O que está por trás do golpe contra Lugo

O desastre ocorrido em Curuguaty, próximo da fronteira com o Brasil, em que morreram 18 pessoas, sendo 11 militantes sem terra e sete policiais, merecia um destino diferente do esquecimento. Serviria como advertência do que pode ocorrer quando se entrecruzam concentração de renda e um Estado débil.  A propriedade está ocupada há alguns anos por cerca de 500 famílias. Foram recebidos à bala e devolveram o fogo.
      
O confronto gerou uma crise institucional: caiu o ministro do Interior e o chefe da polícia, a oposição tenta articular um pedido de impeachment contra o presidente Fernando Lugo, e os ruralistas irão promover um "tratoraço" na segunda-feira.  O que aconteceu no Paraguai foi uma reforma agrária às avessas: em 1991, 1,5% dos proprietários controlavam 81,3% da superfície. Com o advento da soja, a concentração não diminuiu. Segundo dados da coordenadoria nacional de direitos humanos do Paraguai, em 2008 2% das propriedades somavam 78% das terras.      
O Paraguai é o paraíso do Estado mínimo. Segundo dados do Banco Central local, a carga tributária atual é de 13% sobre o PIB, a mais baixa da América do Sul.  De acordo com um levantamento da Cepal divulgado no ano passado, 69% dos lares paraguaios não contam atualmente com nenhum mecanismo de proteção social.       
Em seus quatro anos de governo, o resultado da gestão de Lugo parece apagado. O presidente tornou-se foco de atenções por suas vicissitudes pessoais, como filhos do tempo de celibato reconhecidos tardiamente. Seu maior sucesso administrativo foi conseguir do Brasil a renegociação da venda da energia elétrica de Itaipu. 
      
A estratégia de tocar um programa de reforma agrária com a compra de terras não funcionou. Os conflitos rurais, que caíram entre 2008 e 2010, voltaram a crescer no ano passado. Sem ter o que oferecer aos movimentos organizados, Lugo não os atende e não os reprime.  
      
A anemia do Estado no Paraguai faz com que o poder público vá perdendo o seu poder mediador em meio a conflitos.  Um incipiente movimento insurgente, o Exército do Povo Paraguaio, tenta se estruturar desde o governo anterior a Lugo.  De acordo com o que o próprio adido da Polícia Federal no Paraguai afirmou no ano passado, as principais organizações criminosas brasileiras estão presentes no país vizinho.

César Felicio

Comentários

  1. Converso fiada de quem não respeita a democracia.

    O congresso Paraguaio foi livre e democráticamente eleito pelo povo paraguaio e tem a mesma legitimidade de Lugo.

    O Congresso Paraguaio, representante da maioria do povo Paraguaio está cumprindo o seu dever constitucional.

    O governo brasileiro tem que aprender a respeitar a soberania e a democracia em outros países.

    Como eu disse anteriormente, demorou ao Briguilino assumir a posição do PT.

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