Quer dizer que você debocha do “pleno emprego de dois salários-mínimos”, não é?
R$ 1.448, nem 1.500 reais, uma merreca, não é? Menos do que gasta numa boa “balada”…
Não dá para trocar os pneus de seu carro.
Mas é o que muita gente tem – e dá graças a Deus – para se sustentar e juntando com o da mulher ou o do marido, tem uma vida minimamente digna e muito dura.
Muito, muitíssimo mais digna e certamente menos dura do que a que tinha com o mentor de Aécio, o FHC, quando este era o país do “pleno desemprego” e o último salário mínimo que ele fixou era de R$200.
Em dinheiro de hoje, Seu Aécio, R$ 420. Isso mesmo, corrigidinho pela inflação do IPCA.
72% de aumento real.
Dois salários? R$ 840, pouco mais que um só de hoje
E tinha gente, muita gente, desesperada por um salário destes, para não passar fome.
Se o senhor esqueceu, o trabalhador lembra.
Por isso, não reclame quando os que ganham dois salários mínimos acharem que o senhor acha o emprego deles uma porcaria.
Sabe, eles são apenas três entre cada quatro trabalhadores brasileiros.
São as domésticas, os operários de construção, os balconistas, as caixas de supermercado, os auxiliares de escritório, os carregadores, os boiadeiros e os lavradores, os zeladores, os faxineiros, os escriturários, os pintores, os bombeiros hidráulicos, os frentistas de posto de gasolina, a imensa maioria dos servidores públicos.
Inclusive os professores estaduais de Minas Gerais, com nível superior, em início de carreira.
(Mentira minha, senador, eles ganham mais. Sete reais e trinta centavos a mais que dois salários mínimos: R$ 1455,30.)
Como o senhor vê, Senador, um bocado de gente.
E um bocado de gente com os empregos que o senhor acha desprezíveis.
E que os empresários, seus amigos, acham “muito caros”, um desastre para a “competitividade”.
São uma multidão que um fia foi chamada de ”os marmiteiros”…
O seu avô Tancredo não lhe contou esta história?
Pois o Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da direita, a UDN, após a derrubada de Getúlio Vargas, teria dito que não precisava do voto dos marmiteiros.
Meu avô, aliás, era um marmiteiro, que saía de trem de madrugada de Realengo, na “zona rural” do Rio de Janeiro, para pintar paredes na Zona Sul carioca, levando a marmitinha de metal embrulhada num pano de prato.
Pois não é que os marmiteiros fizeram o Brigadeiro despencar, quando esta história se espalhou?
Na sua cabecinha elitista não passa que o problema não é ganhar dois salários mínimos, mas o salário mínimo ainda ser baixo.
Embora esteja subindo, senador, como jamais subiu desde que o velho Getúlio o instituiu.
O Brasil, senador, não é uma rua do Leblon, onde o senhor farreie.
O Brasil é um país de gente mal-paga, simples e trabalhadora, como era meu avô, marmiteiro.
Que precisa e está trabalhando, empregada.
No pleno emprego de dois salários-mínimos, ou até menos, onde ele pôde formar a filha numa escola Normal e ela, com seu salário de professora, pôde comprar a primeira geladeira da casa modesta.
Pois fique sabendo, Senador, que são os marmiteiros do pleno emprego que vão eleger o Presidente da República.
E que, por isso mesmo, não será o senhor.
PS. Aliás, nem agora, nem em 2018, quando a gente vai botar o retrato do velho outra vez, botar no mesmo lugar.
por Fernando Brito
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