A hora e a vez dos sem médicos

A notícia espetaculosa de que dois presidentes de conselhos regionais de medicina renunciaram só para não ter que assinar as licenças para médicos estrangeiros trabalharem onde os brasileiros recusam é apenas a ponta do iceberg de um sistema de saúde de profissionais formados para subordinar o atendimento aos interesses do complexo empresarial do ramo.

Na verdade, não é aos profissionais pátrios que servem esses obsoletos conselhos corporativos em sua insana, desumana, mesquinha, hipócrita, inglória e odienta campanha para manter milhões de brasileiros sem médicos, pelo crime de não se enquadrarem nos perfis do mercado da

Nessa orquestração dolosa o que se pretende proteger é um sistema mercantil e corrupto, formatado como subproduto de uma ditadura que fomentou a privatização do ensino e dos serviços médicos, introduzindo a terceirização que facilita a fraude, os extorsivos planos de saúde e aniquilando o sistema público que era modelar nos tempos dos IAPs e do SAMDU.

Isso está cada vez mais claro nas atitudes arbitrárias de alguns controladores desses conselhos, no confronto cego com a opinião pública, inclusive de muitos colegas que já começam a dar demonstração de que estão envergonhados diante de práticas tão deletérias, com a exibição da mais sádica insensibilidade, permeada de demonstrações sórdidas como o corredor polonês que alguns médicos fizeram no Ceará para insultar seus colegas cubanos

e até mesmo de renúncias psicóticas e suspeitas.

Colegas que vêm de um país onde os índices de saúde dão um banho nos nossos e, em alguns casos, até mesmo nas grandes potências, país pequeno mas indomável, onde a saúde pública alcança rigorosamente (e bem) a todos os seus habitantes, apesar do boicote econômico cruel e imoral que sofre do vizinho todo poderoso.

De tão ignominiosa é essa resistência que os brasileiros, como eu, já começam a temer pelo atendimento prestado, inclusive aos 40 milhões que se sentem obrigados a pagar caríssimos planos privados, tal a imagem que brota de toda uma classe que lida com o mais sagrado de nossos bens, a vida.

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