O que você chama de "aparelhismo dirceniano" e sua suposta oposição com outros setores do partido, não é focado apenas nesta personificação - que julgo simplista -.
É nossa clássica dicotomia - também errada para mim, mas positiva no sentido que existe como realidade, e não como eu imagino - de partidos de quadros ou partidos de massas, esta última noção, construída por quem detinha o poder do capital político-eleitoral e, ou sindical. Já os primeiros, detinham o capital do controle das estruturas de poder burocrático.
Embora seja em parte verdadeira sua divisão, até para fins pedagógicos de quem não conhece muito estes aspectos orgânicos de vida partidária, ainda mais do PT, ela nem sempre se manifesta de forma tão linear e límpida assim.
Ora, a expressão de Lula e seu poder pouco iria adiante sem o controle de esferas de poder partidário, que ele não gostava, ou melhor: não queria ter(até para se colocar como acima do conflitos que depois teria que mediar, e isto também é uma expressão de poder para dentro e para fora do partido), e ele delegou a outros para disputar ou compor com os donatários burocráticos, o que nem sempre coloca tais atores como colidentes, mas como concorrentes, convergentes e complementares até.
Não há falcões e pombas somente, mas falcões que se vestem de pombas, e vice-versa.
Olhando os EEUU, como matiz e "matrix" política, onde enviesados copiamos processos, como ratificação da dominação cultural que substitui os processos desejáveis de troca(sim, trocas, para que não me digam xenófobo) ainda que assimétricas, mas trocas e não imposições, como foi até FHC, eu diria que a foxistinização - já que tá na moda colocar este sufixo, ou seja, sufixistinização de tudo, rs - da mídia por lá, e por aqui, já começa a dar mostras que não confere um capital político coeso que se revele alternativa real de poder, pela natureza desagregadora que carrega de forma intrínseca, e pelos meios de contra-hegemonia hoje disponíveis, e incontroláveis.
Um admirável velho mundo novo.
Eu não colocaria o PT e seus (rui)falcões como beneficiários de crises, embora em ambientes onde o voto(capital eleitoral da visão partido de massas) seja qualitativamente mais vulnerável como arma(como são as cruzadas morais, e outras crises, etc), por dois motivos, um empírico, e outro apriorístico:
01- Foi o Zé e sua ala de falcões que comeram mais sal na crise e sua agudização.
02- Não há capital de massa(voto), recentemente no país(e isto é traço de "evolução" ou maturação institucional) sem partidos, e Lula e Dilma confirmam, como a ausência de um nome forte de oposição idem, sendo o PSDB e DEM espectros sombrios das estruturas partidárias que mantiveram.
No caso da mídia, há um limite: o bolso! Esta ali na esquina a hora de que os governos comecem a alterar os estruturas de concentração econômica que resultam em poder de coerção, se bem que hoje, muito menos poder, se considerarmos que em 89 uma edição influenciou uma eleição de um candidato gerado quase que na sua totalidade como um fenômeno de comunicação, organicamente falando, (ufa, ainda bem) e hoje, o máximo que fazem é destruir reputação(o que não é pouco).
Dilma não mexeu porque:
01- Está testando o ensaio argentino, esperando o comportamento de lá, e o daqui, ou seja, vingando lá, sem tropeços ou soluços golpistas, a possibilidade, como uma espada de Dâmocles fica suspensa.
02- Deste modo, de forma legítima, sem traumas, ela fica com uma carta para contrapor outra carta que a mídia sempre acena como arma: a instigação de golpes brancos(jurídicos) ou golpes propriamente ditos. Cristina e sua lei de médios é o fiel, e não é à toa que Dilma tem sido tão paciente com as diatribes cambiais e protecionistas dela, e tenha ido a Argentina recentemente, quando havia uma cúpula para ela estar.
O "perigo" para o Brasil, que hoje foi colocado por você como símbolo de pacificação, mas eu chamaria de pax, é esta convergência para o centro, com a dissipação de diferenças ideológicas e de identidade partidária, dissolvendo partidos ideologicamente clivados por noções de resultados gerenciais, serviços, etc.
Ora, aceitando que a origem das desigualdades não se dissipa, e que a superação delas arrisca o sistema capitalista, principal depositário destas diferenças(e que joga politicamente com níveis "aceitáveis" de tolerância destas pelas sociedades), seria muito ruim, porque nestes universos de pax institucional centrista, as forças conservadoras se rearticulam e destroçam todas as conquistas, impondo suas lógicas de exclusão.
História não se repete como farsa, eu sei, mas este é o risco, que hoje a Europa parece "saborear" como amrga sobremesa a "centralização" partidária e política.
Camarada, grato pela repercussão.
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