por Alon Feurwerker

A presidente da República vem numa escalada de reconcentração de poder. É um movimento sistólico, lógico, diante da herança recebida. Herdada de um governo pulverizado. É também fonte de tensão com os aliados. E com o próprio PT.

Mas os políticos não são amadores. Diz a velha máxima brasiliense que os ingênuos ficaram nas suplências. A razão de uma certa instabilidade não é Dilma tomar o manche do governo dela. Ninguém se espanta com isso.

A encrenca alimenta-se de as pessoas não saberem qual é a norma que vale. De acharem que as regras para uns e outros são muito diferentes. Pois alguns são mais iguais que os outros.

Uma “revolução dos bichos”. Um governo orwelliano.

Das coisas que minam a autoridade do líder, toma destaque a falta de regras razoavelmente claras no sistema de punições e recompensas.

Por exemplo na reação governamental a acusações trazidas pela imprensa. 

Num dia a fúria do poder abate-se sobre os acusados, como aconteceu ao Partido da República. Noutro, o desagrado dirige-se ao jornalismo que revela confusões do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

Não há aqui juízo de valor. Apenas se constata que o tratamento em um caso foi um e no outro é outro.

Num dia a PF é  instrumento insubstituível para conter as irregularidades no governo. Doa a quem doer. Noutro, vaza-se desconforto por a instituição atacar pontos políticos sensíveis.

Um parêntese. Foi inaceitável o episódio das fotos vazadas dos investigados no Turismo. As autoridades dizem que tomarão providências.

O episódio é um sintoma de descontrole tático.

Já a bagunça estratégica poderá nascer da dúvida sobre a regra do jogo. Sobre o que está valendo e o que não. E para quem. E em que caso.

Como se manifestará essa bagunça? Talvez com o governo deixando pedaços pelo caminho. Como foi no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, por motivos diversos.

Quando se instalou a lógica do cada um por si e Deus por ninguém.

É um risco para Dilma, ainda mais numa época de incerteza econômica. Mesmo que no começo o risco pareça negligenciável.

Na aritmética da base parlamentar a presidente tem muita reserva para queimar. Excesso.

Só que quando o processo de desagregação se instala e adquire certa velocidade, ganha dinâmica própria.

Mas Dilma possui margem. Um trunfo dela vem sendo a capacidade, até agora, de estar no lado simpático das polarizações. De empurrar a cada round o oponente para as cordas das teses indefensáveis.

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A exploração de situações constrangedoras relacionadas à corrupção dá um gás para quem tem a missão de se opor ao governo.

É assim ao longo destes anos, em que a vida reservou ao PSDB o posto de oposição.

Mas agora a conjuntura ficou mais complexa.

Pois não vai dar para fazer contra Dilma uma campanha eleitoral acusando a eventual candidata à reeleição de ter governado de mãos dadas com os malfeitos. 

Ou com os malfeitores.

É uma mudança e tanto.

O que desafia a oposição a buscar um discurso articulado na esfera das grandes políticas de governo.

Exatamente o que não se vê até agora. 

Um comentário:

  1. Dilma Rousseff tem dois caminhos a seguir: Ou abandona o caminho da corrupção e o fisiologismo ou faz um governo democrático e ético de braços dados com o povo que busca um Brasil com políticos mais éticos e honestos.

    Enfrentar o PR, um partido pequeno e inexpressivo foi fácil. Agora enfrentar o PMDB é outra história.

    Dilma tem demonstrado que não pretende enfrentar o PMDB. Vai continuar de mãos dadas com a corrupção e o fisiologismo.

    Portanto vai continuar tudo na mesma.

    O povo está acordando. Não cai mais no canto da sereia da demagogia. Está vendo que no governo Dilma existem dois pesos e duas medidas. Partidos pequenos da base aliada recebem um tipo de tratamento, Dilma jogando para a torcida para tentar passar uma imagem de combate a corrução.

    Outra atitude é quando se trata do PT e do PMDB, aí ela se mostra conivente com a corrupção e a falta de ética.

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