Por um dia melhor


Todo mundo tem um dia ruim. E, depois de um corte de cabelo que deu errado, uma prova muito difícil ou uma briga com o irmão, é comum correr para o Facebook em busca de apoio. É justamente aí que entra o Exército da Curtição, uma comunidade criada na rede social com o objetivo de tornar o dia das pessoas melhor, por meio de “curtidas” e comentários amigáveis.
A dinâmica é simples. Os “comandantes” da comunidade definem data e horário da intervenção. Neste dia, espera-se que o maior número possível de membros esteja online para realizar a tarefa. Em seguida, escolhem um desconhecido que tenha postado naquele dia uma mensagem com conteúdo que demande consolo ou incentivo. Aí começa o trabalho dos recrutados: curtir a publicação o maior número de vezes e fazer muitos comentários agradáveis. O objetivo é conseguir que o “alvo” interaja positivamente com eles, dando a certeza de que o dia do escolhido ficou um pouquinho melhor.
Foi exatamente assim com o empresário Adaílton J. Santos. Depois de um dia difícil no emprego, ele postou uma frase em sua página. Em poucos minutos, recebeu 47 curtidas e 55 comentários. “No começo, levei um susto e fiquei desconfiado. De onde eram todas aquelas pessoas? Não conhecia ninguém! Mas depois que entendi e vi que eram só coisas positivas, levei na esportiva”, explicou o alvo. A missão foi considerada um sucesso quando Adaílton postou nos comentários agradecendo a trupe por fazer seu dia melhor.
Acreditamos no poder das redes sociais, pois elas conectam as pessoas e pessoas conectadas são capazes de coisas incríveis
Por um dia melhor

A ideia do Exército da Curtição partiu do publicitário carioca Marcos Malagris, 26 anos, inspirado nos flash mobs da vida real (ações combinadas pela internet que levam um grupo a fazer uma ação qualquer, reunindo-se rapidamente e dispersando-se pouco depois). Logo ele recebeu o apoio de colegas de trabalho, também entusiastas das redes sociais, que ajudaram a divulgar a página entre os conhecidos. Em poucos dias o “exército” já contava com 600 membros e uma média de 100 pessoas participando de cada uma das “missões”. A intenção é criar um coletivo de pessoas “do bem”, que espalhe mensagens positivas pela rede, fazendo o dia das pessoas melhor. “Acreditamos no poder das redes sociais, pois elas conectam as pessoas e pessoas conectadas são capazes de coisas incríveis. Nossa vontade é levar a gentileza para o Facebook, tornando as mídias sociais mais humanas”, explica Marcos.
Os “soldados” são, em geral, trazidos por amigos que indicam a comunidade. Foi assim com o publicitário Igor Lanceiro, 23 anos, fã declarado do Facebook e conectado 24 horas por dia. Segundo ele, o que o levou a participar do exército foi “poder praticar o bem a alguém sem sair de casa, através de uma rede social, onde você pode atingir o maior número de pessoas”. Em geral, quem participa aprova a iniciativa. O turismólogo Rafael Arantes, 26, diz que a sensação após as missões é empolgante, não importa o feedback do alvo. “Seria interessante vermos a cara da pessoa no momento em que ela visse tantos comentários de desconhecidos”, diz.
Duas personalidades
Nem sempre, no entanto, a expressão do “alvo” seria amigável. Apesar das boas intenções, as ações do grupo podem ser mal-interpretadas. Algumas pessoas se sentem invadidas e já aconteceu de apagarem a postagem assim que a intervenção teve início. A desconfiança gerada pela abordagem de um desconhecido via rede social é tão grande quando a popularidade do Facebook no Brasil, onde o site tem mais de 66,5 milhões de usuários. Durante esta matéria, alvos indicados pelos organizadores não quiseram dar entrevista e outros sequer retornaram os contatos do repórter.
“É normal. São duas personalidades. No mundo virtual, as pessoas são completamente diferentes do contato real. O que elas colocam no mundo virtual deve permanecer ali e não ultrapassar esta barreira, senão elas ficam arredias, incomodadas”, comenta a gestora de mídias sociais Elaine Rodrigues Vale, responsável por gerenciar páginas de grandes empresas. “O princípio é simples: não faça com a timeline dos outros o que não gostaria que fizessem com a sua. Respeite as opiniões contrárias”, explica Gil Giardelli, professor de mídias sociais na ESPM, autor do livro “Você É o que Você Compartilha” (Editora Gente).

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