for feito pelo governo do País B, os produtos do País A invadirão sua economia e matarão os produtores locais.
O País B pode instituir uma tarifa de importação de, digamos, 30%. Importado, o produto do País A passará a custar 100 + 30 de impostos = 130.
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Há muitas outras maneiras de um país fortalecer seus produtos. Pode conceder financiamentos subsidiados, dar incentivos fiscais e outras formas de compensação. A Organização Mundial do Comércio (OMC) surgiu para disciplinar essas relações comerciais entre os países e tem obtido relativo sucesso.
Só que não tem alçada para coibir a forma mais disseminada de subsídio: a política cambial, ou seja, o valor de uma moeda em relação à moeda de outro país.
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Voltemos ao exemplo. Suponha que ambos os países tenham um produto que custe 100. E que o País B imponha uma tarifa de importação de 15 sobre o produto do País A.
Imagine que A$ seja a moeda do País A e B$ a do país B. Em um primeiro momento A$1 = B$1. Portanto um produto de A$ 100 valerá B$ 100. Impondo uma tarifa de importação de 15%, o produto custará B$ 115,00 no País B.
Aí o País A revolve desvalorizar sua moeda em 30%. Então A$ 130 = B$ 100. Ou B$ 76,92 = A$ 100. Se o País A vender por B$ 76,92 para o País B, continuará recebendo os mesmos A$ 100 que recebia antes. Se sobre esse valor coloca-se uma tarifa de importação de 15%, o produto chegará ao País B por B$ 88,5 - 11,5% a menos do que os produtos locais.
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Principal negociadora brasileira na OMC (Organização Mundial do Comércio), Vera Thorstensen, da Escola de Economia da FGV-SP soltou um trabalho com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) tentando mensurar esses dois efeitos - tarifas de importação mais câmbio – de 2008 para cá.
Os resultados são desanimadores. Somando as desvalorizações cambiais da China e dos Estados Unidos e a valorização cambial do Brasil, é como se todas nossas tarifas de importação fossem negativas.
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Analisando os dados de 2008 para cá, por exemplo, percebe-se que a tarifa média ponderada das importações brasileiras é de 8,8%. Quando se aplica a valorização do real, a tarifa ajustada pelo câmbio cai para -23,8%. Ou seja, hoje em dia importar tornou-se 23,8% mais barato do que em 2008.
Por outro lado, as tarifas médias ponderada de importação da China são de 4,3%. Mas somando-se a desvalorização cambial do período, é como se fosse de 25,2%. No caso dos Estados Unidos, a tarifa média é de 2%. Com o fator câmbio, salta para 12,2%.
"Todo um arsenal utilizado nos últimos 60 anos se tornou ineficaz por conta das desvalorizações e valorizações. Como o câmbio é responsabilidade do FMI e comércio, da OMC, e as duas casas não se falam, eles não estudam o efeito dessa nova realidade", explicou Vera.
E o Brasil continua fazendo vistas grossas para a guerra cambial.
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