Aécio é o mamulengo da Ofélia da política brasileira

Nos anos 70 e 80, quando recomeçaram as manifestações estudantis, havia um tipo popular nas universidades paulistas, especialmente na USP e na Unicamp. Eram aqueles estudantes grandalhões e com raciocínio lento que as lideranças colocavam na linha de frente das manifestações para levar porradas em nome delas.

Fernando Henrique Cardoso é "malaco" - esperto, como ele gosta de se autodenominar e aprendeu na escola uspiana. E conseguiu o seu grandão da hora: o candidato derrotado à presidência da República Aécio Neves.

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Antes de avançar, é preciso situar melhor o quadro atual do PSDB.

O ecossistema tucano é rachado por múltiplas divisões, unidas por uma única bandeira - o antipetismo - e dividido por inúmeras ambições simultâneas, especialmente na banda paulista.

Por exemplo, o candidato a vice de Aécio, Aloysio Nunes, era aliado de José Serra, mas vivia reclamando pelos cantos que Serra só pensava nele. FHC e Serra sempre menosprezaram Geraldo Alckmin, que não tem a menor confiança em ambos.

Tem o próprio Serra comandando uma tribo de vikings da terceira idade. Tem FHC, pairando acima das paixões banais. E tem Aécio, o único forasteiro.

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Alckmin foi o grande vencedor das últimas eleições, vencendo no primeiro turno para governador e assegurando a maior votação para Aécio em todo o país. Se não se afogar na crise da água, a partir de janeiro será o candidato certo do partido para 2018.

Serra deve ter aberto mão da ambição de voltar a ser candidato, mas é o mais eficiente operador do PSDB nas sombras. Já FHC não tem nenhuma ambição da vida, a não ser a eterna revanche contra Lula, botando fogo no circo.

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Por "botar fogo" entenda-se colocar lenha na fogueira da radicalização, no Congresso e nas ruas, preparando o terreno para o relatório de Gilmar Mendes sobre as contas eleitorais de Dilma e do PT.

E quem seria o grandão a ser colocado na linha de frente? Dez tostões para quem adivinhar.

Até as eleições, a principal qualidade de Aécio era a diplomacia, a capacidade de negociação e uma simpatia pessoal que desarmava até adversários.

Na campanha, ficou grande no presente, montado nos seus 50 milhões de votos, e uma incógnita no futuro, tendo perdido Minas e não dispondo de nenhum cargo executivo.

Aí vem FHC, com todo o maquiavelismo que aprendeu nos livros de política mas, acima de tudo, no ambiente  da USP, e empurra o grandão Aécio para a linha de frente.

Mais esperto, Serra escondeu-se nas sombras e não dá um pio, enquanto Aécio gorjeia dia sim, dia não.

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É muito difícil que se consiga o impeachment de Dilma por irregularidades no financiamento de campanha, mas Gilmar tratará de procurar Fiats Elbas na prestação de contas. Na hipótese de conseguir, o preço do mandato de Dilma será a condenação de Aécio, com perda de mandato e de direitos políticos pelos mesmos vícios apontados. Troca-se uma presidente com mandato por um senador da oposição.

Se não conseguir o impeachment de Dilma, Aécio perde; se conseguir, perde duplamente. Aí, talvez, caia tardiamente a ficha de Aécio, quando lhe restar apenas a co-liderança dos pitbulls, em parceria com Lobão.

Enquanto isto, Alckmin, o primário, o tosco - segundo FHC - vai comendo pelas bordas, mostrando bom senso e capacidade de negociar.

Texto de Luis Nassif

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