Ainda lembro, nos tempos de criança, dos castelos de areia que construía perto das ondas das praias mansas para as quais meu pai me levava vez por outra. Juntava areia com as duas mãos e ia juntando, camada após camada, até que o montinho ficasse parecido com um castelo. Como nesse tempo não havia televisão, meu "castelo" parecia com o das princesas dos contos de fada dos livros da minha infância. Uma vez, juntei tanta areia molhada que o castelo ficou enorme. Por um momento, imaginei a princesa dos livros dentro dele e a imagem ficou tão forte que saí correndo e fui chamar meu pai para mostrar a ele... Mas quando o alcancei e apontei para o lugar onde o havia construído, o castelo estava desmoronando por uma onda brincalhona da maré que começava a encher... Tempos depois, muito tempo depois, em uma praia deserta, para onde fui para um momento de reflexões adultas, sentei-me em uma faixa generosa de areia, distante das ondas, essas mais afoitas e ameaçadoras, e enquanto catava paz passeando com os olhos sobre a linha do horizonte do mar de esmeralda, fiquei-me a brincar com a areia pouco úmida e, com a ajuda de um palito de picolé, comecei a construir um castelo com formas mais definidas. Consegui, com a paciência de quem precisa encher o tempo e afastar lembranças magoadas, a fazer até mesmo uma torre. Nem sei quanto tempo levei, mas o suficiente para sentir que o sol curioso já me espiava com luz mais forte a me queimar a pele. Ficou bonito, o castelo! Ri de mim mesmo e do menino em que eu me via naquele momento, e aí, fui depressa catar a máquina fotográfica para imortalizá-lo. E quando ia chegando perto, vi a onda enorme que se formou pela força do vento que faz a maré mostrar a sua força quando enche. A onda subiu, subiu e depois perdeu o equilíbrio e caiu pesada, espatifando-se em espuma que correu depressa até o meu castelo.
Não tive tempo para os ajustes de velocidade do obturador, da abertura do diafragma ou de foco, e ali, bem diante dos meus olhos, meu castelo sumiu e a onda traquinas correu de volta para o mar escondendo-se na areia como por encanto. Nunca mais construí outro castelo de areia. Construí outros, no pensamento, enquanto divagava por entre os espaços onde tudo é possível quando se dorme pensando muito em uma coisa que se deseja com ardor ou no sono que advém a uma canseira depois de uma dessas agonias das insônias que roubam a paz do descanso do corpo e da alma. Adultos constroem seus castelos mesmo sem se dar conta e ainda sem se dar conta os veem ruir porque seus pensamentos carecem de estrutura ou porque suas paredes foram construídas com argamassa contaminadas pelos receios, medos, covardias e pavores de contextos complicados. A vida é cheia de castelos que construimos muito próximos de onde as ondas arrebentam pontualmente, sem nos apercebermos de que as marés não perdoam...
Capibaribe A. Neto
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