SONATA DO CIÚME



“Amo-te, burilada estrofe do meu poema!
Amo essa estranha luz dos teus olhos felinos,
A carnadura branca, e esse rosado trema
Dos bicos de coral dos seios pequeninos.
Vives nos bronzes nus, nos mármores e argilas,
Sublime inspiradora e modelo de Telas!
Ao teu corpo a estesia da grande arte destilas,
E ela ruge, em estuar frenético, em procelas.
És uma filigrana estética e confusa...
E para conhecer de todo os teus adornos,
É preciso sondar – luz altiva e difusa,
A serpiginação febril dos teus contornos.
Os teus contornos, sim, curva esgalga do peito,
O modelado tronco, as pernas modeladas
Põe essa mão, Espírito de Eleito,
Que fez os poemas de Ouro, a Noite e as Madrugadas.
És para um sonhador – um Mármore de Páros.
E eu, artista que sou de uma loucura fátua,
Firo, espanco, castigo o camartelo. E os raros
Traços do meu Ciúme esplendem numa Estátua.
O traçado acentuo. E eis que fulges perfeita
Como Vênus surgiu de entre as ondas revoltas...
O meu delírio atinge a Epopeia desfeita
De uma Rosa infeliz de pétalas já soltas.
E tudo pelo Ciúme. Embalde é que me esforço
Para contê-lo, assim, sufocada a Maldade
Que outra coisa não é que a sombra do Remorso
Na roupagem febril de um pouco de Saudade.”

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