Porque a vida é assim


Um monte de porquês
A. CAPIBARIBE NETO - capi@globo.com

Sem querer ser repetitivo, mas sendo, já disse algumas vezes que tudo na vida se resume em dois "porquês": um, escrito separado, precisa de um sinal de interrogação, por que é o que pergunta; e o escrito junto, é o que responde. Pode até ser que as perguntas sejam indiscretas, indevidas, imbecilizadas, fora de hora, constrangedoras, inocentes, maliciosas, mas quem pergunta quer saber, tem uma razão que pode transcender a uma simples curiosidade e mergulhe nas águas perigosas das segundas intenções. Quem responde pode inventar uma resposta, fugir pela tangente, começar com o "veja bem" tão em moda, responder com uma mentira, uma insinuação ou com outra pergunta. Todo mundo quer saber quem ganhou, quem perdeu, com que gastou, por que comprou, por que vendeu, se foi golpe do baú, se é Maria chuteira, se entrou, se saiu, se deixou lá, rendendo juros, se é corno, se já foi, se foi demitido, se pediu demissão, por que foi demitido, se foi contratado, se roubou, se faz parte do mensalão, enfim, um mundo de coisas, incluindo-se aí até as milhares de milhares de perguntas, sobre o Bóson de Higgs, a Teoria da Relatividade do Einstein, o espaço, as estrelas, a origem de tudo, se Deus existe, se o pastor obra realmente milagres ou se é um embusteiro e o que faz com o dinheiro inocente dos carentes de um rumo. Tudo pode ser perguntado, mas bem menos pode ou deve ser respondido.

"O que está acontecendo com você, Adamastor?" - pergunta indiscreta quando o Adamastor no caso não conseguiu comparecer e deixou a mulher vencida na mão, literalmente. "Isso nunca aconteceu comigo antes" é apenas uma frase solta, evasiva, uma viela das respostas, uma fuga. 

"Cadê o dinheiro que estava aqui?" "Não tenho a menor ideia" - respondido assim, com a maior cara de pau do mundo. 

"Senhor Cachoeira, o senhor roubou tudo o quanto dizem que o senhor passou a mão?" "Veja bem, doutor..." e a resposta está implícita mas não é explicita ou, mais grave, "reservo-me o direito constitucional de permanecer calado", embora tenha sido tão falante ao telefone enquanto engendrava suas ideias para lesar os outros ou o cofre farto, padrinho e madrinha dessa grande nação. Indo por essa linha, comecei a fazer-me mil perguntas...

No princípio, pensei que podia mentir. Não deu. Senti vergonha de olhar-me no espelho porque encontrei um brilho incriminatório próprio do óleo de Peroba. Era muita cara-de-pau querer mentir para mim mesmo. Quando me dei as respostas certas assumi meus próprios dedos acusadores e me fiz promessas de nunca mais repetir, embora nesse contexto específico esteja uma mentira distante. "A ocasião é que faz o ladrão", mas isso não significa tacitamente que se trate de um roubo, mas de uma oportunidade de pecar igual, do mesmo jeito que ficou pendurado num arrependimento descoberto numa confissão íntima. No fundo, no fundo mesmo, cada bandido do colarinho branco sabe por que está sendo tão desnudado diante do País inteiro, os Nardonis sabem por que estão presos; só não sabe de nada é quem já morreu, mas morrer tem uma causa, nem que seja de velhice. Morreu porque foi flagrado pelo marido cuja mulher ele estava terceirizando, porque a parada não deu certo, porque estava acima do limite de velocidade, porque bebeu e foi dirigir pensando que era imortal, essas coisas. 

A vida é um festival de perguntas e um concerto de respostas às vezes enfadonhas e pouco convincentes. "Por que estou escrevendo sobre perguntas e respostas?" Sei lá, deu vontade. Por que você está perguntando?" Veja bem, você conhece a Silviamara? - Quem? Eu sabia, mas me fiz de surpreso, principalmente porque... É a vida. 

Por que a vida é assim?

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