Por mais racional, frio, calculista que sejamos ou, aparentemente indiferente, cada um de nós carrega a história de um vazio dentro do peito. Deixei de levar em conta a troça que fizeram da agonia do vazio que se instalou dentro de mim quando o chão que sumiu de repente, bem debaixo dos pés. A confusão que se estabelece dentro do coração exangue não obedece ao comandos de qualquer mínimo de bom senso. Da vontade de aparentar um "nem aí" comum, passando pela vontade de morrer e outras emoções igualmente fortes, não sobra uma alternativa que não seja momentaneamente tola e ridícula. Às vezes é melhor guardar o soluço, sufocá-lo no peito a escolher alguém para desabafar. Se pensássemos bem, a despedida que nos deixa do lado mais fraco, pensaríamos: "um dia ainda vou rir muito disso"...
Certa vez, inadvertidamente, abri as malas com cheiro de mofo, cheias de velhas cartas, bilhetes e fotografias e mostrei a uma amiga mais experiente. Pacientemente, ela escutou as histórias de algumas delas e viu as fotos. Eram histórias quase iguais, todas envolviam um homem e uma mulher. Começavam sempre com um primeiro olhar, um primeiro abraço, beijo, entrega, depois, descambavam para o meio e fim. Só mudavam os nomes e alguns até eram exatamente iguais. Marias? Muitas... De repente, ela parou me olhou nos olhos e disse: "Lixo! Tudo lixo. Não serve para nada... Lixo! É passado! Joga tudo fora...!
" Bem, de uma certa forma, aquilo que alguém viveu e se deu conta depois que não serve mais para nada, pode ser lixo mesmo. O tempo não volta, a fila anda. Não adianta morrer por quem não vai mais voltar a nos encher de diminutivos, chamando-nos de meu amorzinho, por aí... Em momentos assim, é preciso não voltar a abrir aquela janela através da qual um estranho pode ver nosso coração despedaçado, sangrando a quase morrer. Só muito depois nos damos conta do ridículo que fomos ao expor as nossas mazelas sentimentais. Tinha razão a amiga quando chamou de lixo o conteúdo desses vazios Mas esse lixo tem o seu contexto limitado pela simples razão de não servir de nada, no seu sentido mais profundo, mas para um escritor, um poeta, um romântico inveterado e repetitivo, as histórias de cada amor ou paixão, caso, aventura, o que seja, sempre serve para alguma coisa. No mínimo, para encher uma página de memórias ou simplesmente dar um nome a cada rosto em diversas fotografias desbotadas que um dia tiveram vida e importância e colocá-las, respeitosamente, sobre os túmulos vazios com seus respectivos nomes. Mesmo que não sirvam para nada no futuro, de alguma coisa serviram lá atrás, em certos momentos do passado quando à falta de melhor escolha, enchemos o tempo com certas passagens.
Um espaço vazio tem sempre alguma coisa em volta para lhe dar um mínimo de forma.
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