Se pudessem, os políticos ganhariam eleições sem disputá-las
O famoso encontro entre Lula e Paulo Maluf, que selou o apoio do PP à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, enseja diversas discussões a respeito de nosso sistema político.
É uma boa oportunidade para avaliar um aspecto dele do qual nem sempre nos apercebemos, relativo ao modo como as campanhas eleitorais são concebidas e organizadas.
No Brasil, como em qualquer lugar, elas obedecem a uma lógica pouco usual: ao contrário de seguir a regra da economicidade - em que se busca o mínimo dispêndio de recursos para a consecução dos fins pretendidos -, prevalece o princípio da redundância.
Em outras palavras, mobilizam-se mais recursos que os necessários para alcançar os objetivos estabelecidos. Investe-se além do que é racionalmente exigido.
No episódio paulista, isso ficou claro no debate sobre o tempo de propaganda eleitoral que o PT ganhou aliando-se a Maluf.
Para espanto quase universal, Lula se dispôs a um "sacrifício de imagem" significativo - posando ao lado de um político contra quem pesam graves denúncias - para receber, em troca, míseros 1min36s de televisão. Valeria a pena? Haddad precisava tanto desse adicional de tempo?
A base do raciocínio é quanto a candidatura já dispunha, em função das coligações "naturais" firmadas com partidos progressistas e de esquerda – como o PSB e o PCdoB. Somando-se o tempo do PT ao dessas legendas, Haddad já não teria o suficiente para alcançar a visibilidade de uma candidatura competitiva?
Para quem não vive diretamente a política, talvez. Daí a dificuldade de muitas pessoas - até mesmo observadores experientes - entender o gesto do ex-presidente. Se Haddad não precisava, se não era "questão de vida ou morte", por quê?
O caso é que os políticos não pensam, no que se refere às campanhas em que estão envolvidos, como as pessoas comuns. Não raciocinam com o princípio do "mínimo necessário", mas com o do "máximo possível". Preferem a redundância - mesmo que implique gasto elevado de recursos (nos quais se inclui o "capital de imagem") -, ao menor risco de insuficiência.
Antes desperdiçar que faltar.
Não são apenas as campanhas eleitorais que são assim administradas. Coisa parecida ocorre em outras dimensões da vida social - algumas muito mais caras que a política. Na guerra, por exemplo (que, aliás, não deixa de ter parentesco com ela).
Os militares não planejam o que fazer baseados no "mínimo indispensável" a derrotar o inimigo. Como sabemos estudando a história, se puderem, lançam sobre seus alvos o dobro, o triplo, quatro vezes mais ataques que isso. Buscam a certeza da vitória.
Os políticos são parecidos - quem quer que sejam, de que partido forem.
Nesta altura do ano, em que os últimos lances da pré-campanha para as sucessões municipais estão sendo jogados, vemos exemplos disso em toda parte. Os candidatos lutam para obter o máximo – em termos de apoios políticos, tempo de televisão, cabos eleitorais, dinheiro. Só ficam satisfeitos com o que têm se não conseguirem aumentá-lo.
No domingo, Eduardo Paes (PMDB) definiu sua candidatura à reeleição no Rio de Janeiro. Contará com 19 partidos.
Para que 19?
Por duas razões: porque não chegou a 20 (ou mais, pois, como todo político, prefeririaganhar sem sequer ter que disputar) e porque são 19 partidos que não apoiarão os adversários.
Um leigo talvez dissesse a Lula que não precisava de Maluf. Um profissional - como Serra - nunca lhe diria isso.
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