Recomendo a todos a entrevista do jornalista Raimundo Pereira na edição deste mês do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Com o título “Precisamos de uma imprensa onde sejamos patrões de nós mesmos” , ele volta a apontar falhas na AP 470, chamada pela imprensa de julgamento do mensalão.
Pereira, com uma carreira altamente conceituada e respeitada, já vem tratado do julgamento em sua revista, Retrato do Brasil, desde o ano passado. (clique aqui para ver mais) . Ele vem expondo documentos, dados e informações mostrando como, em suas próprias palavras, foi dada “vida à invenção de Roberto Jefferson”.
No entanto, com raras exceções, a imprensa continua ignorando essas reportagens da Retrato do Brasil que desvelam o caráter político e de exceção do julgamento da AP 470, com provas e mais provas de que não houve desvio de recursos da Visanet. E provas de que estes recursos são privados, e não públicos. Assim, não houve peculato e muito menos formação de quadrilha e corrupção ativa e passiva.
Na entrevista ao Unidade, Raimundo Pereira diz que, "até agora, a despeito de todo o trabalho que fizemos, não conseguimos ainda que a imprensa oficial, o rádio e a televisão públicos, cujo estatuto exige a apresentação de múltiplos pontos de vista sobre as questões relevantes, nos ouvisse para divulgar, com os meios que tem, que são expressivos, os fatos extremamente importantes que temos levantado". Ele atribui isso a "um grande consenso político" para condenar os réus.
“A grande mídia mais conservadora tem um ponto de vista político claro e escolhe seus editores de forma a que eles orientem suas publicações dentro de determinados parâmetros que garantem a defesa desses pontos de vista. Mas as redações e os jornalistas têm certa autonomia dentro desses limites. Além do mais, há publicações com orientação política mais progressista do que essa grande mídia que também não deram importância ao nosso trabalho, nem estão apoiando nossa linha de investigação. Como já disse, a própria imprensa oficial não deu, até agora, importância aos fatos, extremamente graves, que relatamos.”
Raimundo Pereira faz um rápido resumo do extenso material publicado pela revista: “Fomos os primeiros a descobrir que Henrique Pizzolato, o petista que era diretor de Comunicação e Marketing do Banco do Brasil, e acusado de comandar um desvio de R$ 73,8 milhões da empresa para o esquema do mensalão, era inocente. Localizamos nos autos e estudamos preliminarmente os mais de cem apensos da auditoria feita sobre esses desvios. Mostramos que existiam e existem, é claro, amplíssimas provas de que o dinheiro não foi desviado mas, sim, aplicado efetivamente para a realização de serviços de promoção de vendas de cartões de bandeira Visa do banco. Para nós ruiu então a viga mestra do mensalão, a do desvio de dinheiro público para comprar deputados”.