Dilma se consolidou para milhões de brasileiros não como uma presidenta, exatamente, mas como uma mãe.
Daí seu prestígio. Se Dilma tem um favoritismo amplo para se reeleger em 2014, talvez já no primeiro turno, isso se deve, em grande parte, à aura maternal que os brasileiros enxergam nela.
A chamada voz rouca das ruas confia que ela, como uma mãe zelosa, estará cuidando de seus interesses. Sempre.
Joões e Marias foram bombardeados, nos últimos dias, com complexas discussões a respeito do modelo de exploração do Campo de Libra. Ouviram também as mais variadas interpretações sobre o extraordinário sucesso, ou o fenomenal fracasso, do leilão de Libra.
Em circunstâncias normais, reinaria entre os brasileiros uma confusão inextricável. Como aquele padeiro que depois de ouvir um magnífico voto no mensalão perguntou se o juiz condenara ou absolvera o réu, os brasileiros não saberiam se era o caso de festejar ou lamentar o leilão.
Mas acima de todo o debate pairou, para eles, a figura maternal e tranquilizadora de Dilma. Em decisões difíceis, todo filho confia que a mãe analisou cada coisa positiva e cada coisa negativa antes de se definir.
Se a mãe está dizendo que o leilão foi bom é porque foi bom, para Joões e Marias. Se a mãe está dizendo que a riqueza nacional foi preservada é porque foi.
Presidentes que alcançam a dimensão de ser vistos como pais ou mães são especialmente duros de enfrentar nas urnas. Na Alemanha, Merkel é mãe para muitos. Na Venezuela, Chávez foi pai para muitos. No Brasil, antes de Dilma, Lula foi também pai para muitos.
Podemos ficar momentaneamente bravos com a mãe, mas logo a desculpamos. Em junho, os brasileiros ficaram bravos com Dilma. Chegaram a vaiá-la num jogo de futebol. Mas, como mostram as pesquisas, logo foram perdoando.
Do lado oposto, a aura estereotipada de padrasto – alguém distante, antipático e cheio de si — não ajuda muito candidatos a voos altos. Ninguém preenche melhor esse estereótipo do que Serra.
Quem se sente filho de Serra? Ele parece estar muito acima do cidadão da rua: outro vocabulário, outras roupas, outras prioridades. E uma torrencial soberba que o levou, recentemente, a dizer que presidente não tem que aprender nada, ao contrário do que Dilma sugeriu quando afirmou que a cada dia conhecia coisas novas.
Pergunte a Joões e Marias o que eles acham da frase de Serra. Com acerto, vão dizer que ele está dizendo que sabe tudo e, por isso, é o melhor candidato à presidência. A rejeição a Serra se explica na rejeição que todos temos ao estereótipo do padrasto – aquele homem que nos suporta, no máximo.
Aécio é, no imaginário popular, basicamente um playboy, um eterno adolescente. Podemos querê-lo como companhia numa festa ou numa mesa de bar, mas tememos entregar nosso destino a ele porque não o julgamos suficientemente responsável. Ele é o irmão festeiro que todos temos, mas para virar presidente teria que ser um pai aplicado.
Eduardo Campos, por enquanto, não é nada. Ou retificando: é o irmão ambicioso, aquele que nem bem entrou numa empresa já faz planos para a presidi-la. Tem muita ambição, mas será que tem na mesma quantidade talento para materializá-la?
É um executivo que leu sobre a importância das alianças, e foi buscá-la numa outra executiva. Acontece que essa outra executiva quer o mesmo cargo. Isso quer dizer que chegamos a ela, Marina.
Na metáfora familiar, Marina é aquela tia carola que acha que com orações Deus pode realizar todos os pedidos. Mas se os brasileiros entenderem que os pedidos da tia são para ela mesma – o Planalto – podem não dar muita atenção a ela.
Em meio a tudo isso está a mãe, batalhadora e presente para seus filhos, mesmo não sendo necessariamente brilhante. Mas isso não chega a ser um problema: filhos exigem carinho e atenção da mãe, muito mais que brilhantismo.
E é por tudo isso que Dilma já é, virtualmente, presidenta por mais um mandato a se iniciar em 2015.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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