Faz mais de dez anos que José Serra reage da mesma maneira a qualquer questão mais complexa, a qualquer pergunta minimamente incômoda de jornalistas, a qualquer cobrança suas atitudes: isto é coisa do PT.
Cola? Colou durante certo tempo, quando o discurso único da mídia era tratar os temas políticas como a luta do bem contra o mal - e o mal ser "coisa do PT". Usando esse bordão, Serra conseguiu se lançar candidato em 2010, promovendo a mais suja campanha da história política brasileira. Agora, na campanha para prefeito, tentou-se de todas as maneiras atribuir sua taxa de rejeição a fatores menores. Teria rejeição por já ter sido candidato antes; teria rejeição porque renunciou na prefeitura; teria rejeição porque era "coisa do PT".
Ora, tem rejeição por ser Serra.
Recorro ao meu universo de pesquisas familiares.
Na Vila Maria, minha tia Clelinha, que nunca foi militante de nenhum partido, me dizia no início da campanha: "Sobrinho, cada vez que o Serra aparece na TV fico com o estômago embrulhado e preciso mudar de canal".
A razão era a mesma que fez minha tia Mirian, da pequeníssima São Sebastião da Grama, definir Serra como "dissimulado". "Sobrinho, mas como esse Serra é dissimulado com aquela história de rezar a toda hora".
Na campanha de 2010, perguntei à minha filha Bibi, então com 12 anos, o que achava da campanha de Serra. E ela: "Papai, ele entra na casa das pessoas, pega uma Bíblia e começa a rezar! Será que ele faz isso quando não aparece na televisão".
Nos campos mais intelectualizados, então, nem se conta. Dia desses conversava com um membro do Cebrap, o grande centro de pesquisas berço do pensamento progressista abraçado por FHC, antes de ser eleito. Serra não conservou um amigo. Praticamente todos romperam com ele, sentindo-se traídos quando apelou para o uso abusivo de temas religiosos e morais. Outro grande amigo seu, da Unicamp, antes do livro "A privataria tucana" considerava a radicalização de Serra como "burrice política". Depois que leu o livro percebeu que tinha lógica com a história que até então desconhecia.
O próprio Estadão, em editorial, culpou essa exploração da fé, do preconceito, do atraso, como o responsável por sua derrota.
Por tudo isso, insistir em dar espaço para Serra, no PSDB, seria definitivamente "coisa do PT". Seria assinar o atestado de óbito de um partido que já não está nada bem de saúde.
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