San Francisco, Estados Unidos:
Caminho por um parque com meu editor americano, John Loudon, e sua mulher, Sharon. Podemos ver a cidade de San Francisco ao longe, iluminada pelo Sol poente. Sharon escreveu um livro sobre um mosteiro beneditino, e conta que as orações da tarde, chamadas "vésperas", são cantos de esperança pela certeza de que a noite passará.
- As vésperas nos indicam a necessidade que temos de nos aproximar do outro, quando a noite chega - diz ela. - Mas nossa sociedade esqueceu a importância desta aproximação, e finge prezar muito a capacidade que cada um tem de lidar com as próprias dificuldades. Não rezamos mais juntos; escondemos nossa solidão como se fosse vergonhoso admiti-la.
Sharon faz uma pausa, e conclui:
- Já fui assim. Até que um dia perdi o medo de depender do próximo, porque descobri que ele também estava precisando de mim.
Brive, França
Um aprendiz de ocultismo que conheço, na esperança de impressionar bem o seu mestre, leu alguns manuais de magia e resolveu comprar os materiais indicados nos textos.
Com muita dificuldade, conseguiu determinado tipo de incenso, alguns talismãs, uma estrutura de madeira com caracteres sagrados escritos numa ordem determinada. Vendo isto, o mestre comentou:
- Você acredita que, enrolando fios de computador no pescoço, conseguirá ter a sabedoria da máquina? Acredita que, ao comprar chapéus e roupas sofisticadas, vai adquirir também o bom-gosto e a sofisticação de quem as criou? Aprenda a usar os objetos como aliados, não como guias.
Kawaguchiko, Japão
Conheci a pintora Miie Tamaki durante um seminário sobre Energia Feminina. Perguntei qual a sua religião.
- Não tenho mais religião - ela respondeu.
Notando, a minha surpresa, explicou:
- Fui educada para ser budista. Os monges me ensinaram que o caminho espiritual é uma constante renúncia: temos que superar nossa inveja, nosso ódio, nossas angústias de fé, nossos desejos.
"Consegui me livrar de tudo isto, até que um dia meu coração ficou vazio: os pecados tinham ido embora, e minha natureza humana também". "No início fiquei contente, mas percebi que já não compartilhava das alegrias e paixões das pessoas à minha volta. Foi então que larguei a religião: hoje tenho meus conflitos, meus momentos de raiva e de desespero, mas sei que estou de novo perto dos homens - e consequentemente perto de Deus".
Lourdes, França
Quando eu me encontrava fazendo o caminho de Roma, um dos quatro caminhos sagrados de minha tradição mágica, me dei conta - depois de quase vinte dias praticamente sozinho - que estava muito pior do que quando havia começado. Com a solidão, comecei a ter sentimentos mesquinhos, amargos, ignóbeis.
Procurei a guia do caminho, e comentei o fato. Disse que, ao iniciar aquela peregrinação, achei que ia me aproximar de Deus: entretanto, depois de três semanas, estava me sentindo muito pior.
- Você está melhor, não se preocupe - disse ela. - Na verdade, quando acendemos a luz interior, a primeira coisa que vemos são as teias de aranha e a poeira, nossos pontos fracos. Eles já estavam ali, só que você não estava vendo nada, porque estava escuro. Agora ficou mais fácil limpar sua alma.
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